Pit Money: “Falo de investimento de um jeito rock and roll”
Lucas Pit Money ganhou meio milhão na Bolsa e perdeu R$ 150 mil em um único dia antes de fazer sucesso no YouTube com dicas sobre mercado
atualizado
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Uma despretensiosa visita com os colegas de escola à Bolsa de Valores de São Paulo foi determinante para que o garoto Lucas Poveda Nogueira, conhecido hoje como Lucas Pit Money, decidisse o que queria fazer da vida no futuro. Anos depois, dividindo as atenções entre os shows com sua banda de rock e os estudos, formou-se em Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), para em seguida já ensaiar os primeiros passos no mercado financeiro.
Lucas atuou como trader – investidor que busca ganhar dinheiro com operações de curto prazo – entre 2013 e 2018, período no qual faturou mais de meio milhão de reais. Inicialmente, trabalhou para uma holding e recebia um percentual dos lucros. Mais tarde, começou a operar individualmente.
Em maio de 2017, em meio ao terremoto político-econômico causado pelo vazamento do áudio de uma conversa entre o então presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista – o fatídico “Joesley Day” –, o Ibovespa despencou quase 10% e o dólar foi às alturas. Em apenas dois minutos de negociação no pregão, Lucas perdeu R$ 150 mil.
“Depois daquele dia, até escrevi em uma folha de papel para não esquecer: quando eu recuperar essa grana, vou fazer o que gosto. E sempre gostei de ser comunicador”, relata o empresário, em entrevista ao Metrópoles.
Fenômeno digital
Foi na internet que Nogueira se tornou Lucas Pit Money, um fenômeno da comunicação. Seu canal no Youtube, criado em 2018, tem quase 370 mil inscritos. O economista e educador financeiro dá dicas de investimento e ensina como aplicar em ações que rendam bons dividendos.
No Instagram, o perfil de Pit Money é seguido por mais de 230 mil pessoas. E o público só aumenta, atraído pela forma simples e descontraída com que o influenciador se comunica, usando e abusando de bordões como “abestaiados de plantão”, “caras de capiroto” e “tanajuros e tanajuras”, entre outras expressões. Uma linguagem “mais rock and roll”, como ele diz.
Atualmente, Lucas está à frente da casa de análise Inside Research, que conta com mais de 10 mil assinantes. Os clientes recebem orientações sobre os investimentos mais seguros e rentáveis em ações e fundos imobiliários. A companhia, que teve uma fatia de 20% comprada pela XP em abril deste ano, corresponde a mais de 90% da renda do empresário.
Leia os principais trechos da entrevista de Lucas Pit Money ao Metrópoles:
Por que você trocou a música pela economia?
Quando eu estava na quarta ou quinta série, minha escola levou os alunos para uma visita à Bolsa de Valores de São Paulo. Fiquei fascinado por aquilo. Durante a visita, eu levantei a mão e perguntei o que precisaria fazer para trabalhar naquele lugar quando fosse adulto. Foi quando me disseram que a maior parte das pessoas que trabalhavam na Bolsa eram formadas em economia. A partir dali, fiquei com essa ideia de ser economista. Já a música é algo de que sempre gostei. Decidi ser músico quando comecei a ouvir rock. Do terceiro ao quinto ano de faculdade, eu banquei o curso na PUC-SP tocando nos fins de semana. Hoje em dia, tenho uma salinha no último andar do mesmo prédio onde fica a Inside, e os meus instrumentos estão lá. Eu toco quando dá. Faço shows raramente. É mais um hobby mesmo, porque já percebi que ser roqueiro no Brasil não dá muito dinheiro.
Você atuou como trader durante 5 anos e faturou mais de R$ 500 mil. Como foi essa experiência?
Foi estressante, muito puxado. Saí da faculdade, me juntei com um amigo que hoje é o meu sócio na Inside e pensamos em ir para o trade para ficarmos ricos. Primeiro tentamos fazer day trade [quando a negociação de compra e venda de ativos começa e termina no mesmo dia] e não conseguimos. Naquela época, a corretagem era absurda, não tinha esse negócio de corretagem zero. O custo operacional era muito alto. Em 2013, percebemos que o swing trade [operações feitas em um horizonte de alguns dias ou semanas] talvez fizesse mais sentido. Nós operávamos em uma corretora que era muito forte em commodities agrícolas. Sempre fui muito curioso e comecei a fazer alguns estudos de análise técnica de commodities agrícolas, que seguiam tendências muito maiores do que o dólar, por exemplo. Foi quando eu comecei a ganhar grana mesmo, em 2013 e 2014. Ganhei muito dinheiro com milho, com boi.
