Presidente da CNI defende rever gastos, mas critica aumento de juros
Ricardo Alban, presidente da CNI, defendeu “compromisso geral” com a racionalidade dos gastos públicos
atualizado
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O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu nesta terça-feira (17/12) as medidas de revisão de gastos apresentadas pelo governo Lula (PT). O pacote de medidas está em discussão no Congresso Nacional e visa economizar R$ 70 bilhões entre os anos de 2025 e 2026.
“As medidas estão no caminho certo. Elas são suficientes? Provavelmente não. E ficam mais insuficientes ainda se olharmos o prisma do déficit nominal”, disse Ricardo Alban em coletiva de imprensa na sede da CNI, em Brasília.
Alban frisou que o governo tem um viés muito social, que é acompanhado por um custo.
Ele criticou o aumento da taxa básica de juros, a Selic, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que, na semana passada, elevou a taxa para 12,25% ao ano e projetou novos aumentos para o primeiro trimestre de 2025.
“Eu não me lembro em nenhum momento de ao final da reunião do Copom ser precificado aumento de juros, ainda por cima com alta. Sempre vi viés de alta, de baixa ou neutro. Isso ajuda no controle da inflação? Eu creio que não. Não entendo. Ninguém aqui vai discordar que é preciso ter racionalidade nos gastos públicos, é preciso ter equilíbrio fiscal”, afirmou o presidente.
“Estamos criando condições, a meu ver, de termos pressão inflacionária com falta de oferta. Não foi por falta de demanda.”
Para Alban, houve “grande equívoco” por parte do governo ao apresentar o pacote de corte de gastos acompanhado da medida de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR). “Ela [a ampliação do IR] criou mais ruídos e contaminou os formadores de opinião sobre se a isenção vai ser coberta. Essa discussão não precisava ser feita agora”, argumentou.
Inflação
A Confederação da Indústria projeta que a inflação de 2024 vai estourar o teto da meta, ficando em 4,8% (o teto é de 4,5%). “Tivemos condições climáticas afetando preços de alimentos e de energia”, explicou o superintendente de Economia, Mário Sérgio Telles.
Já para o ano que vem, a CNI calcula que a inflação vai baixar para 4,2%, desacelerando frente a 2024. Esse movimento é explicado pelo menor crescimento do PIB, ritmo mais lento do mercado de trabalho, intensificação do aperto monetário, redução do impulso fiscal e menor pressão sobre o preço dos alimentos e da energia
Segundo a entidade, os preços industriais deve crescer 2,5% neste ano e 3,2% no próximo. “Não vai ser um repasse tão significativo em razão da demanda menor”, explicou Telles.
O presidente da CNI disse que o novo patamar de dólar não tem como não refletir na economia, além do impacto dos juros. “Na cadeia de manufatura é devastador”, disse ele, citando efeito multiplicador nos preços.
Ricardo Alban pontuou, porém, que há outras ferramentas para atuar. “Não precisa ser necessariamente através de taxa de juros. O fundamental é a racionalidade dos gastos públicos no geral.”