Jovem credita trajetória de sucesso à educação profissional
Juan Teles conhece mais de 20 países e fala três línguas. A caminho de Dartmouth, o jovem diz que o segredo é não desistir
atualizado
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Prestes a embarcar para os Estados Unidos para estudar economia e geografia, Juan Teles, 19 anos, é um jovem de Salvador (BA) que teve a vida transformada pela educação. Ele é o primeiro brasileiro negro e nordestino a receber a bolsa King Scholar, da Dartmouth College, disputada anualmente por 50 mil pessoas.
Ex-aluno da escola do Serviço Social da Indústria (Sesi), Juan ingressou na instituição como bolsista, teve contato com a educação profissional e hoje, reconhece que ela abriu portas que nem todos os jovens da idade dele teve oportunidade e acesso.
“É algo muito exclusivo para uma parcela da população e é muito difícil se ter. Quando você não tem essas oportunidades de começo, fica muito difícil você conseguir chegar lá na frente e alcançar coisas que para a sua realidade são imagináveis”, afirma Juan.
Onde tudo começou
Tudo começou no grupo de pesquisa Smotes (Sistema de Monitoramento do Tempo e Estudos Socioespaciais) do Sesi. Os estudantes foram ao Porto da Sardinha, em Salvador, conhecer a realidade mais de 2,7 mil mulheres tratadoras de sardinhas, que em 12 horas trabalhadas por dia, não conseguiam receber sequer um salário mínimo por mês.
O trabalho dessas mulheres consiste em limpar as sardinhas que chegam ao porto.
“A gente sentava pra conversar com essas mulheres porque a nossa primeira etapa era preparar um artigo de pesquisa destacando a vulnerabilidade dessas mulheres. Percebemos que tinha mulheres que herdavam a profissão desde a bisavó e existiam meninas da minha idade que deveriam estar na escola. A gente teve essa oportunidade de ver que aquele ciclo de pobreza na geração continuava por conta da desigualdade socioespacial”, lembra o estudante.
Com a parceria do braço de pesquisas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Cimatec, Juan e seus parceiros no projeto elaboraram um protótipo de farinha proteica com o resíduo gerado após o manuseio das sardinhas pelas mulheres. Ao final, o material virou ração para pet, gerando lucro para a comunidade de mulheres.
“Ter acesso a um laboratório de química e biotecnologia na escola foi essencial, pois produzimos a farinha e mostramos que ela pode gerar lucro para rações para pets e se transformarem num ciclo econômico que beneficia aquela comunidade.”
Trajetória repleta de conquistas
A educação abriu portas para que Juan tivesse experiências inesquecíveis. “Através da educação, consegui conhecer mais de 20 países e chegar a uma faculdade onde tenho mais de US$ 11o mil de bolsa por ano”, conta ele, e em seguida enumera suas conquistas.
Por meio dos estudos, ele fundou um clube de relações internacionais no Sesi, virou pesquisador com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), partiu para a Argentina em um intercâmbio, foi o primeiro negro brasileiro a conquistar a bolsa para o programa de estudos no jornal The New York Times e fez um programa pós ensino médio na Akademia High School, em Varsóvia, na Polônia.
Todas as experiências fora do país contribuíram para a fluência em francês, inglês e espanhol, idiomas que ele aprendeu por conta própria.
Uma realização recente de Juan foi ter sido selecionado como um dos 26 líderes do Programa de Bolsas Líderes Estudar, da Fundação Estudar, que reúne jovens de todo o país que desejam gerar transformações positivas nos mais diversos setores. “É, para mim, uma das maiores conquistas da minha trajetória.”
Futuro
O futuro que Juan almeja é se formar na faculdade e atuar em áreas de liderança. “Eu acredito que o meu futuro realmente vai estar em uma profissão de liderança bem abrangente que beneficie não só a minha vida profissional, mas também a sociedade brasileira a longo prazo.”
O acesso a educação profissional mudou a vida de Juan, como ele costuma dizer. Para os jovens que, assim como ele, têm o sonho de mudar a sua realidade por meio da educação, Juan é categórico sobre não desistir:
“Todas as bolsas ou quase todas elas que eu consegui foi a partir de eu não ter desistido no primeiro não. É a persistência que faz a realização, e eu acredito que essa é uma grande frase que eu guardo para mim.”