Efeito Taylor Swift: políticos usam repercussão para alavancar PLs
Após morte de fã de Taylor Swift, políticos tentar emplacar projetos relacionados ao caso. Tática é tentativa de pegar carona na repercussão
atualizado
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A morte da jovem Ana Clara Benevides, de 23 anos, após passar mal no show da cantora Taylor Swift, gerou grande comoção e rapidamente virou o assunto mais comentado nas redes sociais na última semana. Pegando carona nessa repercussão, políticos aproveitam para tentar emplacar projetos que podem se converter em votos mais tarde.
Na ocasião, a produtora responsável pelo show não autorizou a entrada de pessoas portando garrafas de água no show e, de acordo com os fãs, havia dificuldade para copos de R$ 10 no espaço do evento. Na internet, começou a circular um abaixo-assinado cobrando a criação de uma lei que torna obrigatória a distribuição gratuita de água em eventos musicais. A petição alcançou mais de 300 mil assinaturas.
O governo federal se adiantou e editou uma norma obrigando a distribuição de água gratuitamente em eventos como grandes shows.
Na esteira da discussão, parlamentares correram para propor projetos de lei que contemplam os pedidos dos fãs. Um levantamento do Metrópoles no site da Câmara dos Deputados identificou ao menos 15 projetos protocolados nos dias seguintes à morte da jovem.
A maioria busca garantir acesso à água em shows, espetáculos, eventos, festivais e estabelecer outras medidas de proteção à saúde do consumidor nessas situações. Três propostas levam o nome da jovem.
Para o cientista político e doutor em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Tiago Valenciano, esse movimento existe antes mesmo do fenômeno das redes sociais. “Os parlamentares, normalmente, são movidos por coisas que geram muita repercussão rápida, imediata, achando que isso vai ser convertido em voto”, analisa.
“É a famosa figura do ‘caça-like’. Ele se aproveita do ocorrido para tentar surfar na popularidade. Às vezes, nem é pauta dele, somente para conseguir um resultado rápido com o eleitorado”, complementa o especialista.
Outros casos
Há situações em que essas iniciativas acabam gerando resultados. Um exemplo é o caso do incêndio na Boate Kiss, em 2013, que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos. Após a tragédia, dezenas de projetos foram apresentados em câmaras municipais, estaduais e na federal. As propostas previam desde o aperfeiçoamento das medidas de prevenção até a indenização de familiares.
Quatro anos depois, o Congresso Nacional aprovou a Lei Kiss (13.425/2017), que estabelece as diretrizes para coibir acidentes no âmbito das casas de show e unifica as regras para estados e municípios. A norma, no entanto, foi criticada por familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia, que a consideraram ineficaz.
Outro caso mais recente é o da cantora Marília Mendonça, morta em um acidente aéreo em 2021. O então senador Telmário Mota (PROS/RR) apresentou um projeto para a criação de uma lei, batizada com o nome da artista, que define critérios para a sinalização de linhas de transmissão de energia, a fim de evitar novos acidentes.
No entanto, depois de dois anos, a proposta está parada. Além disso, recentemente, um inquérito da Polícia Civil de Minas Gerais concluiu que o acidente ocorreu por causa de um erro dos pilotos, não por falha na sinalização.
O autor do projeto foi preso no final de outubro, suspeito de ser o mandante do assassinato da ex-mulher. O mandato de Telmário no Senado encerrou neste ano.
Valenciano ressalta que essa enxurrada de projetos após casos de grande repercussão não significa, necessariamente, que o Congresso está atendendo aos anseios da população. Há mais relação com a popularidade que isso pode trazer no calor do momento.
“Normalmente, no Parlamento, você constrói uma política com audiência pública, ouvindo a população, fazendo fóruns regionais, abrindo as redes sociais para as pessoas se manifestarem. Tudo isso gera um trabalho imenso”, reforça o cientista político.
“Se essa pauta, depois, vai se converter em voto político, que é o capital eleitoral importante, é pouco provável que isso aconteça”, conclui ele.