Com apoio do governo, direita amplia presença nas universidades
Ainda tímidos, grupos são alavancados pelo presidente Bolsonaro e pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, sobretudo nas redes sociais
atualizado
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Grupos de direita e de extrema-direita têm se alicerçado no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma tentativa de conquistar presença nas universidades do país – alvos ideológicos da ala olavista do governo, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub.
A pauta é baseada na “liberdade de pensamento” e na luta contra o “marxismo cultural” – termo usado em referência a um suposto plano da esquerda para dominação da cultura. Karl Marx, que dá origem ao termo, foi o autor do livro Manifesto Comunista, que deu as bases da ideologia de esquerda.
Diretora do Docentes Pela Liberdade do Distrito Federal (DPL-DF), Maria Cecília Delduque explica que o movimento surge com a ideia principal de “poder falar o que se pensa”.
“As pessoas falam tanto em liberdade, mas têm dificuldade em exercê-la. Hoje, um professor que começa com um discurso mais conservador vê a sala de aula invadida; o pessoal grita, joga pedra e não deixa ele trabalhar. Isso não é uma postura plural”, conta. Ela, porém, não cita ocasiões em que apedrejamentos teriam acontecido.
Além da realização de reuniões particulares, os grupos mantêm uma presença ativa nas redes sociais, e fora delas, demonstrando apoio à pauta conservadora bolsonarista.
A UnB Livre, por exemplo, ganhou apoio do ministro da Educação quando ele foi à Câmara dos Deputados, em dezembro do ano passado, defender que existem plantações de maconha nas universidades.
“Foi feito um cartaz com alguns (muitos!) casos de crimes e tráfico de drogas praticados nos nossos campi. A verdade venceu hoje”, publicou o perfil, em rede social, ao destacar o apoio ao ministro da Educação.
Acesso ao gabinete
Líderes desses movimentos, inclusive, se reuniram com a cúpula educacional do governo no primeiro ano do mandato Bolsonaro. Foi o caso do fundador e presidente do DPL, Marcelo Hermes-Lima. Além de biólogo e professor da UnB, nas redes sociais ele se identifica como um “direitista” com mais de 6,2 mil citações no Google Scholar.
No encontro, realizado em 25 de novembro, o docente disse ter conversado sobre a doutrinação de mentes e a “má formação de profissionais”.
A reunião contou ainda com a presença de Arthur Weintraub, assessor especial da presidência e irmão do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Sob o comando de Hermes, o DPL foi inaugurado em 13 de maio do ano passado, mesma data em que foi assinada a Lei Áurea: “o fim da escravidão”. O grupo diz ter 300 PhDs participantes.
A associação se identifica como “um grupo apartidário, formado por docentes e profissionais de qualquer área, cujo interesse é recuperar a qualidade da educação no Brasil, romper com a hegemonia da esquerda e combater a perseguição ideológica”.
Delduque, diretora do DPL-DF, explica que o grupo surgiu na própria universidade, quando professores começaram a se ver com dificuldades de levar à sala de aula temas que fugissem à “pauta hegemônica do marxismo”.
“Eu me sentia pressionada pelos colegas e alguns alunos não gostavam que eu apresentasse uma crítica ou um contraponto”, conta a professora aposentada.
“Falsa onda”
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), uma das principais organizações estudantis do país, Iago Montalvão, avalia que, apesar de ganhar o apoio governista, esses movimentos ainda são bastante tímidos.
“Eles têm um destaque muito grande nas redes sociais para uma coisa quase irrelevante nas universidades. Essa turma bolsonarista repercute qualquer coisa muito espetaculosa”, diz.
Iago conta que, no ano passado, todas as disputas dos Diretórios Centrais dos Estudantes (DCEs) foram vencidas pela esquerda e que os candidatos conservadores a reitor mais votados chegaram no máximo à terceira colocação.
“Qualquer pequena movimentação conservadora nas universidades, o governo puxa pela mão para tentar criar um megafone e dar uma impressão de que é grande, mas na verdade não é”, complementa Montalvão.