Como o “Joesley Day” afetou a sua vida e por que decidiu deixar o mercado financeiro?
Nos anos anteriores a 2017, eu fui ganhando dinheiro e, quando se tem um score bom na Bolsa, normalmente as corretoras deixam você alavancar mais. Graças ao seu histórico bom, você consegue montar posições bem maiores do que o dinheiro que você tem. Eu fui aumentando posição, aumentando a alavancagem e, quando aconteceu o “Joesley Day”, a Bolsa despencou 10%. Eu perdi R$ 150 mil em um ou dois minutos. Nos contratos futuros, você tem de pagar o ajuste diário, é diferente de ações. Se você tem uma perda hoje, precisa pagar até amanhã. Tem de saldar aquele dinheiro, como se fosse uma dívida. Eu tive que vender meu carro, tive que pedir dinheiro emprestado, foi bem traumatizante. Eu tinha demorado um ano para conseguir os R$ 150 mil. Depois daquele dia, até escrevi em uma folha de papel para não esquecer: quando eu recuperar essa grana, vou fazer o que gosto. E sempre gostei de ser comunicador, meio influenciador, até pela experiência como músico na banda. Demorou um ano para eu recuperar aqueles R$ 150 mil. Depois disso, comecei a seguir vários influenciadores do mercado financeiro que já atuavam naquela época, como o Primo Rico [Thiago Nigro], o Fábio Holder, uns caras muito bons. Imaginei que talvez eu pudesse entrar ali. Gosto de explicar sobre Bolsa de Valores sem falar economês. Falo de investimentos de longo prazo de um jeito mais rock and roll.
Você tem centenas de milhares de seguidores nas redes sociais, lançou um livro no ano passado (“‘Buy e F*da-$€’: Como Investir Bem Sem Entrar em Parafuso”, pela Harper Collins) e sua empresa não para de crescer. Prefere ser comunicador ou empresário?
Eu gosto mais de ser comunicador do que empresário. Mas como tenho uma bagagem boa por ter sido um cara que estudou muito quando era mais jovem, acho que sou melhor empresário do que influenciador. Nunca esperei esse sucesso. Muita gente me ajudou, como o próprio Primo Rico, gravando vídeos comigo e me jogando para cima. Nunca me achei um bom comunicador, mas um cara autêntico. Foi por isso que acabei me destacando. Hoje eu ocupo muito mais do meu tempo sendo empresário do que influenciador. Mas o que eu mais gosto de fazer é falar bosta na internet.
Você sempre deu dicas sobre renda variável. Com a taxa Selic em 13,75% ao ano, percebe algum movimento de maior interesse pela renda fixa, que teoricamente se torna mais atraente ao investidor em um cenário de juros altos?
Sempre fui um cara muito pró-renda variável. Como já fui trader e não tenho medo de volatilidade, sempre gostei de ser sócio de boas empresas e comprar imóveis através da Bolsa. Mas o que eu tenho percebido é que as pessoas estão com bastante medo do risco político e vêm migrando para a renda fixa não necessariamente por causa da alta taxa de juros, mas pela insegurança da parte política.
Qual é a sua expectativa em relação ao futuro governo na economia?
O maior receio do mercado é sobre quem vai tocar a economia. Na minha opinião, o Paulo Guedes fez um trabalho muito bom. Eu o considero um excelente economista, pago muito pau para ele. É um cara extremamente técnico que tocou muito bem o barco. Se vier alguém menos técnico do que o mercado gostaria, e já estão falando sobre a possibilidade de o novo ministro ser o [Fernando] Haddad, acho que o mercado pode azedar. Haddad não seria um cara técnico, como o [Henrique] Meirelles, por exemplo. A Bolsa brasileira ainda está muito barata, mas tem que colocar na conta que talvez um governo um pouco mais populista e muito mais “gastão” do ponto de vista fiscal possa gerar inflação. Os próximos meses serão marcados por muita volatilidade. A gente precisa de definições.
Quais são os seus próximos passos? Até onde Lucas Pit Money pretende chegar?
Eu não sou de criar expectativas muito altas para não me frustrar. A posição em que estamos hoje com a Inside é muito boa. Neste primeiro semestre, fomos a casa de análise independente que mais gerou conteúdo. Então, para mim, continuar onde estou já seria ótimo. A minha ideia é voltar a estar mais presente na internet. Eu foquei muito em ser empresário no último ano e, felizmente, já deu tudo certo: a Inside está capitalizada e muito bem posicionada. Quero voltar a fazer o que as pessoas gostam que eu faça, que é ser um cara mais desbocado, meio influenciador, meio rock and roll. Deixei isso um pouco de lado e agora a minha ideia é voltar.