Para CNI, emprego e Auxílio ampliam o PIB em 2023, mas juro atrapalha
A Confederação Nacional da Indústria prevê um crescimento de 1,3% da economia no ano que vem, com aumento do emprego e gastos do governo
atualizado
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Depois de um bom desempenho em 2022, o próximo ano deve ser de crescimento para a economia brasileira. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os principais impulsionadores do PIB em 2023 serão o mercado de trabalho, o crescimento da renda e a distribuição do Bolsa Família pelo governo federal.
Em coletiva na manhã desta terça-feira (06/12), o gerente executivo de economia da CNI apresentou as projeções do setor. Nas contas de Mário Sergio Telles, a economia brasileira terminará 2022 perto de recuperar todo o prejuízo legado pela Covid-19.
“Com o crescimento de 3,1% estimado para 2022, estamos chegando próximos de onde estaríamos se a pandemia não tivesse acontecido. Levando em conta a tendência de crescimento registrada entre 2017 e 2019, o Brasil estaria agora apenas 1% abaixo do nível de atividade esperado para um cenário sem pandemia”, explica Telles.
Ele diz, no entanto, que boa parte do avanço deste ano se deve ao crescimento de serviços, e que outros setores, como o comércio e a própria indústria, praticamente andaram de lado nos últimos meses, com avanço abaixo da média do PIB.
A principal vilã, na visão do gerente da CNI, é a taxa de juros em patamares elevados, o que inibe o financiamento da indústria e o consumo mais dependente do crédito, como o de eletrodomésticos e automóveis.
O que garantirá um desempenho de 1,8% à indústria em 2022 é o bom momento da construção civil. O setor deve crescer 7% neste ano, ainda motivado pela inércia do aumento de vendas de imóveis novos nos últimos semestres.
Visões para a economia em 2023
Para o ano que vem, a CNI espera um avanço de 1,3% do PIB. A desaceleração será reflexo de um desempenho mais modesto dos serviços, que crescerão apenas 1,1% em 2023, frente a um avanço próximo de 8% em 2022.
Embora morno, o crescimento contratado para o próximo ano acompanhará a expectativa de crescimento da ocupação da mão de obra brasileira na ordem de 1,5%, e de um avanço real de 3,7% nos salários.
A continuidade da melhora do mercado de trabalho será complementada por um aumento de 10% nos gastos públicos, em razão da distribuição de auxílios de R$ 600 pelo governo, no âmbito do programa que foi rebatizado de Auxílio Brasil para Bolsa Família.
“Estamos considerando a versão original da PEC de Transição. Se for aprovada como foi proposta, com gastos acima do teto de R$ 200 bilhões, o projeto levará a um crescimento das despesas federais que impulsionará o PIB, mas que terá outras consequências na economia”, diz Telles, da CNI.
A primeira consequência é um aumento da dívida pública de 76% para 79% do PIB em 2023. Em razão da piora do quadro fiscal, o dólar deve voltar a ganhar valor e, por isso, espera-se também um repique da inflação.
Segundo a CNI, os índices de preços devem terminar o próximo ano perto de 5,5%, nível similar ao atual. A resistência inflacionária levará o Banco Central a ser mais cauteloso com a política de juros.
“O Banco Central vai manter os juros no patamar atual por mais tempo que o esperado. No nosso cenário, a Selic começará a cair somente a partir de agosto do ano que vem, e fechará o ano em 11,75%”, disse o gerente da Confederação.
O quadro é preocupante, pois o endividamento das famílias já está elevado e deve continuar a piorar com os juros mais altos. Segundo Telles, o comprometimento da renda das famílias está perto de 30% – na prática, a cada R$ 100 recebidos pelas famílias, R$ 30 vão para o pagamento de juros e amortizações de dívidas.
A inadimplência em alta fará os bancos apertarem a concessão de empréstimos. As projeções da CNI apontam para um aumento da carteira de crédito dos bancos de apenas 2% em 2023, frente a uma expansão de 10% em 2022.