metropoles.com

Incerteza sobre eleição e rumos da economia gera temor em investidores

Avaliação é de que “caiu a ficha” no mercado, de que está mais difícil para um candidato de centro e reformista vencer as eleições

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
MICHAEL MELO/METRÓPOLES
Michael Melo/Metrópoles
1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: MICHAEL MELO/METRÓPOLES

A disparada do dólar nos últimos dias foi motivada pelo desfecho que teve a greve dos caminhoneiros, associada ao retrocesso da economia e às dúvidas sobre o rumo da política econômica após as eleições – quase uma tempestade perfeita, na avaliação de economistas. O temor dos investidores é que o quadro eleitoral que vem se desenhando nas pesquisas – sem um candidato de centro no segundo turno – se confirme.

“Tudo está vinculado às eleições, sendo que as pesquisas eleitorais apontam para um segundo turno com dois extremos, um de direita e outro de esquerda. Algo a que o investidor, principalmente o externo, tem forte rejeição, especialmente com o histórico da América Latina”, diz o ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni. “O risco político domina a formação do risco do País.”

Uma pesquisa da XP Investimentos feita entre os dias 4 e 5 de junho, e publicada nesta quinta-feira, 07, mostra que 44% dos investidores acreditam em um segundo turno com Jair Bolsonaro e Ciro Gomes – e 48% veem uma vitória de Bolsonaro.

Segundo o ex-diretor do Banco Central (BC) e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Júlio Senna, as condições financeiras internacionais, que foram favoráveis ao Brasil durante dois anos, começaram a piorar em janeiro e estão estáveis desde maio. A partir daí, o que houve de piora está ligado ao ambiente doméstico, com destaque para a paralisação dos caminhoneiros. “No momento em que percebemos que existe uma espécie de identificação de um governo impopular com uma agenda de reformas, os eleitores tendem a rejeitar candidatos que falem de reformas. É isso o que o mercado está vivendo agora. Está caindo a ficha”, afirmou o ex-diretor do BC.

Embora o cenário atual remeta aos meses que antecederam as eleições de 2002, quando o dólar atingiu o patamar de R$ 3,99, o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, diz que o movimento de saída dos investidores guarda diferenças importantes com o que se viu naquele ano. Naquele momento, as contas externas brasileiras estavam ruins, além de as empresas estarem mais endividadas em dólar. Havia em 2002 uma “espiral que realimentava a crise”, diz o economista, que agora se reduziu. Já as constas fiscais agora estão muito piores do que em 2002 e mais difíceis de serem corrigidas, ressalta Schwartsman. Com o fiscal tão ruim, ele afirma que cresce a expectativa por um candidato com perfil mais reformista.

Sem essa alternativa, a avaliação de Luis Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, é de que a volatilidade deve aumentar até as eleições de outubro. “Até a semana passada, o dólar refletia muito a turbulência internacional. Agora, em cima disso, vem uma percepção crescente do mercado de que talvez não exista um candidato de centro que seja viável”, afirma. “Sobram o Jair Bolsonaro, o Ciro Gomes e, eventualmente, um candidato do PT; tudo isso é muito ruim para o mercado.” Segundo Assis, ainda que haja simpatizantes do economistas Paulo Guedes (responsável pelo programa econômico de Bolsonaro), os investidores estão se acostumando com a ideia de um processo eleitoral que vai ser mais difícil e que talvez tenha um segundo turno em que nenhum dos dois candidatos levante a bandeira das reformas que o mercado defende.

O economista-chefe da Mapfre Investimentos, Luis Afonso Lima, pondera que o forte movimento de venda de ativos brasileiros é uma reação atrasada do mercado. “O mercado comprou um cenário muito positivo, de muita tranquilidade. E essa volatilidade veio pra ficar, ao sabor das pesquisas eleitorais”, disse Lima. Ele rejeita a tese de que o mercado está em meio a um ataque especulativo e defende que se trata de um movimento de proteção dos investidores. “No mundo o dólar está perdendo em relação a outras moedas. Só perante o real que está ganhando. Isso sinaliza uma desconfiança, uma insegurança em relação ao Brasil.”

