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“Não temos a pretensão de ser governo”, diz Baleia Rossi

Deputado preside o MDB, partido que tem se aproximado do presidente Jair Bolsonaro, é líder no Senado e Congresso, mas se diz independente

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TIAGO QUEIROZ/Agência Estado
O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, fala e gesticula durante entrevista com o Estadão. Ele usa terno - Metrópoles
1 de 1 O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, fala e gesticula durante entrevista com o Estadão. Ele usa terno - Metrópoles - Foto: TIAGO QUEIROZ/Agência Estado

Com o MDB mais próximo do governo Jair Bolsonaro, o presidente nacional do partido, Baleia Rossi (SP), afirmou que a legenda não vai medir esforços para que a pauta econômica de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha sucesso no Congresso, mas ressaltou que o partido não tem a “pretensão de ser governo”.

Mesmo tendo um emedebista como titular no Ministério da Cidadania – Osmar Terra – e dois líderes do governo – Fernando Bezerra no Senado e Eduardo Gomes no Congresso –, o partido se declara independente. O presidente do MDB diz que isso não vai mudar porque o compromisso é com projetos. Ele nega adotar um alinhamento automático com Bolsonaro e discutir a adesão formal ao governo.

“Interessa que o Brasil dê certo e não vamos medir esforços para que a pauta que está sendo discutida com o ministro Paulo Guedes, com o presidente Bolsonaro e com os líderes do Congresso avance. Se o Brasil der certo, pode ter certeza, o Congresso também terá seu reconhecimento”, afirmou o dirigente partidário, líder do MDB na Câmara, em entrevista ao jornal o Estado de S. Paulo.

Autor da reforma tributária na Câmara, Baleia Rossi afirma que a criação de uma comissão mista entre deputados e senadores para discutir a proposta deverá avançar nesta semana. Ele reivindica a relatoria do colegiado para a Câmara, o que faria seu texto ficar na frente do parecer do senador Roberto Rocha (PSDB-MA).

Confira os principais trechos da entrevista:

O que esperar do Congresso até o fim do ano?
Acredito que nesta semana consigamos fazer um entendimento entre Câmara e Senado da tramitação para a reforma tributária. Acho que essa é a pauta mais importante. Claro, o governo vai mandar a sugestão da reforma administrativa. Vai ser junto. Não existe [votar uma] antes ou depois. Vai depender do texto e de uma série de questões. A Câmara toca a administrativa, o Senado toca o pacto federativo e a grande questão é ter um entendimento para avançar a pauta da reforma tributária.

Vai mesmo ser criada uma comissão mista para a reforma tributária?
Acredito que sim. Esta semana deve sair um entendimento. A pauta da Previdência é vital, só que já foi superada para diminuir o déficit. A pauta administrativa é importante, é boa, porque diminui o custo do estado, então, para o futuro, também significativa uma economia. Agora, para destravar a economia, melhorar a competitividade das empresas, não tem como gerar e emprego sem enfrentar a pauta tributária. A Câmara e o Senado estão maduros para isso.

A Câmara vai tentar ficar com a relatoria na comissão mista? O texto da Câmara fica na frente?
Vai fazer parte de um entendimento e a sinalização é essa. O nosso texto está tramitando há mais tempo. Se conseguirmos votar a tributária, destravar a economia, melhorar a competitividade, gerar emprego e renda, vai ser bom para a Câmara, para o Senado e para o governo federal.

Há espaço ainda para a Câmara avançar em reformas micro neste ano, como a nova lei do saneamento?
O pauta do saneamento tem que ser prioritária e vamos trabalhar para colocar em votação. Tem deputados de cidades pequenas que, talvez, a iniciativa privada não tenha interesse (para investir). Aí tem que buscar um entendimento para que sejam consorciadas e para que não fique ninguém para trás. Não adianta falar em saneamento para metade do Brasil. Temos que ter para todos.

O MDB se alinhou na agenda econômica do governo e agora o Planalto tem dois emedebistas como líderes no Congresso. Isso significa uma aproximação maior?
O MDB é um partido independente, que está buscando renovação e reencontro com as pautas da sociedade. Não temos a pretensão de ser governo, de indicar qualquer cargo. Agora, temos um compromisso com a pauta econômica de recuperação do emprego e vimos a indicação do Eduardo Gomes como líder do governo como valorização de um quadro.

