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Ex-presidente da Capes lamenta “instabilidade permanente” sob Bolsonaro

Para Abílio Baeta Neves, há uma “forte ideologização” no governo Bolsonaro, que gera preocupação com o rumo da pesquisa no país

atualizado

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Capes
1 de 1 Capes - Foto: Igo Estrela/ Metrópoles

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC), comemora 69 anos de existência neste sábado (11/7). Apesar de grandes avanços a serem celebrados, a instituição demonstra preocupação com o rumo da pesquisa e da ciência no Brasil.

A Capes chega ao aniversário lutando para convencer a sociedade a manter-se “vigilante” para garantir a manutenção desse legado. “Ele pode vir a se perder diante da substituição de um modelo de gestão colegiada baseado em critérios técnicos por um modelo de gestão autocrático regido por preconceitos e vieses anticientíficos”, assinala texto enviado pelo órgão.

Segundo um estudo realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), mais de 8 mil bolsas permanentes de pesquisa que eram oferecidas pela Capes foram cortadas neste ano. O levantamento descobriu ainda que, na gestão Bolsonaro, as vagas permanentes tiveram queda de 10,4%, caindo de 77.629 para 69.508.

Sem ministro há mais de 20 dias, o Ministério da Educação acumulou diversas polêmicas durante o governo Bolsonaro. Em 2019, bolsas de estudo foram congeladas e, além disso, o então ministro da pasta, Abraham Weintraub, travou embates repetidos com docentes e com as próprias universidades federais. Ele chegou a dizer que as instituições são antros de “balbúrdia“.

Ao Metrópoles, o ex-presidente da Capes Abílio Baeta Neves afirma que no início da gestão Bolsonaro havia uma expectativa, por parte das instituições de ensino, de reformas positivas no sistema educacional. Segundo ele, contudo, o que houve foi exatamente o contrário – uma queda nas pesquisas e um cenário incerto sobre a educação.

“Nessa gestão se assistiu a uma ideologização muito forte dos temas da educação superior. Houve uma agressão às universidades e um discurso que, em vez de reconhecer a importância do trabalho, basicamente acusava as instituições de ser um antro de esquerdistas. O que não ajudou nem na construção do diálogo nem na recuperação dessa capacidade de investimento esperado”, diz.

Para Neves, estamos em uma espécie de “bolha”. “Estamos sem saber para onde a gente vai. Sem saber se haverá uma instabilidade permanente. A impressão que dá é de que não há interesse nessas áreas. Isso é muito ruim”, avaliou.

Crescimento

Atualmente, a Capes é responsável pela gestão de mais de 4.600 programas e 7 mil cursos de mestrado e de doutorado, nas modalidades acadêmica e profissional. O professor Abílio Neves, que esteve à frente da instituição durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Michel Temer destacou um crescimento gradual dessa área no país.

Segundo ele, quando deixou o governo de FHC, o investimento da Capes era de R$ 570 milhões. Já quando saiu da gestão Temer, em 2019, os recursos da instituição somavam R$ 4 bilhões. “Houve um crescimento muito grande. Teve uma obra de ampliação grande ao longo dos anos 2000. Diminuiu apenas no governo Dilma”, disse.

A previsão de Orçamento para a Capes em 2020, no entanto, foi menor do que o recebido em 2019. Com as articulações do órgão, o montante chegou a R$ 3,672 bilhões, quase 10% abaixo – sem considerar a inflação. Para Neves, é necessário que haja maior apoio e dedicação do Executivo em áreas voltadas para a ciência e pesquisa.

Ideologia

Ao comentar o governo Bolsonaro e situação atual do MEC, o ex-presidente da Capes diz que há muitas questões ideológicas envolvidas nas escolhas de ministros, o que leva a uma falta de qualificação para o cargo.

“Nós estamos falando de posições dos evangélicos, de posições dessa corrente de pensamento negacionista da ciência, de que se vale de teorias conspiratórias. Nada de educação. São atributos que estão distantes do problema real que estamos enfrentando”, criticou Neves.

Para o professor, Abraham Weintraub “perdeu uma grande oportunidade”. “Começo de governo é sempre uma oportunidade muito boa para abrir o diálogo. Quando a gente tem clareza, nada melhor do que começar o governo construindo o processo de mudança. Mas o que ele fez foi bloquear o diálogo com as instituições”, criticou.

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