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Elefanta Ramba chega ao Brasil e segue para “aposentadoria”

Animal de 3,6 toneladas chegou às 6h ao Aeroporto de Viracopos; depois, seguiu em comboio para Mato Grosso

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1 de 1 editada-31 - Foto: Divulgação/ Pixabay

Depois de quase três décadas trabalhando como “artista” em circos, a elefanta asiática Ramba, de ao menos 53 anos, chegou ao Brasil, nesta quarta-feira (16/10/2019), para uma merecida aposentadoria. A passageira ilustre, com seus 3,6 mil quilos, desembarcou às 6 horas no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo, três horas depois de partir do aeroporto de Santiago, no Chile, a bordo de um Boeing 747-400.

Ramba foi trazida no interior de uma caixa de quase 6 toneladas, com água, alimentação, temperatura controlada e câmeras internas de monitoramento. A elefanta passou pelos trâmites da Receita Federal, foi inspecionada por técnicos do Ibama e recebeu uma guia de transporte expedida por funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Às 9h da manhã, Ramba seguiu em comboio rodoviário para o Santuário de Elefantes do Brasil, uma reserva de 1,1 mil hectares, em Chapada dos Guimarães (MT).

A viagem internacional marca um novo capítulo na história da elefanta que nasceu selvagem e foi domesticada para ser atração circense. A maratona, iniciada em Rancágua, a 90 km de Santiago, deve terminar somente na noite de quinta ou manhã de sexta-feira, com a chegada de Ramba ao destino. De acordo com o biólogo Daniel Moura, diretor do santuário, quem vai definir o tempo da viagem é a própria Ramba. “Seria bom que ela ficasse o menor tempo possível em viagem, mas como é um animal que vem de uma vida de sofrimento, vamos respeitar as vontades dela. Programamos de oito a dez paradas para o descanso, mas podem ser mais ou menos, dependendo de como ela estiver”, disse.

No percurso de 1.500 quilômetros, Ramba vai ter água à vontade e será alimentada com feno, frutas e legumes, além de suplementos. Se quiser, terá direito a caminhadas em fazendas ao longo do trajeto, que já estão de preparadas para essa eventualidade. Além do caminhão-guincho da empresa Porto Seguro, que cedeu o transporte, uma equipe de apoio incluindo uma veterinária e o presidente do santuário, Scott Blais, seguem com o comboio, escoltado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Aparato
A chegada de Ramba movimentou os bastidores do aeroporto de Viracopos, que em 59 anos de história, já recebeu baleia, onça, canguru, avestruzes, boiadas inteiras, mas nunca tinha recebido um elefante. A operação de desembarque mobilizou cerca de 30 pessoas. Após um voo de três horas, Ramba chegou um pouco agitada, segundo o presidente do santuário, Scott Blais, que estava com ela no avião. “Ela sente que não está com os pés em terra firme e fica um pouco nervosa, mas logo se acalma”, disse.

A caixa foi retirada do avião pela porta lateral, desceu de guindaste-empilhadeira e seguiu para o setor de cargas. Funcionários da concessionária do aeroporto abriram uma faixa com os dizeres: “Ramba, seja bem-vinda ao Brasil. Viracopos te recebe de braços abertos”. O contêiner foi aberto para higienização, mas Ramba permaneceu no interior. O gerente de operações de carga Ricardo Luize, disse que a recepção a Ramba vinha sendo preparada há três meses. “Foi tudo articulado em detalhes para que ela ficasse no terminal apenas o tempo necessário para os trâmites.”

A voluntária Tina Leão conta que foram necessários vários dias para convencer Ramba a entrar na caixa, preparada com exclusividade para ela. O ambiente interno, embora com grades de contenção, foi desenhado com o molde do corpo e formas anatômicas da elefanta. O comedouro e o bebedouro ficaram em compartimento de fácil acesso. “Ramba viajou muito com circos pela Argentina, Chile e outros países, por isso se acostumou às viagens, embora da pior forma possível. Nós usamos de estímulos suaves para atraí-la para a caixa, com palavras carinhosas e comida que ela ama, como melancia e isotônico vermelho. Cada vez que ela entrava, ganhava um estímulo positivo”, contou.

No santuário, a elefanta será recebida pelas novas companheiras Maia e Rana, que já vivem ali. A caixa será aberta em uma baia forrada com areia para que Ramba possa ter contato com o chão. De acordo com o biólogo, desse local ela poderá avistar as companheiras. “As duas estão bem adaptadas e a companhia pode ser boa para elas. Se houver algo que indique alguma tensão, a gente vai esperar para colocar Ramba com as outras. Também vamos avaliar as condições de saúde e iniciar os tratamentos. Queremos que ela tenha vida longa.”

Maus-tratos
A idade de Ramba é incerta, calculando-se que tenha entre 53 e 60 anos. Em liberdade, um elefante vive até 80 anos, mas o cativeiro pode reduzir essa previsão. Conhecida como a última elefanta de circo do Chile, Ramba foi comprada na Ásia e levada para a Argentina na década de 80. Durante três décadas, ela viajou de caminhão, presa a correntes, para ser vista pelas plateias. Em 1997, o animal foi confiscado do circo “Los Tachuelas” pelo Serviço Agrícola e Pecuário do Chile, devido às denúncias de negligência e maus tratos.

Embora proibido de usá-la em apresentações, o circo continuou como depositário até a elefanta ser resgatada, em 2011, pela ONG Ecópolis de proteção aos animais, e levada para Rancágua. A entidade, que atua com outros animais silvestres e tem pouca experiência com elefantes, acabou entrando em contato com o santuário brasileiro.

De acordo com a voluntária Valéria Mindel, a elefanta continuava sofrendo com o rigor do inverno chileno e com a solidão. O santuário abriu um financiamento coletivo no Brasil e nos Estados Unidos para custear a transferência e contou com apoio de empresas para o transporte de Ramba. A entrada da elefanta no país foi autorizada pelo Ibama. O aeroporto de Viracopos não cobrou taxas alfandegárias.

Quando a reportagem perguntou ao presidente do santuário, Scott Blair, qual a sua formação, ele respondeu que era apenas formado em elefantes. Aos 46 anos, o cidadão americano dedica sua vida a esses animais. Ramba é o 36º elefante resgatado por Scott e sua mulher, Katherine Blais, e transferido para os santuários espalhados pelo mundo.

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