Habilidades socioemocionais entram de vez no currículo das escolas
Base Nacional Comum Curricular, que entra em vigor em 2020, prevê competências que visam preparar alunos para os desafios do mundo atual
atualizado
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O currículo brasileiro da educação básica – educação infantil até ensino médio – passará por mudança profunda até 2020. Isso porque, a partir dessa data, as escolas deverão adotar uma série de diretrizes estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular, documento aprovado em 2017 com orientações para o aprendizado e que envolve componentes éticos, políticos, bem como habilidades, atitudes e valores presentes no século 21.
A inclusão de 10 competências socioemocionais no documento que norteará a educação brasileira nos próximos anos é uma maneira de tentar preparar melhor o aluno para os desafios do mundo contemporâneo. Segundo a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido, o modelo escolar que existe, hoje, no Brasil e no mundo está completamente defasado. “Se não mexermos nas práticas pedagógicas agora, as escolas ficarão cada vez mais distantes da realidade dos alunos. O currículo mais inovador vem para resolver esse problema”, pontua. “Afinal, os alunos vão a escola para se prepararem para vida”.
Para que o estudante assuma um papel de protagonista em sua comunidade, a mudança proposta defende que a formação deve ser mais integral. As 10 competências gerais que estão detalhadas no capítulo introdutório da Base Nacional Comum Curricular exploram dimensões intelectuais, culturais, físicas e emocionais dos alunos. Como por exemplo, pensamento crítico, comunicação, cidadania, ética, sustentabilidade, entre outras.
A especialista em educação explica que essas competências já são trabalhadas hoje pelas escolas, porém não de forma intencional. “Muitas vezes, o professor usa em um projeto específico ou para resolver um conflito, porém não tem orientação curricular de como trabalhar isso em sala de aula”, explica Anna. “As competências gerais estão bastante sintonizadas com as demandas contemporâneas para viver no mundo em constante mudança, permeado de tecnologia, influência da mídia, automação.”
O que faz diferença hoje são as capacidades humanas.
Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare
A discussão é antiga. Nos anos 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Unesco já debatiam a importância de uma educação plena que considerasse o ser humano em sua integralidade. Ainda hoje, porém, essa implementação é um desafio.
“As políticas são ótimas e todos os documentos interessantes, mas a escola sozinha não dá conta. Temos de pensar em ações com organizações disponíveis, famílias, outros entes governamentais”, afirma a especialista, que tem rodado o Brasil nos últimos meses para debater a formulação de currículos mais críticos com as escolas. “Obviamente todo processo de atualização requer formação específica. A mudança deve ser interna. Se o professor não for sensibilizado, ele não vai acreditar nesse processo”, destaca.