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Professor comenta questões de língua portuguesa para o Enem 2022

Entre os principais conteúdos que podem ser abordados ao longo da prova está a variação linguística, funções da linguagem e gêneros textuais

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1 de 1 Celular com aplicativo do Enem - Metrópoles - Foto: Divulgação

As questões de língua portuguesa estão presentes no primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. A prova está marcada para acontecer em 13 e 20 de novembro.

Para os alunos se prepararem para o Enem, o professor de língua portuguesa do EstudoPlay Erik Anderson separou algumas questões de exames anteriores. Assim, o estudante pode se familiarizar com a prova.

Em junho, o Ministério da Educação anunciou que a edição de 2022 do Enem registrou 3.396.597 inscrições confirmadas.

1. (Enem/2021)

Falso moralista

Você condena o que a moçada anda fazendo
e não aceita o teatro de revista
arte moderna pra você não vale nada
e até vedete você diz não ser artista

Você se julga um tanto bom e até perfeito
Por qualquer coisa deita logo falação
Mas eu conheço bem o seu defeito
e não vou fazer segredo não

Você é visto toda sexta no Joá
e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar
Fim de semana você deixa a companheira
e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira

Segunda-feira chega na repartição
pede dispensa para ir ao oculista
e vai curar sua ressaca simplesmente
Você não passa de um falso moralista

NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979.

As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas

(A) “falação” e “pros bailes”.
(B) “você” e “teatro de revista”.
(C) “perfeito” e “Carnaval”.
(D) ‘bebe bem” e “oculista”
(E) “curar e “falso moralista”.

Resolução:

(A) “falação” e “pros bailes”.

Comentário:

“A letra do samba, ritmo popular, tem o propósito de apresentar uma linguagem espontânea, próxima da realidade linguística coloquial do ouvinte”, explica o professor do EstudoPlay. “Algumas de informalidade presentes em ‘Falso moralista’ são ‘falação’ e ‘pros bailes’, em que há a contração de ‘para’ com ‘os’ típica da oralidade”, acrescenta.

2. (Enem/PPL/2021)

Estojo escolar

Rio de Janeiro — Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras oferecendo maravilhas eletrônicas, bastava telefonar e eu receberia um notebook capaz de me ajudar a fabricar um navio, uma estação espacial.

[…] Como pretendo viajar esses dias, habilitei-me a comprar aquilo que os caras anunciavam como o top do top em matéria de computador portátil.

No sábado, recebi um embrulho complicado que necessitava de um manual de instruções para ser aberto.

[…] De repente, como vem acontecendo nos últimos tempos, houve um corte na memória e vi diante de mim o meu primeiro estojo escolar. Tinha 5 anos e ia para o jardim de infância.

Era uma caixinha comprida, envernizada, com uma tampa que corria nas bordas do corpo principal. Dentro, arrumados em divisões, havia lápis coloridos, um apontador, uma lapiseira cromada, uma régua de 20 cm e uma borracha para apagar meus erros.

[…] Da caixinha vinha um cheiro gostoso, cheiro que nunca esqueci e que me tonteava de prazer. […]

O notebook que agora abro é negro e, em matéria de cheiro, é abominável. Cheira vilmente a telefone celular, a cabine de avião, a aparelho de ultrassonografia onde outro dia uma moça veio ver como sou por dentro. Acho que piorei de estojo e de vida.

CONY, C. H. Crônicas para ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2009 (adaptado).

No texto, há marcas da função da linguagem que nele predomina. Essas marcas são responsáveis por colocar em foco o(a)

A) mensagem, elevando-a à categoria de objeto estético do mundo das artes.
B) código, transformando a linguagem utilizada no texto na própria temática abordada.
C) contexto, fazendo das informações presentes no texto seu aspecto essencial.
D) enunciador, buscando expressar sua atitude em relação ao conteúdo do enunciado.
E) interlocutor, considerando-o responsável pelo direcionamento dado à narrativa pelo enunciador.

Resolução:

D) enunciador, buscando expressar sua atitude em relação ao conteúdo do enunciado.

Comentário:

As marcas da atitude do enunciador (ou emissor) estão expressas e espalhadas no texto. A dica infalível é localizar as formas verbais e pronominais na primeira pessoa. Já no primeiro parágrafo, temos “vi”, “eu”, “me”; no segundo, “habilitei-me”.

