PIB tem queda de 0,2% no 1º trimestre, diz IBGE
Foi a primeira retração na atividade econômica do país desde o quarto trimestre de 2016, quando o Brasil ainda estava em recessão
atualizado
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Em meio à incerteza política e econômica, o Brasil começou o ano com a economia em retração, com queda de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, na comparação com o quarto trimestre de 2018. Os dados foram divulgados na manhã desta quinta-feira (30/05/2019) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foi a primeira retração na atividade econômica desde o quarto trimestre de 2016, quando a economia atingiu o fundo do poço, antes de sair da recessão, a partir do início de 2017, conforme definição do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), abrigado na Fundação Getulio Vargas (FGV).
A retração do PIB reforça a lentidão da recuperação da economia, ainda longe do nível apresentado antes da recessão, iniciada no segundo trimestre de 2014. Em 2017 e 2018, o PIB avançou 1,1% em cada ano, insuficiente para recuperar o tombo de 8,1% no acumulado de 11 trimestres de recessão.
O desempenho do PIB do primeiro trimestre veio em linha com as projeções de analistas, que, na mediana, esperavam retração de 0,2% frente ao quarto trimestre de 2018, conforme pesquisa do Projeções Broadcast com 50 instituições do mercado – o intervalo vai de retração de 1,0% a expansão de 0,37% .
Como o PIB cresceu apenas 0,1% nos três últimos meses de 2018, em relação ao trimestre imediatamente anterior, está confirmado um quadro de paralisia na economia. Esse quadro contamina as projeções para o crescimento econômico de 2019, que começaram o ano na casa de 2,5% e foram sendo revistas para baixo até atingir 1,23%, em média, segundo a edição divulgada na última segunda-feira (27/05/2019) do Boletim Focus, pesquisa do Banco Central (BC) com analistas de todo o país.
Entre economistas, a elevada incerteza quanto aos rumos da economia, com destaque para a falta de definição sobre a reforma da Previdência, é o motivo mais citado para a freada no PIB, ao lado de choques negativos que atingiram a economia no fim do ano passado e no início de 2019, como a crise econômica na Argentina e o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho (MG).
Investimentos em queda
Na economia real, a paralisia se materializa na suspensão de projetos de investimento, ao mesmo tempo em que os governos, em crise fiscal, cortam os investimentos públicos. Por isso, a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do total dos investimentos no PIB) se contraiu em 1,7% no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2018, a segunda queda seguida.
“Há evidência, não só para o Brasil mas também lá fora, de que a incerteza econômica atrapalha muito o investimento”, disse, na semana passada, a economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre-FGV).
Para o economista-chefe do banco UBS Brasil e ex-diretor do BC, Tony Volpon, a economia brasileira ainda enfrenta uma “recessão de investimentos”, pois, para os projetos saírem do papel, é preciso que os investidores tenham previsibilidade nos cenários econômicos.
“Se você começar a levantar um prédio e quiser parar no meio do caminho, você vai perder muito dinheiro. O investimento só vai subir se tiver, primeiro, um nível aceitável de estabilidade no cenário e um horizonte de estabilidade”, afirmou Volpon, em entrevista ao Estadão/Broadcast, na segunda-feira (27/05/2019).
O problema é que as incertezas em relação aos rumos das reformas econômicas, especialmente as que dependem de aprovação no Congresso Nacional, inviabilizam esse “horizonte de estabilidade”.