Pressão
Em meio à tensão dos mercados e disparada da cotação do dólar nesta semana, analistas questionam uma resposta do Banco Central. O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, cobrou que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, apresente alguma comunicação o mais rápido possível. “Estamos no terceiro dia com o mercado disfuncional e o Ilan não aparece para dar uma entrevista. É um silêncio ensurdecedor”, disse.

Weeks reconhece que o fundamento piorou um pouco no Brasil, em razão da crise causada pela greve dos caminhoneiros, mas considera que parte do comportamento do mercado se deve a uma percepção de que o BC está com a “mão fraca” no câmbio.

“Ontem (quarta-feira) o BC fez intervenção no meio do dia de US$ 1,5 bilhão, não foi suficiente e depois ele não fez nada. É como se ele tivesse ido para a briga, tomado um soco e depois desistido. Hoje (quinta) o BC fez isso de novo. Veio com mais US$ 2 bilhões e não foi suficiente”, disse. “Há uma percepção de que o BC está sempre fazendo pouco e pedindo desculpas depois. O mercado vê que o BC está com mão fraca no câmbio e por isso está testando”, acrescentou.

Na opinião de Weeks, a melhor forma de o BC lidar com a situação seria anunciando um programa para atuar no câmbio até o fim do ano. “Se o BC não age no câmbio, terá de fazer um choque de juros, como fizeram Turquia e Argentina. Mas é insanidade colocar o Brasil no mesmo grupo desses dois países que têm contas externas horrorosas. É insanidade tomar ataque especulativo na moeda sem ter déficit em conta corrente e com US$ 380 bilhões de reservas”, disse.

Nessa linha, o economista considera que o atual cenário, embora inclua o risco eleitoral, é diferente do de 2002. “Em 2002 nós éramos muito mais parecidos com Argentina. Tínhamos 4% de déficit em conta corrente, que hoje é zero. Tínhamos 6% do PIB de reservas e hoje são quase 20%. Tínhamos inflação em cima da meta e hoje temos inflação abaixo do piso. Hoje temos uma linha de defesa. Se o BC não fizer nada, amanhã vai abrir pior”, disse.

As projeções da Garde, por enquanto, são de 1,5% para crescimento do PIB em 2018, dólar a R$ 3,80 no fim do ano, IPCA a 3,85% em 2018 e manutenção da Selic na próxima reunião do Copom. As previsões, no entanto, podem ser alteradas, a depender da resposta que o BC dará ao nervosismo do mercado.

Armas
Entre as “armas” à disposição do BC, o economista-chefe da ModalMais, Álvaro Bandeira , citou as reservas internacionais brasileiras, na casa dos US$ 382 bilhões, e vendas à vista, as operações de swap cambial, que recentemente voltaram a ser lançadas com maior frequência, e leilões de linha de dólares com compromisso de recompra.

O economista ressaltou que, para interpretar o movimento nos mercados, é preciso ter em mente o cenário externo e interno. “Temos que considerar duas coisas. Primeiro, temos o dólar forte no mundo – aqui está um pouco mais forte, pois a economia está desequilibrada, temos um déficit fiscal enorme, um endividamento muito alto em relação ao PIB e a economia desacelerada”, comentou o economista.

“Além disso tudo, temos todo o processo eleitoral, que está muito incerto. A percepção de risco se reflete sobre a precificação dos ativos”, explicou. “É um quadro bastante conturbado, mas não dá para dizer que é um ataque especulativo”, afirmou Bandeira, para quem o desempenho do Ibovespa nesta tarde, que chegou a recuar mais de 7% e ameaçar a marca dos 71 mil pontos, “é um retrato” deste contexto.

Em relação ao horizonte próximo, o economista avalia que a inflação deverá ser impactada. “Temos boas chances de a inflação começar a subir, mas ainda está longe do centro da meta e há algum espaço”, explicou. Justamente por isso, apontou Bandeira, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter, ao menos na próxima reunião (19 e 20 de junho) a taxa básica de juros da economia brasileira em 6,50% ao ano. “Acho que a elevação dos juros é inevitável, mas agora não. Pode ser que [a Selic] seja elevada nos próximos encontros”, disse.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?