Delator diz ter avisado Witzel duas vezes sobre esquema de propina
Ex-secretário é sabatinado pelo governador do Rio afastado durante uma hora e 41 minutos no Tribunal de Justiça do Rio
atualizado
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Rio de Janeiro – O ex-secretário estadual de saúde Edmar Santos afirmou que, em duas ocasiões, avisou ao governador do Rio afastado Wilson Witzel (PSC) sobre o esquema de propina envolvendo o pastor Everaldo. Na tarde desta quarta-feira (7/4), os dois estiveram frente à frente, durante uma hora e 41 minutos, no Tribunal Especial Misto (TEM), onde tramita o processo de impeachment contra Witzel.
Sabatinado pelo governador afastado, o médico Edmar Santos revelou que o governo tinha esquema de propina em todas as secretarias.
“Todas as OSS (organizações sociais de saúde) são comprometidas com propinas. Avisei ao senhor duas vezes que o pastor Everaldo e o Edson Torres estavam passando dos limites, o que comprometeria o funcionamento dos hospitais”, afirmou Edmar.
O empresário Edson Torres confessou ter recebido propina.
Edmar contou ainda que Witzel determinou repasse de R$ 21 milhões para Volta Redonda, e de R$ 16 milhões para Barra Mansa, ambas cidades do Sul Fluminense, para atender interesses de Gothardo Netto (ex-prefeito de Volta Redonda, preso em agosto do ano passado).
O delator disse ainda que as contas de Wilson Witzel, como escola dos filhos do governador afastado por exemplo, eram pagar por pastor Everaldo e pelo empresário Edson Torres. Edmar confirmou também, aos presentes, a existência do “Clube do Charuto”, grupo de interessados em fazer negócios se reuniam com Witzel, na varanda do Palácio, às quintas-feiras.
Agora, o ex-secretário vai ser questionado pela acusação, por deputados – como, por exemplo, Luiz Paulo Corrêa da Rocha (Cidadania). Em seguida, Witzel será interrogado.
Nota de repúdio
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro enviou uma nota de repúdio contra a fala do governador afastado, Wilson Witzel, de que o defensor público-geral do estado, Rodrigo Pacheco, por exercer cargo de confiança do governador em exercício, não poderia assumir sua defesa.
Em sessão de julgamento do processo de impeachment realizada na manhã desta quarta-feira (7/4), no Tribunal de Justiça, Witzel insinuou que informações estratégicas do processo poderiam ser repassadas ao governador em exercício, pondo em xeque a isenção, autonomia e ética – não apenas do defensor-geral, mas de toda a instituição.
“O sigilo e confidencialidade entre a parte e a defesa é um dos princípios elementares do Direito. Lançar suspeição acerca deste princípio, portanto, é uma ofensa grave a quem preza pela ética no exercício da sua função”, diz a nota.