Federais registram mais matrículas em cursos “com retorno imediato”
Em abril, Bolsonaro afirmou que verbas seriam descentralizadas e prometeu mais investimento em “veterinária, engenharia e medicina”
atualizado
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Na mira da revisão de verbas imposta pelo governo federal na área da educação, os cursos de filosofia e sociologia de universidades federais têm, juntos, menos alunos matriculados do que pelo menos duas das formações defendidas pelo governo federal como as que trariam “retorno imediato ao contribuinte”. Segundo a Sinopse Estatística do Ensino Superior de 2017, filosofia e sociologia têm, juntas, 22,3 mil alunos em federais. Nos cursos de medicina são 36,2 mil, enquanto apenas a engenharia civil alcança 34,3 mil matriculados.
Em abril, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, via Twitter, que pretende “descentralizar” gastos com sociologia e filosofia nas universidades federais. Segundo o presidente, o objetivo seria focar os recursos em formações “como: veterinária, engenharia e medicina”. Confira:
Desde que o governo federal anunciou os contingenciamentos em verbas para as universidades federais, o assunto tem sido o foco dos debates na redes sociais e protestos nas instituições federais de ensino (na foto abaixo, ato na Universidade de Brasília). A Lupa analisou os dados públicos disponíveis sobre as instituições de ensino superior (IES) no Brasil em uma série de três reportagens. A primeira trata sobre a graduação.
Segundo a Sinopse Estatística do Ensino Superior de 2017, o Brasil tem 6,5 milhões de estudantes do ensino superior em cursos presenciais. Destes, 1,2 milhões, ou um em cada cinco, estão em instituições federais. Nas universidades, são 1 milhão de alunos. Nos institutos federais e faculdades, cerca de 170 mil.
Os cursos de filosofia e sociologia concentram 1,8% do total de matrículas das instituições federais. São 6,1 mil alunos que estudam para se tornarem professores de filosofia, enquanto outros 2,1 mil estão matriculados no bacharelado da área. Em sociologia, são 7,1 mil graduandos em bacharelado e 7 mil em licenciatura.
As matrículas de medicina correspondem a 3% do total. Enquanto isso, somados, os alunos de todos os cursos de engenharia disponibilizados pelas IES federais, representam 18,3% do total de estudantes do ensino superior em instituições federais brasileiras – são 220,6 mil.
No total, as instituições federais oferecem cursos em 270 graduações, de um total de 333 reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC). Pedagogia, com 44 mil alunos, é a graduação com mais matrículas nas instituições federais, seguida por administração e direito.
Direito é o curso com mais alunos entre públicas e privadas
Considerando todo o ensino superior do país, o curso mais popular é o direito. São 878 mil graduandos, 13,4% do total, sendo que nove em cada 10 estão em instituições particulares.
Em oito dos 10 cursos de graduação mais populares do país, a rede particular é responsável por mais de 80% das matrículas. Por outro lado, nos cursos de formação de professores, por exemplo, a maioria das vagas é oferecida pelas redes federal e estadual.
Públicas têm mais doutores no corpo docente do que particulares
Uma das principais diferenças entre instituições públicas e privadas no país é o grau de qualificação do corpo docente. Enquanto nas instituições públicas os doutores são maioria, nos cursos privados eles são apenas um em cada quatro docentes.
As federais empregam, segundo o Censo da Educação Superior de 2017, 68.977 professores. Desses, 45.798 tinham completado doutorado – 66% do total. As privadas, por outro lado, empregam 126.488 docentes, dos quais apenas 30.662 são doutores, o equivalente a 24% do quadro.
Privadas têm mais que o dobro do número de alunos das públicas
As IES são divididas pelo MEC em quatro categorias: universidades, centros universitários, faculdades e institutos federais. São exigidos critérios de qualidade, de titulação do corpo docente e de produção científica para que uma IES seja considerada uma universidade.
Das 2.448 instituições brasileiras, apenas 199 têm esse título. Dessas, 63 (31,6%) são federais e 39 (19,5%), estaduais. As públicas também têm praticamente a metade dos alunos matriculados em universidades: 1,9 milhão, ou 48,4% do total. Quando consideramos o universo total das IES, porém, 71,2% dos estudantes brasileiros estão na rede privada.
A proporção de estudantes universitários no Brasil é de 31,3 para cada 100 mil. O peso das federais no ensino varia bastante regionalmente: no Acre, por exemplo, 43,5% das matrículas estão nas federais. Em São Paulo, onde a rede estadual é maior, apenas 3% dos alunos do ensino superior estão em instituições geridas pela União.
Além disso, as vagas estão concentradas nas capitais dos estados. Apesar de apenas 23,8% da população brasileira viver nessas 27 cidades, quase metade, 46,2% das matrículas, estão concentradas ali. Nesse caso, universidades federais e privadas mostram números bastantes parecidos: 47,5% e 49,2% de seus estudantes estão em instituições sediadas em capitais. Nas estaduais, a proporção representa melhor a população brasileira: 72,8% das vagas estão no interior.
Concorrência por vaga em instituição pública é maior
Apesar de todas as críticas, acusações e informações falsas sobre as federais, elas seguem sendo o sonho dos estudantes que concluem o ensino médio. Em média, a concorrência por vaga nessas instituições é de 17,4 concorrentes para um. Esse número é nove vezes maior do que nas privadas e 54% maior do que nas estaduais.
Com reportagem de Chico Marés