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Recessão econômica trava encomendas de Natal

Com estoques ainda elevados no varejo e uma perspectiva desfavorável de vendas no natal, as lojas estão fazendo os pedidos a conta-gotas

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Natal shopping
1 de 1 Natal shopping - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O Natal para os fabricantes de eletrodomésticos e eletrônicos, que normalmente ocorre em outubro, por conta das encomendas feitas pelo comércio, neste ano está atrasado. Com estoques ainda elevados no varejo e na indústria e uma perspectiva desfavorável de vendas no final de ano, as lojas estão fazendo os pedidos a conta-gotas.

O resultado dessa maior cautela aparece no ritmo de produção das fábricas da Zona Franca de Manaus (AM), que concentra a produção de aparelhos de áudio e vídeo. Hoje as indústrias do polo, que em épocas normais estariam trabalhando a todo vapor, ocupam cerca da metade da capacidade de produção, segundo o presidente Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), Wilson Périco Também as empresas praticamente não contrataram trabalhadores temporários para o fim de ano.

“A demanda de produtos para o Natal não aconteceu. É a primeira vez em 25 anos que presencio isso”, diz o presidente do CIEAM. Normalmente, observa Périco, o quadro de pessoal nas indústrias cresce entre 6% e 7% de outubro a janeiro para atender ao aumento da produção de fim de ano.

Além de não contratar temporários, o emprego dos trabalhadores que ocupam vagas regulares nas indústrias da Zona Franca deu marcha à ré. O segmento de eletroeletrônicos, que encerrou 2015 com 41,2 mil empregados, tinha em agosto deste ano 31,4 mil trabalhadores, segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). A reportagem apurou também que há empresas que reduziram turnos de trabalho.

Outro sinal de fraqueza da atividade aparece nas quantidades fabricadas de produtos, que caíram em quase todos os segmentos de eletrônico. De janeiro a agosto – o último dado disponível da Suframa-, o volume fabricado de aparelhos de ar condicionado split recuou 60% em relação ao mesmo período de 2015. No forno de micro-ondas, a retração foi 40% e nas TVs, item tido como o carro-chefe de consumo da linha de áudio e vídeo, a queda foi de 20%, nas mesmas bases de comparação.

Dia a dia
Um executivo de uma grande indústria confirma que os varejistas estão comprando os produtos “no dia a dia”. Segundo ele, os lojistas enxergam na Black Friday, a megaliquidação do varejo marcada para a última sexta-feira deste mês, a oportunidade para aliviar os estoques que estão elevados nas lojas.

Já na opinião de Domingos José Alves, supervisor-geral da Lojas Cem, o acúmulo de estoque está na indústria. “Estamos comprando de acordo com a necessidade”, afirma o executivo, que dirige uma rede varejista de 243 lojas especializadas em móveis e eletroeletrônicos.

Alves conta que neste ano encomendou um volume de produtos equivalente ao pedido feito no fim de 2015. Segundo ele, a sua rede foi a única que, até agora, fez a programação de compras para o fim de ano, de acordo com relatos de indústrias.

Procuradas, a rede Magazine Luiza, a fabricante de eletrodomésticos Electrolux e a Samsung, de eletrônicos, disseram não tinham porta-voz disponível para falar sobre o tema A Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, alegou que está em período de silêncio por causa do processo de fechamento de capital no Brasil.

Depósitos abarrotados
Não é sem motivos que há um jogo de empurra entre o varejo e a indústria para identificar onde há acúmulo de mercadorias. Com ou sem recessão, o volume de estoque funciona como uma espécie de moeda de troca importante nas negociações entre lojas e fábricas. Mas indicadores revelam que de setembro para outubro houve aumento da parcela de empresas insatisfeitas com o nível de estoques, tanto na indústria como no comércio varejista.

Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que, diante da dificuldade de retomada das vendas na ponta, lojistas iniciaram o principal trimestre para o varejo com percepção de piora dos estoques. “Os resultados mostram que os comerciantes se consideram mais estocados na comparação com setembro deste ano e outubro do ano passado”, observa a economista da CNC, Izis Janote Ferreira. No mês passado, mais de um terço (35%) dos varejistas de bens duráveis, que inclui eletrodomésticos, eletrônicos, por exemplo, consideraram seus estoques acima do adequado ao volume de vendas. Em outubro de 2015, essa fatia era um pouco menor (34,2%).

Fraqueza
Segundo Izis, a dificuldade de ajustar os volumes de mercadorias acumuladas nos depósitos das lojas à demanda mais fraca não estimula as encomendas de fim de ano, especialmente quando se espera mais um ano de retração nas vendas de Natal. Nas contas da CNC, o volume de vendas do varejo restrito, que não inclui materiais de construção e veículos, deve cair neste ano 3,5% sobre o de dezembro de 2015. No final do ano passado, o recuo foi de 7% sobre 2014. “É queda sobre queda”, ressalta.

Em outubro, após evoluir favoravelmente nos meses anteriores, chegando próximo a uma situação de normalidade em setembro, as avaliações sobre os estoques da indústria voltaram a piorar, segundo a sondagem industrial da Fundação Getulio Vargas (FGV). Dos 19 segmentos industriais pesquisados, em 14 aumentou a parcela empresas que considera os estoques excessivos. Em setembro, eram apenas seis nessa condição. A piora na avaliação dos estoques foi o fator que contribuiu para a queda da confiança da indústria no mês passado, depois de vários meses de recuperação do indicador.

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