Volta de Lula pode levar Bolsonaro ao populismo, dizem economistas
Especialistas afirmam que a chance de uma disputa eleitoral entre Lula e Bolsonaro em 2022 ameaça agenda liberal defendida por Paulo Guedes
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A chance de uma disputa eleitoral em 2022 entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é vista por especialistas como uma ameaça à agenda liberal defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Para economistas ouvidos pelo Metrópoles, Bolsonaro deverá abandonar as privatizações e priorizar pautas assistencialistas com a intenção de agradar o eleitorado de Lula.
Logo após o anúncio da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, de anular os processos do ex-presidente, os principais indicadores econômicos começaram a responder negativamente. O dólar passou a operar em forte alta, chegando a R$ 5,79 nesta segunda-feira (8/3), enquanto o Ibovespa caía a quase 4%.
Com esses elementos na mesa, o economista-chefe da Nécton, André Perfeito, afirma que os próximos passos de Bolsonaro tenderão ao populismo.
“A agenda de privatizações, por exemplo, nos parece mais frágil hoje e muito provavelmente Bolsonaro elevará as parcelas do auxílio emergencial para contrapor a popularidade de Lula nos segmentos mais humildes da sociedade”, ponderou.
O especialista também chama atenção para a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (COPOM) aumentar a taxa Selic (a taxa básica da economia, que regula juros e outros preços) em 50 pontos nos próximos meses, chegando a 5%. Hoje, a taxa está em 2% ao ano. A mudança, de acordo com o economista, provocará uma curva de juros bastante inclinada ainda em 2021.
A economista da Nécton, Nathalie Marins, entende que a pressão no governo por políticas assistencialistas existe mesmo sem a chegada de Lula na disputa eleitoral.
“Acredito que o Bolsonaro pode tentar algum movimento contrário à equipe econômica nos próximos dias, elevando o atrito com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Isso pode ser feito a partir do aumento do valor ou da extensão do auxílio emergencial, o que é contrário à pasta”, afirmou. Em sua avaliação, o valor estabelecido para o benefício de R$ 250 parece pouco.
Guedes explicou, no entanto, que esse é um valor médio. Nessa segunda-feira (8/3), o ministro anunciou que o auxílio emergencial ficará entre R$ 175 e R$ 375.
“Se for uma família monoparental, dirigida por uma mulher, aí já é R$ 375. Se tiver um homem sozinho, já é R$ 175. Se for o casal, os dois, ai já são R$ 250. Isso é o Ministério da Cidadania, nós só fornecemos os parâmetros básicos, mas a decisão da amplitude é com o Ministério da Cidadania”, justificou em coletiva no Palácio do Planalto.
O economista-chefe da Infinity, Jason Vieira, explicou que essa retomada do benefício foi essencial para manter o eleitorado que Bolsonaro tirou do Lula. “O presidente vai querer preservar a indicação política que ele conseguiu”, afirmou.
Sobre abandonar a agenda liberal, Vieira diz que essa é uma “tentação” do governo. “Ao mesmo tempo, acredito que o Congresso não se contraponha ao Paulo Guedes. Manter os policiais civis e militares na PEC é um sinal disso”, pondera.
A solução, no diagnóstico do economista, para Bolsonaro reconquistar o mercado são as reformas tributária e administrativa. “A sinalização de reformas desidrata o Lula na hora. Ninguém vai trocar um viés político dentro do país que está funcionando economicamente. O mercado está preocupado com segurança política e institucional”, finalizou.
A votação da proposta na Câmara ocorrerá nesta quarta-feira (10/3). O texto precisa ser aprovado sem a inclusão de emendas, uma vez que, se isso ocorrer, retorna para análise do Senado.
O principal empecilho, atualmente, é o congelamento salarial de servidores públicos, entre eles militares e policiais civis. A alteração foi um pedido da equipe econômica como forma de contrapartida fiscal aos gastos públicos gerados pelo auxílio emergencial.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no entanto, sinalizou que pode até aceitar um acordo pela alteração, desde que não seja desfigurado por completo o texto original.