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Alimentação saudável na escola deve começar em casa, diz especialista

Eliminar as frituras e os salgadinhos das cantinas ajuda a combater o mau hábito alimentar, mas não isenta a responsabilidade dos pais

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Mais da metade dos brasileiros está acima do peso e quase um quinto da população tem diagnóstico de obesidade. Os dados são do Ministério da Saúde. Quando falamos em doenças relacionadas à má alimentação, como colesterol alto, hipertensão, diabetes e doenças do coração, os números podem aumentar muito nos próximos anos. A causa está diretamente ligada à qualidade dos alimentos que consumimos.

De acordo com a secretária executiva do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) do Distrito Federal, Gabriela Sandoval, cada vez mais a dieta dos brasileiros consiste em alimentos ultraprocessados, cheios de açúcar, gordura, sódio, aditivos químicos, transgênicos, entre outros vilões. “Isso é incentivado em todo o sistema alimentar. As pessoas aprendem a comer esses produtos desde bebês. E sabemos que a alimentação é cultural e hábitos são passados de pais para filhos”, salienta.

Essa realidade alarmante fez com que, em 2015, o DF regulamentasse a Lei da Cantinas, que proíbe a venda de alimentos não saudáveis no ambiente escolar e se estende em um raio de 50 metros a partir dos portões de acesso dos colégios.

 

Bons exemplos
Porém, na contramão das cantinas cheias de produtos industrializados, há escolas que contam com a participação dos pais na elaboração dos cardápios oferecidos aos jovens. A servidora pública Andrea Oncala, mãe de Caetano, de 4 anos, e Nara, de 5 meses, sempre se interessou por comida saudável. Por ser vegetariana, fez questão de participar de forma mais ativa das escolhas alimentares na escola do seu filho.

Luiza Midlej, nutricionista: “Quando é oferecido alguma coisa saudável, diferente do que o estudante está acostumado, eles não comem”

O modelo da instituição é associativo – com uma diretoria e comitê gestores. Durante três anos, Andrea se encarregou de montar as quatro refeições servidas diariamente às crianças. Formada em direito, ela procurou ajuda de nutricionistas para elaborar pratos saudáveis e equilibrados.

O cardápio vegetariano é bem variado e conta com suco verde três vezes na semana, arroz com legumes, feijão, lentilha, cogumelos, açaí. Todas as frutas e legumes são orgânicos. Andrea conta que sempre houve uma preocupação muito grande com a oferta do açúcar – que só podia ser mascavo. Produtos e derivados de leite de vaca não são permitidos, principalmente porque muitas crianças têm alergias. “O paladar é um grande desafio, porque eles não gostam de alguns alimentos ou enjoam rapidamente de outros”, ressalta.


Gabriela Sandoval explica que, considerando ser um ambiente de aprendizado, o cardápio escolar precisa promover hábitos saudáveis, de acordo com a cultura local, a partir de alimentos frescos e livres de transgênicos e agrotóxicos.

A comida deve ser saborosa, atraente para as crianças, variada, colorida, possibilitadora de experiências, cheirosa e associada a atividades educativas que complementam o aprendizado na prática cotidiana, como hortas escolares, por exemplo.

Gabriela Sandoval, do Consea-DF

Desafios
A nutricionista Luiza Midlej trabalhou durante um período em uma escola do DF e lembra das dificuldades que teve na proposição de um cardápio saudável. Segundo ela, os hábitos corretos devem começar em casa. “Quando é oferecido alguma coisa saudável, diferente do que o estudante está acostumado, eles não comem. O colégio vê aquele desperdício e acaba desistindo”, afirma.

Luiza aproveita para desmistificar a crença de que alimentação saudável é mais cara. A profissional afirma que a escola consegue economizar ao utilizar produtos frescos, como tapioca, frutas, cuscuz, pipoca de panela, bolos e iogurtes feitos na escola, chips de tubérculos, entre uma variedade de opções.

Outro empecilho é a falta de mão de obra nas escolas para preparar opções diferenciadas. “Quando se tem uma equipe pequena, a escola acaba se rendendo aos industrializados”, lamenta. No entanto, Luiza acredita que cabe às instituições educarem as crianças em busca de uma alimentação melhor. “O colégio pode moldar as crianças, e não o contrário”, conclui.

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