Brasil deixa de receber 190 mil novos alunos no ensino superior
O número de ingressantes nos cursos de graduação caiu 6,1% em 2015 e a rede privada foi a que mais perdeu novos alunos
atualizado
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O número de ingressantes em cursos de graduação no Brasil caiu 6,1% em 2015. O país perdeu 190.626 novos alunos em relação ao ano anterior – a rede privada foi a que mais perdeu novas matrículas em relação a 2014, com perda de 176.445 ingressantes.
Os dados são do Censo do Ensino Superior de 2015, divulgados nesta quinta-feira (6/10), pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo o censo, o Brasil teve 3,1 milhões de ingressantes em 2014 e, em 2015, o número caiu para 2,9 milhões.
A diminuição de matrículas ocorreu ao mesmo tempo em que o governo federal restringiu o acesso ao Fies (Financiamento Estudantil). É a primeira queda de novas matrículas na rede particular desde 2009.
A queda foi mais acentuada nas instituições privadas, que tiveram 6,9% a menos de ingressantes em relação a 2014. Já na rede pública, a queda foi de 2,6%, com a perda de 14.181 alunos. Apenas as instituições estaduais tiveram aumento de ingressantes (com crescimento de 13.088), enquanto as federais (-10.898) e municipais (-16.371) tiveram redução de novos alunos.
Concentração. Ainda que com a maior perda de novos alunos, a rede privada continua sendo responsável pela matrícula de 81,7% de ingressantes na graduação – com 2,38 milhões de estudantes no país. Com relação ao total de matrículas, as instituições privadas detêm 75,7% dos 8 milhões de estudantes de graduação brasileiros.
Matrículas
Em média, o país tem 2,6 alunos matriculados em instituições provadas para cada aluno matriculado na rede pública em cursos presenciais. Em apenas três estados brasileiros – Roraima, Tocantins e Paraíba – o número de matrículas na rede pública é superior à rede privada.
Para especialistas em educação, a queda de ingressantes no ensino superior e a alta concentração de vagas nas instituições privadas mostram que o país ainda está longe de alcançar metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em 2014.
Uma das metas do plano prevê que até 2024 o Brasil eleve a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, tendo assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público.
Leandro Tessler, especialista em universalização do ensino superior da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), disse que o Brasil está muito distante de alcançar essas duas metas. “Temos no país uma tradição de o ensino superior ser gratuito. O Fies cresceu muito no governo Dilma Rousseff e qualquer retração nesse programa leva à queda de alunos. Precisamos assegurar essas vagas.”
“O Fies é a prova de que não podemos fazer as coisas de qualquer jeito. É uma matrícula subsidiada pelo governo, sem que ele tenha qualquer controle de qualidade do ensino prestado. Precisamos atender as necessidades de quem quer ingressar no ensino superior, mas esse caminho deve ser pela abertura de novas vagas nas universidade públicas”, disse Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Atrasos. As entidades privadas de ensino estão há quatro meses sem receber os recursos do Fies. O Congresso presiva aprovar um projeto de lei de crédito suplementar que dá recursos extras de R$ 702 milhões ao proframa, mas a votação já foi adiada por cinco vezes.