Prepare o bolso: trigo e óleo de soja devem seguir em alta
Fórum Econômico Mundial alerta para risco de crise global de desabastecimento desencadeada pela guerra na Ucrânia; Brasil pode ser afetado
atualizado
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Líderes mundiais se reúnem em Davos, na Suiça, desde o último domingo (22/5) para o Fórum Econômico Mundial. Entre os principais temas da edição, estão a invasão russa na Ucrânia e suas consequências geopolíticas, financeiras e alimentares.
“Já são evidentes os sinais de uma crescente crise alimentar mundial”, alertou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em discurso. Sinais esses que começam a preocupar especialistas brasileiros.
Em relatório divulgado durante o evento, economistas-chefes dos principais bancos internacionais apontam que o atual cenário no território ucraniano aumenta, ainda mais, o preço dos alimentos em todo o mundo. Para o economista e professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (Ibmec), William Baghdassarian, é certo que os mercados brasileiros sofrerão com a alta de preço, mas a princípio, “em produtos específicos”.
O trigo é um desses alimentos. Rússia e Ucrânia são, respectivamente, o quinto e o quarto maior exportador do grão no mundo. O valor do produto, que já vinha subindo no Brasil desde 2021, saltou após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Segundo relatório da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), o preço do trigo subiu 2,3% entre março e abril no mercado interno.
O levantamento mostra que, de abril de 2021 a abril de 2022, o valor pago pelo cereal no mercado interno teve alta de 18,5%. O preço em dólar do trigo importado subiu 1,8% no mês e 76% no ano. A alta não é limitada ao trigo: ainda segundo avaliação da Abia, o preço do café robusta cresceu 6,1% no mercado interno de março a abril, e os valores tendem a seguir pressionados.
O milho e óleo de soja também sobem. O segundo, devido ao aumento do valor do biodiesel, que é feito à base de óleo de soja e está sendo muito demandado. “Os preços internacionais permanecem com tendência de alta, elevando os do mercado interno e os dos demais países do Mercosul”, indicou o presidente da Abia, João Dornellas.
Para Baghdassarian, a guerra nos oferece dois possíveis cenários para o próximo (ou este) ano no mercado de alimentos brasileiro. Ou o preço dos produtos vai subir, devido à alta procura e baixa oferta; ou eles sequer chegarão às prateleiras, levando em consideração, também, a provável escassez de diesel projetada por representantes do setor.
“Pode ser que não falte, mas com certa irá encarecer. Um desabastecimento internacional pode virar um reajuste de preço aqui no Brasil”, pontua o economista.
Ele explica que, por mais que alimentos como trigo sejam produzidos no Brasil, se países diretamente afetados pela guerra oferecem mais, os produtores vão vender para fora. Consequentemente, o mercado da sua esquina também reajusta os preços, já que a oferta está baixa.
O cientista político e analista do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), Leonardo Paz Neves, acentua que a maior preocupação, agora, é a crise de combustíveis. “Temos uma dinâmica complicada em que vários países da Europa têm tentado diminuir a dependência dos russos. Há reorganização de compras de combustíveis, como petróleo e diesel. Por exemplo, os EUA, que vendiam óleo para o Brasil, passam a vender mais para a Europa”, explica.
Chamado por Neves como “reconfiguração”, o atual cenário no mercado internacional de combustíveis deve gerar um grande problema a curto prazo. “Para este ano, uma crise de desabastecimento de alimentos é pouco provável”, opina o especialista. “O que o brasileiro pode esperar é a elevação de preços dos produtos devido à inflação.”