Para analistas, resultado do PIB traz mais otimismo para a economia
Economista diz que desempenho no segundo trimestre deve motivar alterações, para cima, nas expectativas deste ano
atualizado
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O crescimento de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2019, número acima do esperado pelo mercado (0,2%), faz economistas começarem a olhar com um pouco mais de otimismo para a economia daqui para a frente. Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o resultado é um dado encorajador e que traz boas notícias, depois de um longo período de decepções com a atividade, embora a retomada ainda seja gradual.
Segundo o economista, foi um destaque dentro desse resultado a recuperação da indústria (0,7%) e dos investimentos (3,2%), depois de dois trimestres negativos. Esse resultado melhor do que o esperado, conforme Rostagno, deve estancar as revisões para baixo do PIB do ano e pode até motivar elevações nas expectativas. Atualmente, as previsões dos analistas ouvidos pelo Banco Central no boletim Focus são de alta de 0,81% para este ano. A projeção do Mizuho é de alta de 0,9% para o PIB do ano, mas o economista admite que o dado do segundo trimestre impõe viés de alta, para algo em torno de 1,0%.
Para a consultoria Capital Economics, os dados do segundo trimestre surpreenderam e mostram que a piora da atividade observada nos primeiros três meses do ano (quando houve queda de 0,1%) foi mais um fator passageiro do que o início de uma piora mais acentuada da economia. O economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, porém, pondera que o crescimento da economia brasileira ainda é fraco, principalmente se comparado a outros emergentes, mas deve ter algum fortalecimento nos próximos períodos.
Indicadores de confiança apontam para uma melhora neste terceiro trimestre, observa Jackson. O ritmo, porém, vai seguir moderado e apoiar cortes de juros pelo BC. A Capital Economics projeta expansão de 0,8% do PIB neste ano e de 2% em 2020.
A avaliação da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics é de que os bons números do segundo trimestre mostram que a economia brasileira está resistente, apesar dos muitos choques que teve no período. “Olhando para a frente, indicadores antecedentes, incluindo os de consumidores e empresários, sugerem que a economia deve ir relativamente bem no fim deste terceiro trimestre e no quarto período de 2019”, avalia o economista sênior para América Latina da Pantheon, Andres Abadia.
A demanda doméstica tem se mostrado resistente, apoiada pela baixa inflação e juros em mínimas históricas. A liberação de recursos do FGTS deve ser um fator adicional positivo para a atividade do período, observa ele. “A retomada, contudo, será limitada pele ambiente global crescentemente desafiador.”
Abadia destaca que um dos pontos positivos do PIB é o consumo das famílias, em alta de 0,3%. Outro destaque foi a expansão de 3,2% da formação bruta de capital fixo.
“São bons números”, diz Abadia sobre os dados do segundo trimestre. Para o economista, os dados são uma evidência de que a atividade conseguiu superar eventos negativos na primeira metade do ano, que inclui a tragédia com a barragem da Vale em Brumadinho (MG) e, sobretudo no segundo trimestre, um cenário externo mais adverso e a piora da situação na Argentina.
Rostagno, da Mizuho, avalia que o cenário externo deve continuar sem ajudar o PIB brasileiro, como ocorreu no segundo trimestre, mas a demanda doméstica deve mais que compensar esse efeito negativo. No segundo trimestre, as exportações caíram 1,6%, enquanto as importações cresceram 1%, ambos na margem.
Em relação à política monetária, o economista do Mizuho acredita que o PIB mais forte e alta recente do dólar não são suficientes para mudar a aposta de queda dos juros de 0,5 ponto porcentual na reunião de setembro, já que o hiato do produto ainda está muito aberto e o cenário de inflação, muito confortável.
Contudo, ele diz que esses eventos podem limitar a expectativa de Selic abaixo de 5,0%. A projeção do economista é de redução de 0,5 ponto em setembro e mais 0,25 ponto em outubro, levando a Selic para 5,25%. Segundo ele, o dado do PIB do terceiro trimestre deve definir se o juro cai para 5%, mas como ele está otimista com o desempenho no período de julho a setembro, mantém 5,25%.
Rostagno ainda diz que os ativos brasileiros estão de certa forma blindados da deterioração na Argentina, devido ao baixo déficit em conta corrente, o nível robusto de reservas e à baixa exposição de ativos atrelados ao dólar. “Algum impacto de realocação de portfólios dos investidores estrangeiros pode acontecer, mas vejo impacto moderado, não vejo cenário de contágio”, avalia.