Second hand, mercado sustentável que movimenta bilhões, ganha força mundial
Transações feitas em 2019, por meio de plataformas de usados, pouparam a emissão de 6 milhões de toneladas de CO² na atmosfera
atualizado
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Recentemente, um novo público passou a consumir produtos usados ou seminovos. O comércio conhecido como second hand ganha força no mundo todo, devido à preocupação com o sustentabilidade e a relação do vintage com a moda atual. Segundo uma pesquisa da empresa de análise de varejo GlobalData, estima-se que o valor movimentado pelo segmento em todo o mundo deve ir de US$ 24 bilhões em 2019 para US$ 51 bilhões em 2025, o que equivale a um aumento de 112,5%.
A OLX, empresa presente em 45 países e conhecida por incentivar o desapego e o consumo consciente, viu o seu acesso alavancar durante a quarentena. De acordo com o diretor financeiro da empresa, Joel Rennó, o número de visitantes no Brasil aumentou em mais de 30% e ultrapassou os 8 milhões.
Para Rennó, a alta no número dos acessos, neste período, não se dá somente pelo isolamento e pelo fechamento do comércio durante a pandemia, mas também por uma preocupação social: “A pandemia acelerou a ideia de conscientização. Percebemos no início da quarentena o quanto o mundo ficou modificado, como por exemplo em Veneza, onde as águas voltaram a ser cristalinas poucas semanas após a reclusão das pessoas. Estamos bem mais preocupados com o que vamos deixar para as futuras gerações”.
Um estudo chamado Second Hand Effect, encomendado pela OLX Brasil e que analisou os efeitos positivos do comércio de bens usados, revelou que as transações feitas em 2019, por meio da plataforma, pouparam a emissão de 6 milhões de toneladas de CO² na atmosfera.
Esse volume representa o mesmo que parar completamente o tráfego de veículos na cidade do Rio de Janeiro por 14 meses ou interromper 5,4 milhões de voos de ida e volta entre a capital fluminense e Nova York, nos EUA.
Os dados são baseados no princípio de que, ao se adquirir um item usado ou seminovo, a compra de um produto novo é evitada e, consequentemente, as emissões associadas a sua produção também. Além disso, o item usado vendido não será descartado e as emissões de gases relacionadas à gestão de seus resíduos também serão poupadas.
Brechós
A economia compartilhada também se tornou tendência quando a questão é obter peças de roupas. Recentemente, um novo público passou a frequentar os brechós: são jovens e nostálgicos que buscam a moda vintage para resgatar um estilo de roupas e acessórios pessoais de décadas passadas.
No Brasil, o crescimento dessa tendência vem de vento em popa. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), já são mais de 14 mil brechós abertos pelo país.
Rachel Smidt, 36 anos, fundadora do Lixo Mania, um brechó com sede em Brasília (DF), confirma que, além de ser tendência, esse tipo de comércio ganhou grande visibilidade durante a pandemia: “As pessoas estão cada vez mais consumindo de formas alternativas. Vi que durante esta pandemia o número de brechós pipocou. Acho que tem a ver com as pessoas estarem precisando de renda e também tem um pouco de consciência ambiental”.
Ela também conta que o Lixo Mania surgiu de uma criação bem orgânica. “Fazia garimpo em brechós há mais ou menos 20 anos e fui achando peças fantásticas, mas que não eram para o corpo. Então fui comprando e resolvi abrir um brechó. Demorei para ter coragem, mas deu tudo certo”, relata Rachel.
Vantagens
Para Rachel Smidt, uma das vantagens do consumo em brechós é a qualidade das peças: “Se você compra um biquíni em uma loja de departamento, provavelmente ele vai durar aquela praia. Tenho aqui no meu acervo um biquíni dos anos 70 que está inteiraço, inclusive as cores. Isso é fantástico; você consumir um produto que vai durar uma vida. É para isso que as coisas deveriam ser produzidas. Para a gente ter e usÁ-las por muito tempo”.
A empresária também alerta que é importante ter um consumo consciente. “Usar uma roupa de brechó me faz pensar que estou honrando as pessoas que fizeram essa peça, honrando todo o processo, toda a água e toda a energia que foram gastas. Me dá uma sensação muito bacana de que estou contribuindo para o um mundo mais sustentável”, diz.
Todos os gostos e bolsos
Com uma grande diversidade, os brechós atuais vendem peças desde o desapego de guarda-roupa, abordando peças atuais, de vintages até peças de luxo.
Nos locais que vendem artigos de luxo, é possível encontrar peças de grifes famosas por R$ 5 mil. Modelos que, se fossem comprados novos, custariam em torno de R$ 20 mil. Por outro lado, existem os brechós mais populares, com itens a partir de R$ 5, que mantêm uma grande variedade de ofertas.
Um estudo sobre o consumo de luxo, realizado pela Boston Consulting Group, o “BCG-Altagamma True-Luxury Global Consumer Insight 2019”, revelou que a compra e venda de produtos de luxo usados está crescendo 12% ao ano entre os milionários e bilionários. Esse tipo de comércio representa 7% do mercado de luxo.
É a classe alta se voltando para a sustentabilidade.