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“Ela me deu um rim”. Doação de órgão entre primas é história de amor

Paciente renal crônica, Raffaela Santana recebeu o rim da prima Talita Cunha. Elas iniciaram campanha para conscientização sobre o tema

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1 de 1 Raffa1 - Foto: Arquivo Pessoal

“Raffa e Talita, o amor de vocês em forma de transplante chegou até aqui.” De Taguatinga a Roma, pessoas compartilharam cartazes com a mensagem nas redes sociais, que revela uma história com final feliz. Foram milhares de horas em hemodiálise, durante 5 anos. Seis vezes por semana, a brasiliense Raffaela Santana, 31 anos, permanecia ligada a uma máquina para fazer o tratamento que a mantinha viva. Um ato de amor libertou Raffaela, em 27 de maio de 2021. A prima dela Talita Cunha, 26 anos, doou-lhe um dos rins.

No fim de 2016, aos 26 anos,  Raffaela descobriu ser paciente renal crônica em estágio final. Apenas 15% da função do órgão estava preservada. “Precisei iniciar o tratamento de hemodiálise com urgência, foi assustador, não entendi muito bem do que se tratava, cheguei na primeira sessão superassustada e fiz meu tratamento durante todos esses anos”, relatou.

A única solução seria um transplante. Familiares fizeram testes, em 2018, mas a única prima que poderia doar teve medo. Naquela época, Talita foi descartada por ser jovem e não ter filhos. O transplante poderia gerar complicações que impediriam a maternidade, segundo médicos consultados pela família.

“Eu criei uma resistência a falar sobre transplante entre pessoas da família. É um assunto muito delicado e eu não queria que ninguém se sentisse pressionado, não julgo quem não tem coragem. Até que um amigo meu fez um transplante com esse perfil e me ligou para contar, em 2020. A Talita estava do meu lado, pois morávamos juntas”, lembra Raffaela.

Talita, agora com 26 anos, havia passado por uma cirurgia de retirada do útero, por questões de saúde. Sendo assim, os obstáculos que a impediam de doar não estavam mais em questão. Ela então se ofereceu para fazer os exames e, se fosse compatível, aceitaria passar pela cirurgia, mas Raffaela não “botou fé” que a prima iria até o fim. 

Nos últimos cinco anos, Raffaela passou por 14 cirurgias, sofreu com infecções e teve Covid duas vezes. Na segunda vez, ficou internada, e, ao se recuperar da doença, decidiu aceitar a oferta da prima e realizar os exames para fazer o transplante. Os resultados foram todos positivos – mas a cirurgia precisou ser adiada por conta da pandemia.

“O nefrologista Pedro Mendes me perguntou por que eu ainda não tinha transplantado, eu já tinha a desculpa pronta, mas ele não desistiu, insistiu que eu deveria tentar novamente. Então voltei a falar com a Talita sobre a possibilidade, e ela prontamente disse que me doaria, com certeza”, relatou a paciente. 

A operação ocorreu em 27 de maio, durou cerca de seis horas e envolveu uma equipe com quase 10 médicos, fora outros profissionais de saúde, em um hospital particular de Brasília. “Eu disse à Talita: amor da minha vida, você nunca mais vai estar sozinha. Ela me deu um rim, mas se um dia ela precisar do meu coração, o meu coração é dela”, disse Raffaela.

Talita conta que, a princípio, estava com medo, devido aos riscos da operação, mas no dia da internação sentiu-se calma e segura. “Eu acredito em propósitos, quis ajudar com um pedacinho de mim a mudar a rotina, a vida e os dias da Raffa. Quem tem alguém que faz hemodiálise sabe como é sofrido”, relatou.

“Eu não tenho palavras pra explicar, nem tem como explicar como Deus foi presente em todos os detalhes. Antes da cirurgia, nós estávamos dançando, rindo, tínhamos muita certeza de que daria certo”, afirmou a doadora.

Quando a pandemia passar, as primas querem fazer uma viagem para o Ceará, onde elas têm familiares, e também ir a Roma, para visitar um dos irmãos de Raffaela. “Passei todos esses anos presa à hemodiálise. Não podia viajar para qualquer lugar, não podia estar sem sinal de telefone, porque o rim poderia chegar a qualquer momento. O ato de amor da Talita me libertou, me fez renascer. Eu não ganhei só uma irmã, ganhei amor, fé, esperança, sonhos e vida”, celebra Raffaela.

As primas iniciaram a campanha #espalheamor, nas redes sociais, em prol da doação de órgãos. Em 2019, foram feitos 15,8 mil transplantes no país. Em 2020, foram 9,9 mil, e mais de 41 mil pessoas esperam na fila. 

“O mundo está tão doente, as pessoas perderam a fé, estão perdendo seus familiares, a gente quer levar essa mensagem positiva. A doação de órgãos caiu muito com a Covid. Isso faz com que quem está esperando fique mais triste e cansado, mas não percam a esperança”, diz Raffaela. 

“Precisamos encorajar as pessoas a doar. Quando a doação é de doador falecido, essa pessoa salva mais de 10 vidas. Quando é doador vivo, você sabe que alguém te ama tanto que se submeteu a uma cirurgia de grande porte por você, pra que você viva melhor, para que você siga sonhando”, conclui.

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