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Jovens deficientes auditivos tiram nota 1000 na redação do Enem

Bernardo Manfredi, 19 anos, vai cursar filosofia e Rodrigo Andrade, 17, psicologia. Cada um dos jovens foi aprovado em duas universidades

atualizado

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Arquivo Pessoal/Bernardo Manfredi
bernardo manfredi surdo enem nota 1 mil
1 de 1 bernardo manfredi surdo enem nota 1 mil - Foto: Arquivo Pessoal/Bernardo Manfredi

Desde crianças, eles superaram as dificuldades da deficiência auditiva para estudar e na edição de 2016 estiveram entre os 77 candidatos de todo o país que tiraram nota máxima (1 mil) na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Bernardo Manfredi, de 19 anos, foi aprovado em filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na PUC-Rio. Já Rodrigo Andrade, 17, em Psicologia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e no Mackenzie.

Manfredi foi vítima de uma infecção em uma maternidade em Cabo Frio e os médicos chegaram a dizer que ele não sobreviveria. Depois de ser transferido para outro hospital, passar por cirurgia e receber doação de sangue da irmã mais velha, teve alta. Como sequela, foi diagnosticado com surdez severa nos dois ouvidos, disgrafia profunda (dificuldade na escrita) e transtorno psicomotor nas mãos e nos braços.

“Os médicos deram diagnósticos horríveis, diziam que ele não faria nada sem mim. Mas insisti muito para estimulá-lo, ele é um milagre”, contou Carmem Pereira, de 61 anos, mãe do jovem.

Desde pequeno, ele estudou em escolas públicas do Rio, onde enfrentou muitas dificuldades. Teve a matrícula rejeitada no início e sofreu bullying. “No começo, ficava na sala com ele durante toda a aula. Cheguei a entrar na escola para defendê-lo de outras crianças, mas também encontramos professores ótimos, atenciosos”, relembrou Carmem.

Quando cursava no 9º ano, Manfredi conseguiu uma bolsa de estudos no colégio particular Palas. Ele conta que, apesar de nunca terem dado aula para deficientes auditivos, os professores o acolheram muito bem. “Eles sempre falavam olhando para mim e repetiam quando eu pedia. Eles tinham consciência das minhas dificuldades, mas nunca me tratavam como incapaz. Pelo contrário, sempre me estimulavam a estudar mais”, recordou Manfredi, que usa aparelho auditivo e faz leitura labial.

Mesmo com dores nas mãos, o jovem conta que escrevia três ou quatro redações por semana — foram 130 durante todo o ano. Ele diz que ficava bravo por nunca conseguir tirar nota máxima e ela só veio no Enem. “A insistência me levou a tirar mil”, explicou.

Ele conta que escolheu cursar filosofia por acreditar que pode, por meio dela, ajudar a humanidade. “A filosofia infelizmente não tem o respeito que merece. Até mesmo minha família questionou minha escolha, mas eu acho que o País precisa de pessoas que realmente tenham coragem para inovar. Eu quero inovar a filosofia. Quero mostrar que ela está em tudo que vivemos, assim como ela é (importante) para mim.” Ele se matriculou na PUC-Rio, onde conseguiu uma bolsa integral.

Livros
Já Andrade foi diagnosticado aos 5 meses com deficiência auditiva em decorrência de uma meningite. Com a ajuda da família, dos professores e de uma fonoaudióloga, ele sempre foi bem nos estudos no Volégio Pentágono, em São Paulo, que frequentou desde o maternal.

“Ele sempre foi ótimo aluno, dedicado e sempre adorou ler. Todo livro que os professores mencionavam em sala, ele pedia para eu comprar. Acho que isso o ajudou a ir bem na redação”, afirmou a mãe, Regiana Andrade, de 48 anos.

Andrade usa aparelho auditivo e faz leitura labial, mas, no ano passado, os professores do colégio passaram a usar um equipamento com frequência modular para que pudesse ouvir com clareza. “A escola se dedicou para que ele aprendesse da melhor forma.”

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