Celular foi utilizado por metade de alunos das classes D e E para assistir aulas
Pesquisa aponta que nas classes A e B apenas 22% utilizaram aparelhos para acompanhar aulas. Diferença de estrutura entre classes é grande
atualizado
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Segundo a 3ª Edição do Painel TIC Covid-19 que analisou dados sobre Ensino Remoto e Teletrabalho, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) e publicada na última quinta-feira (5/11), 54% dos usuários de internet com 16 anos ou mais das classes D e E utilizam o celular para acompanhar as aulas virtuais.
Em comparação, apenas 22% dos usuários pertencentes às classes A e B utilizam aparelhos celulares para tal finalidade. Nessas categorias, 45% dos alunos usam notebooks para acompanhamento de aulas ou atividades remotas.
Fabio Storino, analista do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, destacou que uma série de pessoas não tem acesso a computadores. Ele utilizou dados do teletrabalho para explicar as diferenças de estrutura entre as classes sociais.
“A gente viu nessa pesquisa que nas classes A e B, daqueles que trabalharam durante a pandemia, 77% fizeram uso de um computador de mesa ou de um notebook. Já quando você olha as classes D e E, 84% daqueles que trabalharam utilizaram um telefone celular. Tem essa dificuldade”, explica Storino.
Apesar de uma grande parte da população ter acesso à internet, a qualidade varia muito entre as classes e diferentes regiões do Brasil. A pesquisa mostrou que 36% dos alunos tiveram dificuldades para acompanhar as aulas por falta ou baixa qualidade da conexão à internet.
Atividades que exijam muito da conexão, como aulas por vídeo, podem apresentar problemas, dependendo do pacote de dados e do modelo de celular.
O analista explica que 54% dos alunos das classes D e E acompanharam as aulas por meio de um celular, sendo que muitos usaram de uma conexão de dados, que muitas vezes tem limite de franquia da operadora. Isso acaba inviabilizando a prática do ensino a distância.
Atividade remota não é para todos
A pesquisa também revelou que 56% dos jovens com 16 anos ou mais não acompanharam as aulas ou atividades ofertadas pela escola ou universidade para procurar emprego. O levantamento foi feito com o público que teve a oferta de aula durante o período de isolamento social, mas não acompanhou as atividades. Em sua maioria, são estudantes que estão matriculados em escolas de ensino médio ou universidades.
Essa informação acaba criando uma relação direta entre educação e trabalho nesse período de pandemia no mundo.
Assim, Storino afirma que a pesquisa não consegue captar uma parte da população pela função que desempenha. Ele conta que, em tese, um garçom, por exemplo, não consegue desempenhar uma atividade remota.
“Você tem uma desigualdade já existente no país que é do tipo de trabalho da pessoa, ligado a atividades que exigem maior escolaridade. Tende a ser trabalho que tem mais facilidade de ser feito remotamente. É uma característica que depende de ter ou não a tecnolgia”, destaca.
A falta de estrutura, como computadores, internet de qualidade, ferramentas para conversar com clientes ou colegas de trabalho, além de conhecimento tecnológico, também são fatores que acabam acarretando em uma desigualdade no mercado de trabalho brasileiro, do ponto de vista das atividades remotas.