Presidente do Inep sobre Enem: “Não vamos expor alunos a risco de saúde”
Para Alexandre Lopes, é prematuro falar em adiar o exame e políticas do MEC é que são responsáveis por corrigir desigualdades
atualizado
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O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, garantiu que todas as fases preparatórias para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano serão realizadas pelo órgão, apesar das recomendações de isolamento devido à pandemia do coronavírus. Segundo ele, ainda é prematuro decidir sobre adiamento da prova, ainda marcada para ser realizada nos dias 1º e 8 de novembro. “A área técnica está fazendo os estudos para garantir que a prova seja aplicada com segurança sanitária para os alunos”, afirmou.
“Essa discussão agora é prematura. Importante agora é fazermos as isenções. Segunda-feira (11/05) começa o período de inscrições. É importante que a gente faça as inscrições”, ressaltou. “Uma coisa de cada vez. Isenção, cumprimos, inscrição, vamos cumprir. Depois, fazer a prova. Depois, imprimir a prova. Aí estaremos com a prova toda preparada para aplicar. Chegando mais à frente, se houver necessidade, muda-se”, disse Lopes, em entrevista a Metrópoles.
Os interessados poderão se candidatar entre os dias 11 e 22 de maio e optar pela modalidade de prova: tradicional ou digital, essa última oferecida pela primeira vez neste ano para 100 mil participantes.
“Por enquanto, a data está mantida”, enfatizou o presidente, que também informou que a área técnica do instituto tem realizado estudos e conversas com especialistas para garantir condições sanitárias para a realização das provas em meio à pandemia. Ele disse ainda não ter como apontar as medidas a serem tomadas. “A gente não vai expor os alunos a risco de saúde. Isso não vai acontecer. Tem várias ideias que estamos conversando com diversos especialistas. Alguns meses atrás, ninguém falava em máscaras, hoje em dia máscara é obrigatório”, exemplificou.
Desigualdade
Lopes defendeu que o que vai garantir uma redução das desigualdade na preparação dos alunos é o sistema de cotas, não a prova propriamente dita. “Para que existe o sistema de cotas? Para justamente cobrir as desigualdades entre quem não teve acesso à melhor educação básica [e quem teve]. O que o a gente vai fazer para garantir o combate a essas desigualdades é garantir que sistemas como o de cotas, como Prouni, Sisu e Fies existam. Não ter Enem é não ter Sisu. É não ter Prouni, é não ter Fies. Então a gente precisa fazer uma prova, de modo que seu resultado possa ser usado para esses programas. Não adianta eu entregar um resultado em maio do ano que vem. O semestre já começou. Temos que entregar um resultado que valha. Esse é objetivo”, disse.
“O Enem é uma perna de um corpo, que tem outra perna para combater desigualdade”, comparou. “A prova é a mesma para todo mundo. Eu não faço provas mais difíceis e mais fáceis. A desigualdade existe e eu não faço prova diferente. O que vai corrigir são esses outros sistemas, que vêm aplicando o resultado e reservam vagas aqueles que não conseguem ter o mesmo desempenho de outro”. observou.
“É impossível colocar nas costas do Enem o papel de resolver todos os problemas da desigualdade do ensino médio. Ele cumpre seu papel permitindo dar acesso às políticas públicas de combate à desigualdade. Metade dos alunos do ensino superior estão ou em universidades publicas, que são gratuitas, ou nos institutos federais, ou têm Prouni, ou tem Fies. Essas políticas públicas do MEC são muito fortes, e o que dá aceso a elas é o Enem. Por isso o Enem é tão importante.”
Seriado
Alexandre Lopes ainda falou sobre as mudanças no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Em portaria publicada na quarta (06/05), ficou definido que a avaliação será aplicada anualmente e ampliada para todas as séries. Além disso, o Saeb também deverá ser utilizado como forma de acesso ao ensino superior, mas, segundo Lopes, sem substituir o Enem. O MEC pretende encaminhar boletins de desempenho para as famílias.
Até agora, o Saeb era realizado a cada dois anos, para alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º do médio. Os resultados são cruzados com dados de fluxo escolar (repetência e abandono) para se chegar ao Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Já em 2021 a avaliação vai ocorrer também no 1º do médio, além de nos anos em que ele já é aplicado.
“O que a gente quer fazer é mudar o foco da prova. Levar a prova para o aluno, para a família, para o professor. É permitir que o resultado dessa avaliação seja utilizado na escola para a melhoria da qualidade da educação. Para isso é importante fazer em todas as escolas”, ressaltou Lopes.
“Como a gente vai dar uma resposta mais rápida de resultado será possível o professor do 4º ano poder utilizar informação do 3º, por exemplo. O aluno agora tem que saber que haverá uma avaliação anual. A pessoa vai ver como é que está o seu filho em relação ao Brasil inteiro. As provas dos alunos do ensino médio formarão uma nota a partir da pontuação adquirida em cada uma das três séries, que poderá ser utilizada para acesso ao ensino superior.”
Lopes disse que o processo de avaliação seriada não substituirá o Enem. “Vai ser mais uma forma de acesso à universidade”, ressaltou.