Professora do EstudoPlay comenta questões de literatura do Enem
Com a data do Enem cada vez mais próxima, é importante que os estudantes conheçam a estrutura do exame
atualizado
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Com o objetivo de ajudar os estudantes que estão se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a professora de literatura Tacianne Feitosa, do EstudoPlay, separou algumas questões de provas anteriores para os alunos se familiarizarem com o exame.
A aplicação do Enem na versão impressa e digital está marcada para acontecer em 13 e 20 de novembro deste ano. Segundo o Ministério da Educação mais de três milhões de estudantes tiveram suas inscrições confirmadas para a prova.
1. (Enem/2019)
Essa lua enlutada, esse desassossego
A convulsão de dentro, ilharga
Dentro da solidão, corpo morrendo
Tudo isso te devo.
E eram tão vastas
As coisas planejadas, navios,
Muralhas de marfim, palavras largas
Consentimento sempre.
E seria dezembro.
Um cavalo de jade sob as águas
Dupla transparência, fio suspenso
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos
E tudo se desfez no pórtico do tempo
Em lívido silêncio.
Umas manhãs de vidro
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo
Também isso te devo.
HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. Das Letras, 2018.
No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse processo, aflora o
(A) cuidado em apagar da memória os restos do amor.
(B) amadurecimento revestido de ironia e desapego.
(C) mosaico de alegrias formado seletivamente.
(D) desejo reprimido convertido em delírio.
(E) arrependimento dos erros cometidos.
Resolução: (B) amadurecimento revestido de ironia e desapego.
Comentário:
A voz do texto (o eu lírico) apresenta ao leitor os sentimentos negativos que vivencia como desassossego e sensação de alma esvaziada. Esse estado negativo é colocado no texto como uma herança deixada por um interlocutor que não está oficialmente presente, mas é citado no fim dos versos de forma irônica: “isso te devo”. O eu lírico parece agradecer pelos sentimentos ruins deixados pela outra pessoa, mas confessa que “tudo se desfez no pórtico do tempo”; ou seja, o tempo se responsabilizou por fazer as dores desaparecerem, trazendo desapego.
2. (Enem/2012)
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras…
As primaveras do sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal…
Intermitentemente…
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo…
Cantabona! Cantabona!
Dlorom…
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade.
Belo Horizonte: Itatiaia, 2005._
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é
(A) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.
(B) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.
(C) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
(D) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.
(E) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.
Resolução: (A) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.
Comentário:
Os artistas modernistas, sobretudo os participantes da primeira geração, idealizaram a criação de um novo formato de arte que valorizasse a brasilidade. Para isso, eles defenderam a ruptura com as regras acadêmicas herdadas da Europa. Assim, os temas nacionais, o cotidiano na nação foram destacados. O trovador, figura europeia, termina por revelar que tem um “coração arlequinal”, remetendo ao carnaval, festa que foi transformada pelo brasileiro, trazendo para o evento os elementos do Brasil.
3. (Enem/2020)
A obra de Joseph Kosuth data de 1965 e se constitui por uma fotografia de cadeira, uma cadeira exposta e um quadro com o verbete “Cadeira”.
Trata-se de um exemplo de arte conceitual que revela o paradoxo entre verdade e imitação, já que a arte
(A) não é a realidade, mas uma representação dela.
(B) fundamenta-se na repetição, construindo variações.
(C) não se define, pois depende da interpretação do fruidor.
(D) resiste ao tempo, beneficiada por múltiplas formas de registro.
(E) redesenha a verdade, aproximando-se das definições lexicais.
Resolução: (A) não é a realidade, mas uma representação dela.
Comentário:
O artista Joseph Kosuth levanta, através da sua obra, uma reflexão crítica sobre o conceito de mimesis (imitação/representação da realidade). A presença de uma cadeira, uma fotografia dela e um verbete de dicionário com a explicação sobre o que é uma cadeira, todos esses elementos juntos manifestam uma reflexão sobre a essência da arte. Dentro dessa crítica, o artista mostra que o objeto artístico não é a realidade, mas sim uma representação dela.