Aulas presenciais voltaram em 13 UFs; mais 6 retomam até setembro
Depressão e evasão escolar, no entanto, preocupam professores
atualizado
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A depressão e a evasão escolar são dois problemas que preocupam gestores da educação na volta às aulas. Ao todo, 13 estados já retomaram o ensino presencial — em formato híbrido ou totalmente com a presença de estudantes (veja a situação por estado no fim da reportagem) – e seis voltam entre agosto e setembro.
Fechadas desde março de 2020, as escolas têm retomado as atividades com a expectativa — ao menos, dos secretários de Educação — de não ter problemas ligados à Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Em entrevista ao Metrópoles, a vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação, Cecilia Motta, secretária de Mato Grosso do Sul, defende a retomada das aulas presenciais.
Episódio inédito na educação brasileira, a retomada terá desafios. “Os professores foram preparados para escutar na primeira semana. Sabemos que vamos receber alunos com depressão, fobia, angústia, que perderam pessoas da famílias”, diz Cecília.
Além do comprometimento psicoemocional, os professores terão o desafio de nivelar o aprendizado dos estudantes de uma mesma fase e evitar o abandono de estudantes — a chamada evasão escolar.
“Não são 10 anos, mas também não são um ou dois. Leva-se tempo para recuperar. Temos que fazer o diagnóstico e organizar a escola para essa recuperação”, frisa a professora.
Mesmo com o risco de contaminação, Cecília defende o retorno, diz que as escolas e os professores se prepararam para esse momento, além de desacreditar possíveis surtos da doença no ambiente escolar.
“Não podemos culpabilizar a escola. Ela não teve a experiência de funcionar. Vemos surtos, por exemplo, por irresponsabilidade das pessoas”, saliente, ao pregar o uso de álcool em gel, máscaras e aferição de temperatura nos estabelecimentos. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.
A senhora acredita que é o momento das aulas presenciais retornarem?
É supermomento. Estamos mais do que na hora de voltar. Fizemos estudos, com orientação cientifica. Estamos mais que prontos, com escolas preparadas em termos da biossegurança.
O país está preparado para conter problemas, como aumento das contaminações, oriundas desse retorno?
Temos estudado a causa do aumento, e não é a escola. Elas estão fechadas há 270 dias. Não podemos culpabilizar a escola. Ela não teve a experiência de funcionar. Vemos surtos, por exemplo, por irresponsabilidade das pessoas.
Não seria necessário vacinar todos os profissionais da educação para retomar o ano letivo?
Seria o ideal que o país tivesse vacina para todos os profissionais. [Mas] Mesmo o que está aberto não teve vacina, como o comércio. Está comprovado que, em outros países, a contaminação derivada do retorno das aulas foi baixa.
Na avaliação da senhora, o que é necessário, em termos de políticas públicas, para o regresso presencial dos estudantes?
Biossegurança tem que ter muito bem organizada. Se queremos retornar, temos que dar a segurança para as famílias. Com disponibilização de álcool em gel, medição da temperatura, uso de máscara. Outra coisa é o acolhimento dos estudantes.
Nesse aspecto, é esperado um grande volume de estudantes deprimidos e fragilizados emocionalmente?
Alguns passaram por várias dificuldades. Este primeiro momento será de escuta. Os professores foram preparados para essa escuta na primeira semana. Sabemos que vamos receber alunos com depressão, fobia, angústia, que perderam pessoas da família. O porto seguro do estudante é a escola, é onde ele se abre com o professor, com o coordenador, onde ele socializa. A ausência pode ter marcado muitos estudantes. Eu acho que teremos um significativo volume de estudantes nessa situação. A gente escuta os jovens com ansiedade, angústia de estar só, de não conseguir aprender, de não socializar.
Isso pode impactar na aprendizagem?
A questão cognitiva fica comprometida. Os estudantes vão voltar em níveis diferentes de conhecimento numa mesma sala. Temos que fazer esse diagnóstico e propor recomposição de aprendizagem.
As escolas têm diferenças. A senhora acredita que o retorno presencial dará certo uniformemente pelo país?
A pandemia trouxe essa visão de desigualdade social. Escancarou. Mas também trouxe a percepção de que é necessário buscar a equidade. Facilitar para os governos a questão de infra em dia. A pandemia trouxe um empurrão para assumir tecnologias .
Houve prejuízo na educação dos estudantes durante o período em que as aulas presenciais ficaram suspensas?
Sem dúvida, houve prejuízo. Isso no mundo todo. Deficit de aprendizagem. Não são 10 anos, mas também não são um ou dois. Leva-se tempo para recuperar. Temos que fazer o diagnóstico e organizar a escola para essa recuperação. Haverá um descompasso de anos. Isso impacta na economia do município.
Neste momento, qual é a sua principal preocupação?
Que todos voltem para a escola. Tem aluno dizendo que não vai voltar. A evasão escolar tende a ser grande.
Veja como as aulas estão organizadas por estado:
- Acre – Aulas remotas. Retorno presencial previsto para acontecer no mês de setembro.
- Alagoas – Aulas remotas. Retorno das aulas no formato híbrido previsto para 16 de agosto.
- Amapá – Aulas remotas.
- Amazonas – As aulas presenciais na rede pública estadual do Amazonas começaram no dia 19 de maio, em modelo híbrido.
- Bahia – Formato híbrido desde 26 de julho, com três dias da semana de aulas remotas e outros três de aulas presenciais.
- Ceará – Aulas remotas. Formato híbrido previsto para agosto.
- Distrito Federal – Atividades presenciais serão retomadas em 9 de agosto.
- Espírito Santo – Formato híbrido desde fevereiro.
- Goiás – Retoma as aulas presenciais em 2 de agosto, com formato híbrido.
- Maranhão – Formato híbrido.
- Mato Grosso – Aulas remotas.
- Mato Grosso do Sul – Formato híbrido.
- Minas Gerais – Formato híbrido desde junho.
- Pará – Atividades não presenciais.
- Paraíba – Aulas remotas.
- Paraná – Modelo híbrido desde maio.
- Pernambuco – Aulas no esquema híbrido.
- Piauí – A partir do segundo semestre, haverá o retorno presencial às salas de aula adotando o modelo híbrido.
- Rio de Janeiro – Aulas no sistema remoto e presencial.
- Rio Grande do Norte – Aulas remotas.
- Rio Grande do Sul – Aulas realizadas no modelo híbrido.
- Rondônia – Aulas remotas.
- Roraima – Aulas remotas.
- Santa Catarina – Aulas têm três modelos: 100% presencial, misto e 100% remoto.
- São Paulo – Aulas presenciais e remotas.
- Sergipe – Aulas presenciais serão retomadas em agosto.
- Tocantins – Aulas presenciais retomadas em julho.