Após ataques cibernéticos a órgãos públicos, há perigo para o Enem Digital?
Em 2021, mais de 96 mil brasileiros farão a prova de modo on-line. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles confirmam segurança do exame
atualizado
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As recentes invasões de hackers aos sistemas operacionais de órgãos dos governos Federal e do Distrito Federal escancararam as vulnerabilidades da segurança cibernética do funcionalismo público. É em meio ao cenário de insegurança e temores por novos crimes virtuais que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) se prepara para realizar, em janeiro de 2021, o primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na modalidade digital.
Com datas diferentes da prova impressa, o Enem Digital será aplicado em 31 de janeiro e 7 de fevereiro. A modalidade virtual do exame alcançará 96.086 brasileiros residentes em 99 diferentes cidades espalhadas por todas as unidades da Federação do país.
Inicialmente, o Inep destinou 100 mil vagas para brasileiros interessados em participar da primeira edição virtual do certame. Do total, 3.914 estudantes não cumpriram com os prazos para pagamentos das taxas ou não apresentaram os documentos solicitados. Por isso, não tiveram a matrícula efetivada.
Cada participante do Enem Digital contará com um computador para fazer a prova. Os equipamentos serão disponibilizados em mais de 5 mil instituições de ensino e laboratórios de informática credenciados.
Em entrevista ao Metrópoles, o presidente substituto do Inep e diretor de tecnologia do instituto, Camilo Mussi, reafirmou a preocupação do órgão com a segurança cibernética da prova e defendeu especialistas que trabalham para minimizar, ao máximo, as possibilidades da ocorrência de eventuais ataques hackers.
“É fato que o Inep se preocupa com eventuais ataques ou problemas na realização do exame. Mas estamos a pouco mais de 60 dias da prova e temos a certeza de que estamos no caminho certo”, disse.
Mussi defende que os recentes episódios envolvendo sistemas de órgãos públicos servem de exemplo para que o instituto não cometa erros futuros.
“Estamos preocupados, mas esses episódios nos demostraram que estamos no caminho certo. Não digo que o Inep não possa ser alvo de um ataque, mas nós estamos preparados para isso. Temos feitos testes com parceiros a respeito da plataforma de aplicação das provas, assim como a urna eletrônica está sendo testada”, assegurou.
Medidas de segurança
A fim de evitar problemas futuros com a segurança da prova virtual, o presidente interino do Inep afirma que as equipes técnicas responsáveis pela elaboração do exame adotaram uma série de medidas capazes de minimizar as ações de hackers durante a aplicação.
O protocolo de segurança criado pelos organizadores do certame inclui o uso de uma plataforma específica para a prova, na qual o acesso ocorrerá por meio de senhas individuais que os participantes receberão no dia da realização. Serão utilizados canais dedicados para os exames e toda a realização ocorrerá sem o acesso à internet – porta de entrada para cibercriminosos.
O único momento em que os computadores que hospedarem as provas terão acesso à rede será no ato de download dos testes. Mussi defende que, de todas as barreiras impostas pelo Inep, a mais segura é a criptografia dos exames.
“A criptografia até pode ser quebrada eventualmente, mas ela tem que ser quebrada em tempo útil. A prova vai chegar ao local de aplicação em um intervalo que, se houver a quebra dessa criptografia, não haverá prazo para que o hacker a utilize com o objetivo de fraudá-la. Estamos usando tudo o que há de mais moderno na área”, explicou o diretor de tecnologia.
Criptografia
Para o especialista em segurança da informação Leonardo Camata, todos os procedimentos adotados pelos organizadores para resguardar a integridade da prova praticamente anulam qualquer possibilidade de fraude.
“Estão no caminho certo, principalmente, a questão da criptografia. A prova estando criptografada, você pode dar o tempo que o hacker quiser, que ele não vai conseguir quebrar a criptografia. A quantidade de recurso computacional é irreal, ele não conseguiria reunir em um computador todo o recurso necessário para quebrá-la em tempo real.”
Camata crê, inclusive, que as chances de ocorrer um vazamento interno da prova sejam maiores do que uma eventual invasão hacker. “A chance de fraude por meio de invasão criminosa inexiste. Em termos reais, não vai acontecer. A maior probabilidade é que ocorra um vazamento interno, caso aconteça. Do ponto de vista da segurança da informação, será uma prova tranquila”, completou.
O especialista em segurança Leonardo Sant’Anna garante que o histórico do Inep no âmbito da segurança cibernética é positivo.
“Estamos falando de um órgão público que é exemplo no país no quesito segurança. Não só tem uma estrutura cibernética segura como adota protocolos de entrada rígidos, além de possuírem uma estrutura física que obedece normas nacionais e internacionais. Existe uma série de barreiras tanto físicas quanto eletrônicas.”
Sant’Anna defende que, para anular a possibilidade de qualquer fraude, os organizadores devem adotar desde medidas preventivas até precauções para depois da prova.
“Muita gente acha que o importante é o momento em que está acontecendo a prova. No entanto, além do momento de realização do evento, serão os trabalhos de prevenção realizados pelo Inep e o cuidado que eles tiverem com o local onde o resultado das provas serão hospedados que vão garantir sua segurança”, ponderou o especialista.
Expansão e mais garantias
Otimista, Mussi, do Inep, crê no sucesso da modalidade e, inclusive, prevê a expansão do Enem Digital já para as próximas edições. Segundo o presidente substituto, a estimativa é que a modalidade virtual substitua a edição impressa e que ela seja extinta em 2026. “Pode ser que acabe antes”, avalia.
“Para o Enem do ano que vem, já estão previstos dois exames digitais e um regular impresso. No mínimo, a gente espera que o Enem Digital tenha o dobro do tamanho deste de agora. O Inep está muito convicto do sucesso do modelo e imaginamos que seja estendido já ano que vem.”
Vale reforçar que os organizadores do exame trabalham com a possibilidade de falhas mecânicas durante a aplicação do Enem Digital.
“Assim como no Enem impresso, temos o período de recurso para aqueles que tiverem algum problema com a prova, incluindo falha de computadores, falta de luz, problema de locomoção e outros. Quem tiver problemas com o teste pode nos comunicar e iremos avaliar se há a necessidade de reaplicação do exame.”
O Inep assegura que “nenhum estudante será prejudicado por eventuais problemas técnicos”. “A reaplicação das provas é algo totalmente possível e garantimos o mesmo direito para todos os usuários”, finalizou o presidente interino.