A frase final do texto confirma o predomínio da função emotiva: em “Acho que piorei de estojo e de vida”, os dois verbos flexionados na primeira do singular atestam a presença marcante da subjetividade no texto, traço fundamental da função emotiva.

3. (Enem/PPL/2021)

Anatomia

Qual a matéria do poema?
A fúria do tempo com suas unhas e algemas?

Qual a semente do poema?
A fornalha da alma com os seus divinos dilemas?

Qual a paisagem do poema?
A selva da língua com suas feras e fonemas?

Qual o destino do poema?
O poço da página com suas pedras e gemas?

Qual o sentido do poema?
O sol da semântica com suas sombras pequenas?

Qual a pátria do poema?
O caos da vida e a vida apenas?

CAETANO, A. Disponível em: www.antoniomiranda.com.br.

Acesso em: 27 set. 2013 (fragmento).

Além da função poética, predomina no poema a função metalinguística, evidenciada

A) pelo uso de repetidas perguntas retóricas.
B) pelas dúvidas que inquietam o eu lírico.
C) pelos usos que se fazem das figuras de linguagem.
D) pelo fato de o poema falar de si mesmo como linguagem.
E) pela prevalência do sentido poético como inquietação existencial.

Resolução:

D) pelo fato de o poema falar de si mesmo como linguagem.

Comentário:

O enunciado da questão já reconhece que “Anatomia” é um texto com mais de uma função. Lembre-se de que a multiplicidade de funções num mesmo texto é normal. Como se trata de um texto literário, artístico, nada mais natural do que a função poética (que realça a elaboração criativa do texto). Como o eu lírico, ao longo do poema, constrói uma sequência de indagações sobre o poema, temos um caso de autorreferência, isto é, função metalinguística, já identificada no próprio enunciado e justificada corretamente na alternativa D: poema falando de poema.

4. (Enem/2019)

questão do Enem de 2019

Pela análise do conteúdo, constata-se que essa campanha publicitária tem como função social

(A) propagar a imagem positiva do Ministério Público.
(B) conscientizar a população que direitos implicam deveres.
(C) coibir violações de direitos humanos nos meios de comunicação.
(D) divulgar políticas sociais que combatem a intolerância e o preconceito.
(E) instruir as pessoas sobre a forma correta de expressão nas redes sociais.

Resolução:

(B) conscientizar a população que direitos implicam deveres.

Comentário:

A resposta correta é a alternativa B, a qual é confirmada pela leitura atenta de passagens do texto, como “liberdade de expressão”. A escolha é sua. A responsabilidade, também”. Essa questão exige a percepção sobre o que é principal e o que é secundário no texto.

Veja que as letras em negrito dão destaque à ideia central do texto, que é recuperada na alternativa B. Além disso, a identificação do gênero como campanha publicitária, que consta no enunciado da questão, já dá pistas sobre a função do texto, que tem caráter argumentativo: impactar, conscientizar o leitor.

5. (Enem-2016)

Receita

Tome-se um poeta não cansado,
Uma nuvem de sonho e uma flor,
Três gotas de tristeza, um tom dourado,
Uma veia sangrando de pavor.
Quando a massa já ferve e se retorce
Deita-se a luz dum corpo de mulher,
Duma pitada de morte se reforce,
Que um amor de poeta assim requer.

SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.

Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, pois

a) introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
c) explora elementos temáticos presentes em uma receita.
d) apresenta organização estrutural típica de um poema.
e) utiliza linguagem figurada na construção do poema.

Resolução:

a) introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.

Comentário:

Aqui, estamos diante de um texto que mistura, de forma bastante criativa, características de uma receita com um poema. Estamos, portanto, diante de um texto híbrido, ou seja, faz-se uma mescla de características de um texto injuntivo com um poema. Neste trabalho inovador, percebemos a estilística de Saramago, como a temática da morte e a presença de elementos da natureza, atrelados a verbos no imperativo, típicos de textos instrutivos, como, nesse caso, a receita.

Logo, a alternativa correta é a letra (a). A letra (b) está incorreta, afinal no poema não há medidas e modo de fazer. Não pode ser a letra (c), porque elementos temáticos de uma receita são açúcar, farinha, ovos, e não sonho, tristeza, morte.

A organização é de uma receita, com as instruções iniciadas por verbos no imperativo, portanto, não pode ser a letra (d). A letra (e) contempla apenas características típicas de um poema, por isso não atende ao comando da questão, que destaca a “mescla de gêneros”.

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