Por que o mercado não gosta da ideia de Haddad na Fazenda?
Haddad, ex-ministro da Educação, é visto como um nome político e incapaz de ser “fiador” do plano de recuperação da confiança do mercado
atualizado
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A transição do governo de Jair Bolsonaro para o próximo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva está sendo visto por agentes financeiros como um processo, no mínimo, tumultuado. A falta de clareza sobre o tamanho da conta que ficará fora do teto de gastos e a indefinição sobre a composição da equipe econômica do novo governo de Lula estão cobrando seu preço.
A Bolsa acumula queda de 5% desde a véspera da eleição e o dólar, que chegou à casa dos R$ 5,06 no início do mês agora já escala para patamares próximos a R$ 5,40. E a tensão do mercado só aumentou nesta sexta-feira (18/11), quando circularam rumores de que o favorito para assumir o Ministério da Fazenda é realmente Fernando Haddad, candidato derrotado ao governo de São Paulo e ex-ministro da Educação.
O mercado torceu o nariz para a possível indicação de Haddad para a Fazenda por duas razões: primeiro porque havia expectativa da nomeação de um ministro da ala técnica, ou ao menos de um ministro da “frente ampla”, que não viesse da base petista.
E a segunda razão é que, dado que Haddad vem da base do partido, possivelmente o que falará mais alto é a visão do futuro presidente – e Lula tem defendido abertamente a “desobediência” fiscal em falas recentes.
Na visão de gestores e analistas do mundo financeiro, se a nomeação de Haddad for para frente, o abismo do mercado vai se aprofundar. E aqui leia-se: juros futuros mais elevados, dólar subindo e ativos da bolsa em baixa. O problema, diz um deles, é que Lula optou por fazer uma transição com um custo mais elevado.
“O Lula precisa comprar tempo até que ele possa, de fato, assumir o governo e colocar em prática o que foi prometido na campanha. Dependendo do nome que ele escolher para a Fazenda, o tempo comprado vai sair caro”, disse um experiente analista de mercado.
A questão, diz ele, não é pessoal. Haddad é um nome político, assim como Antônio Palocci, primeiro ministro da Fazenda de Lula, era. E mesmo assim Palocci foi, até o episódio do Mensalão, um nome bem aceito pelo mercado, pois “conseguiu criar as pontes necessárias”.
Ele diz que o governo poderia ter destacado nomes da equipe de transição, como Pérsio Arida ou André Lara Rezende para ajudar a construir essas pontes até janeiro, quando o mandato começa.
“No entanto, não só as contas da PEC de Transição estão tumultuadas, como Lula decidiu falar sobre o fiscal de forma esparsa”, criticou outra fonte.
Haddad em silêncio
Outro ponto criticado pelas fontes ouvidas pelo Metrópoles foi o fato de que Haddad decidiu sair de cena, para evitar um desgaste antecipado. No entanto, ao “submergir”, o possível futuro Ministro abre espaço para mais especulação.
“Na minha visão, o Haddad deveria começar a se articular e mostrar que, se o governo conseguir nomear um segundo escalão técnico na Fazenda, ele pode tornar o custo de transição menor”, defendeu uma fonte.