metropoles.com

Veja, na prática, por que caminhoneiros reclamam da alta do diesel

Parado em um posto de Anápolis, com a carteira zerada, o presidente da CNTRC precisou recorrer à esposa para pagar o abastecimento

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Arquivo pessoal
Caminhoneiro
1 de 1 Caminhoneiro - Foto: Arquivo pessoal

Plínio Nestor Dias, 49 anos, é um dos principais entusiastas da greve planejada para o dia 1º de novembro. Presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), o caminhoneiro diz que “paga para trabalhar” há alguns meses. Com a conta no negativo e três filhos para criar, abastecer o veículo tornou-se um drama neste ano.

Foi no mês passado, em uma viagem de Curitiba a Anápolis (Goiás), que Plínio se revoltou. Ao todo, o caminhoneiro havia recebido R$ 5.400 de frete para ir e voltar. O gasto das duas viagens, entretanto, deu R$ 6.800. Entre as despesas, o combustível foi o que mais pesou, tendo um custo de R$ 3.440.

Parado em um posto de Anápolis, com a carteira zerada, o presidente da CNTRC precisou recorrer à esposa para pagar o abastecimento do caminhão.

“Eu não tinha nada. Se ela não me mandasse o dinheiro, eu teria que dormir ali e esperar alguém me salvar. O meu lucro dessa viagem foi de zero e querem me falar ainda de auxílio-diesel de R$ 400? Isso não é nem um salário mínimo”, afirmou em conversa com o Metrópoles.

O auxílio-diesel é uma proposta do governo já quase descartada. Na ânsia de conter a greve, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou um benefício de R$ 400 mensais para a categoria. O subsídio começaria a ser pago em dezembro deste ano e se encerraria em dezembro de 2022.

A ideia, contudo, desagradou a classe. Representantes da categoria disseram que o valor não era o suficiente para cobrir nem um terço dos gastos. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), “caminhoneiros não querem esmola, querem dignidade”.

Novos aumentos

No meio desse cenário já tenso, na semana passada, os preços da gasolina e do óleo diesel vendidos nas refinarias da Petrobras voltaram a aumentar. O óleo diesel puro (antes da mistura com biodiesel) teve salto médio de R$ 0,28 por litro e passou a custar R$ 3,34 para as distribuidoras. O litro do diesel misturado ao biodiesel também ficou R$ 0,24 mais caro, passando a custar R$ 2,94, em média.

Para tentar colaborar com a manutenção dos preços nos valores vigentes em 1º de novembro de 2021 até 31 de janeiro de 2022, os estados e o Distrito Federal aprovaram o congelamento do valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado nas vendas de combustíveis por três meses. Mais uma vez, a ideia não agradou.

“As propostas não atendem as demandas dos caminhoneiros. Manteremos nossas exigências e greve em 1º de novembro”, afirmou o organizador da paralisação de 2018, Wallace Landim, conhecido popularmente como Chorão.

Segundo o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, o ICMS é apenas um dos componentes do custo dos combustíveis e, por isso, não deve ter o efeito esperado. “Não vai fazer cair o preço. Só vai deixar de piorar. Se subir a gasolina por algum motivo, o ICMS não sobe junto”, explicou.

Os caminhoneiros insistem numa mudança na política de preços da Petrobras. Atualmente, a companhia acompanha os custos do mercado internacional. A categoria quer que seja estabelecido um padrão nacional.

“O governo já decidiu que a política de preços da Petrobras vai continuar da forma que está. Então não tem o que fazer. Aparentemente, o governo não quer fazer nada para mudar isso. No Brasil, é tudo 8 ou 80: ou se segura o preço ou libera o preço o tempo todo. Daria para construir soluções no meio do caminho”, sugeriu o economista.

Confira os gastos de um motorista em uma viagem de Salvador a São Paulo:

Gastos de uma viagem de caminhão de Salvador a São Paulo

Lucro zero

Enquanto as autoridades não acertam as medidas, caminhoneiros sofrem para conseguir honrar as dívidas.  O motorista autônomo Juarez Santos Manoel Vitorino de Salvador (BA) explicou que em uma viagem saindo de Salvador para São Paulo, carregando polietileno, recebeu um frete no valor de R$ 5.500,00. Esse montante está abaixo da tabela, cujo custo oscila entre R$ 9 mil e 10 mil.

Neste trajeto (2 mil km), Juarez gastou R$ 500 de pedágio e RS 4.172,00 de diesel. Com o novo aumento da Petrobras, no valor de R$ 5,26, sua despesa seria ainda maior.

Nesta conta, sobrou somente R$ 828, mas foi preciso pagar um motorista ajudante por R$ 800 e mais R$ 200 de alimentação. Ou seja, ao invés de lucrar com o trabalho, 0 caminhoneiro teve prejuízo, compensando mais ficar em casa.

De acordo com o porta-voz da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, no mínimo, o gasto com combustível é de 50% do valor do frete. O caminhoneiro avalia que “em vez de tratar a causa, o governo quer tratar o efeito colateral dela. É preciso extirpar o mal dessa política errada da Petrobras, que começou no governo Temer e segue no governo Bolsonaro”, disse.

Confira gastos de um motorista e gastos dele em uma viagem:

Lucros e gastos de um motorista de caminhão no Brasil

 

 

 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?