“Ele só vai preso se eu estiver desfigurada?”, diz agredida por marido
Ministério Público não atendeu o pedido da polícia para prender preventivamente o homem que foi filmado dando socos e cabeçadas na esposa
atualizado
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São Paulo – Erica Leoratti, de 44 anos, agredida com socos e cabeçadas, vive uma rotina marcada pelo medo e pela indignação após o Ministério Público (MP) de São Paulo negar o pedido de prisão preventiva do seu agressor, Vladimir Leoratti Júnior, 43.
Apesar de a violência ter sido registrada em vídeo por câmeras de seguranças e a Polícia Militar ter sido chamada, em 14/11, o homem não foi preso em flagrante.
Nessa terça-feira (7/12), o MPSP denunciou o autônomo por ameaça e lesão corporal contra a mulher, que na época era sua esposa. A medida protetiva acabou mantida, mas a Justiça não atendeu o pedido da polícia para prender preventivamente Vladimir.
“O Ministério Público não concordou, porque a agressão foi leve. Então eu precisava estar desfigurada? Precisava estar internada em um hospital? Eu precisava estar de que jeito para ele ser preso?”, questionou Erica.
Rodrigo Fonseca, advogado da mulher vítima de violência doméstica, também não concorda com o fato de o agressor não ser preso. “Uma pessoa que dá tapa, chute, soco, cabeçada não oferece risco?”, disse Fonseca.
Segundo o advogado, o agressor de Erica continuar em liberdade não é um caso isolado. “Os pedidos de prisão do MP em casos de violência contra à mulher não chegam a 2% dos casos. Prisão pedida pelo MP é totalmente atípico quando se trata de Lei Maria da Penha e violência doméstica, infelizmente”, relatou.
“O Ministério Público disse de que ele não apresenta risco. Ele pode não apresentar risco para as outras pessoas, mas para mim ele é perigoso. Ele é um monstro para mim, para as outras pessoas ele não é nada”, disse a vítima.
Presa em casa
A mulher relata que vive com receio e apenas visita os familiares. No entanto, até mesmo na casa dos pais ela não se sente segura. Ela afirma que câmeras de segurança de uma empresa localizada no quarteirão da residência mostrou que o ex-marido chegou a rondar a vizinhança.
“Fico indignada com o Ministério Público não concordar com o pedido de prisão. Me sinto injustiçada e indignada. Para que existe a Delegacia da Mulher? A impressão que tenho é que a pessoa que faz o certo tem que ficar presa, agora quem faz o errado está livre, vive a vida normalmente como se nada tivesse acontecido”, afirmou Erica.
Sequelas psicológicas
Erica é enfermeira intensivista e trabalha na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) de um hospital, mas está afastada por ter tido crises de choro e ansiedade até mesmo no serviço. Ainda assim, deve retornar ao trabalho nesta sexta-feira (10/12).
A mulher de 44 anos está em tratamento psiquiátrico, toma medicamentos para ansiedade e faz terapia seis vezes por mês.
Erica relatou que já tinha sido agredida fisicamente duas vezes dentro de casa, mesmo assim não esperava naquela noite que seria violentada em frente ao prédio da amiga.
“Eu não imaginei que ele fosse fazer isso comigo, se eu imaginasse eu nem tinha aberto o portão. Ele gritava tanto que eu fiquei com vergonha das pessoas em volta, eu estava tentando me afastar para as pessoas não o verem, não o ouvirem”, contou.