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Reajuste diário da Petrobras demora a chegar aos postos

Além disso, os ataques de piratas a terminais de combustíveis romperam as fronteiras da Amazônia e chegaram ao eixo Rio-São Paulo

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Posto de combustível
1 de 1 Posto de combustível - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Desde o início da nova política de preços de combustíveis, no início deste mês, a Petrobras reajustou os preços dos produtos 18 vezes, quase uma por dia. A última mudança começou a valer no sábado (29/7): queda de 0,2% no diesel e alta de 1% na gasolina. No acumulado do mês, sem considerar a elevação de impostos anunciada no dia 20 deste mês, a gasolina ficou 2,6% mais cara nas refinarias. Já o diesel subiu 6,4%, conforme o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

O “sobe e desce” ainda não chegou aos consumidores, mas, no longo prazo, a tendência é de queda. Desde que a Petrobras passou a alinhar seus preços com o mercado internacional, em outubro de 2016, o preço da gasolina acumula queda de 13,8% e o do diesel, de 12,1%. Antes do estabelecimento da flutuação diária, as mudanças de preço eram mensais.

Um cenário semelhante ao dos Estados Unidos, com preços nas bombas mudando quase todo dia, porém, parece distante. Conforme levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre a semana encerrada em 1º de julho e a encerrada em 22 julho, houve baixa para os consumidores, na média nacional: -1,31% na gasolina e -1,32% no diesel.

Os preços nas bombas não refletem o sobe e desce dos valores anunciados pela Petrobras porque os distribuidores, que compram os combustíveis nas refinarias e revendem aos postos, seguram repasses, segundo o presidente do Sindicato dos Donos de Postos de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Gouveia. “No momento, está todo mundo perdido. Os reajustes estão tão constantes que não dá para mexer na bomba”, lamentou Gouveia.

Neste primeiro mês, a prática no mercado paulista tem sido segurar repasses inferiores a 2,5%, embora cada distribuidor tenha sua política de preços, acrescentou Gouveia. Procurado, o Sindicato Nacional das Distribuidoras (Sindicom) não quis se manifestar.

Segundo o consultor John Forman, ex-diretor da ANP, em muitos países, é comum que a definição dos preços de combustíveis passe por decisões políticas, em função da maior ou menor presença do Estado na economia.

No Brasil, não há regulação formal dos preços. Porém, como a Petrobras controla quase todas as refinarias, a estatal acaba tendo este papel. Forman lembra que, principalmente no primeiro governo Dilma Rousseff (PT), a estatal perdeu bilhões de reais aos segurar os preços da gasolina para evitar a inflação, enquanto os preços internacionais estavam nas alturas.

Mudança
Com a mudança na política de preços, no longo prazo a tendência é haver mais variação nos valores na hora de abastecer. Para Forman, a mudança é positiva. “A competição beneficia o consumidor final, enquanto se você tiver tudo regulado, o consumidor fica sujeito ao critério de quem fixou os valores”, disse Forman.

“No Brasil, temos a cultura de achar que a gasolina é diferente do arroz e do café”, afirmou o diretor do CBIE, Adriano Pires, lembrando que tanto o petróleo quanto os grãos são commodities cujos preços são cotados diariamente.

Entre consumidores, ainda há desconfiança com a variação diária dos preços. “Nos Estados Unidos, o preço sobe e abaixa. Aqui, nunca abaixa”, reclamou a bancária paulistana Márcia Oliveira de Abreu, de 52 anos, que viaja ao Rio de Janeiro frequentemente a trabalho e abastecia o carro alugado no posto BR perto do Aeroporto Santos Dumont na última quinta-feira (27).

“O consumidor vai gostar menos. Vai ficar igualzinho ao supermercado na época da inflação. Todo dia tinha um preço diferente e a gente não sabia quanto ia pagar”, disse Carlos Henrique Rosa Saldanha, frentista há 20 anos no Rio. “O preço da gasolina só sobe. Nunca vi baixar”, disse iluminador Julio Katona, de 51 anos, enquanto abastecia após viagem de carro, a trabalho, por cidades da região serrana do Rio.

Piratas
Os ataques de piratas romperam as fronteiras da Amazônia e chegaram ao eixo Rio-São Paulo. Os principais alvos são os terminais de armazenamento de combustível da Petrobras e de outras petroleiras na Ilha do Governador (RJ), em São Sebastião e no Porto de Santos, no litoral paulista. Assim como nas ocorrências da Amazônia, os criminosos agem encapuzados e armados e usam pequenos barcos pequenos de alta velocidade para acessar os terminais.

“O píer está em águas marinhas. A cerca das distribuidoras vai até o limite da água. Por dentro das instalações eles não vão, pois teriam de passar por portaria, unidades de destilação. Então, quando fazem alguma dessas ações, é pela água, que pertence ao estado e deveria estar sendo vigiada”, explicou uma fonte ligada às distribuidoras de combustíveis.

Empresas que atuam na área de logística passaram a contratar serviços de segurança para evitar ataques de piratas. É o caso da Brasbunker, responsável por parte do transporte de derivados de petróleo da Petrobras, que tem serviço de proteção patrimonial 24 horas para conter sobretudo o roubo de diesel.

“A empresa teve de criar sua própria área de segurança patrimonial para defender suas embarcações e cargas”, afirmou o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação de Tráfego Portuário (Sindiporto Brasil), Carlos Augusto de Souza Aguiar Cordovil, que comandou a diretoria de apoio portuário da Brasbunker por vários anos. Após a criação do departamento, ao custo de R$ 1 milhão por ano, não houve mais registros de roubo de combustível, segundo Cordovil.

A Baía de Guanabara, porém, continua na mira dos piratas, que atacaram o navio Jean Charcot — que, segundo o presidente da Sindiporto Brasil, veio da Inglaterra para o Brasil prestar serviços para a Petrobras, e foi invadido em fevereiro de 2016.

O diretor da Federação Nacional de Petroleiros (FNP), Lourival Júnior, confirma as ocorrências. “Os piratas chegam à Ilha do Governador pela Baía de Guanabara. Adentram áreas da Petrobras e trocam tiros com os vigilantes”.

Segundo fontes ligadas ao setor, o mesmo ocorre no litoral paulista, em áreas como o terminal da Transpetro, em São Sebastião, e o Porto de Santos. Segundo fonte das distribuidoras, o problema não se restringe à Petrobras e afeta também outras companhias.

Além de combustível, os piratas roubam equipamentos de navegação das embarcações, como radares, afirma José Rebelo, vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária (Fenavega). “O combustível é sempre a principal motivação, pois é fácil de vender.”

Outro lado
Em nota, a estatal negou a existência de registros de ataques piratas a seus ativos na Baía de Guanabara. A companhia informou que o navio Jean Charcot não prestou serviço à companhia. “A Petrobras conta com segurança patrimonial para proteção da força de trabalho e das instalações. Há várias embarcações fundeadas na Baía de Guanabara e cada uma faz a gestão da sua segurança.”

A Petrobras confirmou dois registros de tentativas de furto de combustível na Refinaria de Manaus e seis de furtos de materiais este ano no Terminal Aquaviário de Coari, mas negou roubos de equipamentos no Porto de Encontro às Águas, em Manaus.

A Marinha disse, também em nota, que se tratam de crimes comuns, de competência dos órgãos de segurança pública. A Polícia Civil de São Paulo disse não ter registros de ocorrência de ações de piratas. A Secretaria de Segurança Pública do Rio não se manifestou.

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