Economia impõe 1ª crise a Lula, e transição tenta segurar expectativa
Indefinição sobre a política econômica do governo Lula faz mercado oscilar. Definições devem ficar para depois da COP27, no Egito
atualizado
Compartilhar notícia
Os vencedores da eleição presidencial enfrentam a primeira turbulência mais séria na preparação do novo governo, e a causa é a economia. A semana inicial da transição terminou tensa com as reações ao discurso de defesa dos gastos sociais feito pelo presidente eleito, que irritou o mercado financeiro pela falta de uma mensagem de compromisso com o equilíbrio fiscal.
A interpretação do mercado, de que Lula (PT) dissociou os compromissos sociais dos fiscais, levou a um tombo na Bolsa e à alta forte do dólar na quinta-feira (10/11). Desde então, a equipe de transição organizou uma operação para apagar o incêndio, lembrando o compromisso do petista com metas fiscais em seus governos anteriores e garantindo que haverá essa preocupação na gestão que começa em 2023.
A estratégia funcionou parcialmente na sexta (11/10), com a Bolsa se recuperando um pouco e o dólar caindo, mas não a ponto de equilibrar as perdas do dia anterior.
A instabilidade, porém, está contratada para os próximos dias, pois o que os donos do capital financeiro cobram, a transição não está disposta a dar, ainda: nomes e compromissos da equipe econômica que vai substituir o ministro da Economia, Paulo Guedes.
A ordem na equipe de Lula é declarar que haverá compromisso fiscal em equilíbrio com a necessidade de transferir renda para a população mais pobre. Quanto a nomes, a orientação é esperar, pois a montagem da equipe, como um todo, está ligada a negociações maiores, que incluem a busca por uma base parlamentar mais sólida.
O entendimento é de que anunciar nomes muito cedo pode ampliar o descontentamento de setores que não se sentirem contemplados.
O máximo que os aliados de Lula estão oferendo é dizer quem não vai ser ministro. Na sexta, o ex-ministro Guido Mantega, de quem o mercado não gosta por ter sido responsável pela Fazenda no governo de Dilma Rousseff (PT) em um momento turbulento, disse para a GloboNews que não vai assumir nenhum cargo no terceiro governo Lula.
A nomeação dele para a transição foi um dos motivos para o nervosismo do mercado na quinta, mas outro discurso que os lulistas têm repetido é que quem está na transição, em regra, não será ministro.
Questionado sobre as cobranças do mercado na mesma entrevista, Mantega foi fiel à tática de não detalhar os planos de metas do novo governo, mas atacou o teto de gastos criado pelo governo de Michel Temer (MDB) após o impeachment de Dilma.
“Tem de dar flexibilidade para o governo. O teto de gastos colocou uma camisa de força na economia brasileira, o que explica o crescimento pífio”, criticou ele, que falou sobre a possibilidade de diferentes regras fiscais para gastos sociais e para o salário mínimo.
PEC adiada foi sinalização positiva
Um dos motivos para a recuperação parcial do mercado nesta sexta foi a informação de que o envio para o Congresso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição foi adiado para a próxima semana. A percepção dos analistas foi que a equipe de transição não está fechada a críticas e pretende negociar.
Ainda na quinta, o relator-geral do Orçamento 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), confirmou que o governo eleito vai retirar o pagamento do Auxílio Brasil – que voltará a ser Bolsa Família – do teto de gastos para torná-lo permanente. A expectativa, portanto, é que o benefício seja mantido em R$ 600 mensais.
O senador eleito Wellington Dias (PT-PI), coordenador da área de Orçamento na equipe de transição, adiantou que, após as reuniões e sugestões recebidas ao longo da semana, o texto deve passar por revisões e será finalizado somente depois do aval de Lula.
O presidente eleito, aliás, pretende ganhar tempo para estudar mais o cenário e usará como estratégia sua viagem ao Egito, neste sábado (12/11), para participar da 27ª Cúpula das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP27).
Lula quer levar o debate para a política internacional e para a agenda ambiental. As reuniões bilaterais que já alinha com chefes de Estado e com o secretário-geral da ONU devem ajudar o futuro presidente a ocupar o noticiário, mas nem no Egito ele vai escapar de perguntas dos jornalistas sobre a política econômica local.
Para frustração do mercado, porém, o mais provável é que se Lula vá anunciar algum ministro ou ministra, possivelmente, na área do Meio Ambiente, que tem como uma das cotadas a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP). Ela fez parte da coalização de Lula no segundo turno e já está na COP27.
Coordenador da transição, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) voltou a São Paulo, onde ainda mora, na quinta e não deve retornar a Brasília antes do meio da próxima semana, o que também faz parte da estratégia de baixar um pouco o volume da pressão política em cima da equipe. Para Lula e seus aliados, a pressa é inimiga.