Não queremos nenhum outro tipo de relação que, no passado, foi uma até uma característica do partido – o partido da governabilidade, que deu estabilidade. O que for bom para o país nós vamos apoiar.

O presidente Jair Bolsonaro tem recorrido a lideranças do MDB para garantir a agenda…
Isso mostra que o MDB tem grandes quadros capazes de ajudar na articulação na Câmara e no Senado. Dentro daquilo que entendemos como pautas prioritárias, são pautas que também são caras ao governo. Não existe nenhum conflito aí porque são pautas que nós vamos ajudar. Mas isso não significa que o MDB vai aderir.

O partido vai reavaliar essa posição ou continua independente até o final do governo?
O partido tem que defender sempre bandeiras e projetos. Essa questão de estar mais próximo ou não, precisamos trabalhar de uma maneira muito clara. É bom para o país? Vamos apoiar, defender, buscar resultado e o partido se fortalece. Não temos hoje interesse nenhum em ter participação.

Depois de perder o comando do Senado, porque o MDB decidiu ficar alinhado a Davi Alcolumbre (DEM-AP)?
Isso é importante porque demonstra uma unidade do partido em favor da pauta que abraçamos. Também dá uma estabilidade política para o país porque a bancada do MDB é a maior no Senado e está entre as médias na Câmara, onde unida é forte. Dessa forma, conseguimos priorizar as pautas importantes, que são convergentes com o que o governo hoje está colocando para tramitar.

Os problemas no PSL atrapalham a agenda do governo Congresso?
É mais uma disputa política interna que não contaminou nem a Câmara nem o Senado. Prova disso foi que o Senado, em uma demonstração de responsabilidade, votou o segundo turno da Previdência e colocou um ponto final nesse assunto. Na Câmara, avançamos na Base de Alcântara, uma porta de entrada de investimentos em alta tecnologia, que o Brasil ainda deixa a desejar. É mais um problema interno do PSL que não acabou atrapalhando o bom andamento da pauta.

Nem atrapalha para frente, em relação aos próximos projetos do presidente Jair Bolsonaro?
Não vejo. Eu acho que a gente consegue, com o Rodrigo Maia (DEM-RJ), o Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que é o líder da maioria, com os demais líderes, eu vejo muita boa vontade de continuar o ritmo das pautas. Não vejo nenhuma intenção de diminuir o ritmo.

O governo vai conseguir dar uma resposta à população sobre a recuperação do emprego?
Com a reforma da tributária andando de verdade, a administrativa, novo pacto federativo e essa condição de garantir recursos para os municípios, acredito que sim. Vamos ter agora o recurso do FGTS, da cessão onerosa, uma série de recursos novos que não estavam sendo esperados que vão fazer a economia reagir.

O mérito dessa retomada será do governo ou do Congresso?
O resultado, se for bom, é conjunto. A Câmara tem seu papel, o Senado tem e o governo federal também tem. Ganha todo mundo. Não vai ganhar só um.

Interessa ao MDB que o governo Bolsonaro dê certo?
Interessa que o Brasil dê certo e não vamos medir esforços para que a pauta que está sendo discutida com o ministro Paulo Guedes, com o presidente Bolsonaro e com os líderes do Congresso avance. Se o Brasil der certo, pode ter certeza, o Congresso também terá seu reconhecimento.

O centro vai conseguir emplacar um candidato viável para 2022?
É cedo para fazer avaliação de eleição. Temos que ter clareza que, em uma democracia avançada, temos que mostrar resultados. Se mostrar, todo mundo ganha. No caso da eleição municipal, as questões locais são mais importantes do que essa disputa ideológica. As eleições fora de época que ocorreram neste ano demonstraram isso.

O partido vai fazer um roadshow nos municípios para as eleições de 2020. Como recuperar as derrotas para a “nova política”?
Queremos ter um quadro do MDB em cada um dos estados para a disputa municipal e vamos discutir novas bandeiras do partido. A reforma tributária é uma bandeira, vamos discutir outras. A eleição passada foi atípica, dos extremos. Não acredito em nova política ou velha política, temos que fazer a democracia de resultados.

Não podemos abrir mão da democracia, agora, que seja uma democracia avançada, que dê resultado. Nas eleições municipais, nós temos que entregar resultado ou então seremos todos cobrados por isso.

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