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Mercado “dá de ombros” para nomeação de Haddad e mira segundo escalão

O que investidores querem saber é quem fará parte do corpo técnico (se é que haverá um) do Ministério da Fazenda, sob o comando de Haddad

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Imagem colorida mostra o ex-ministro Fernando Haddad (PT) - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra o ex-ministro Fernando Haddad (PT) - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Na última sexta-feira (9/12), dia em que o futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que Fernando Haddad será o chefe do Ministério da Fazenda, a Bolsa teve uma reação um tanto quanto “blasé”. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, subiu 0,25%, sem muito ânimo, mas muito longe da reação catastrófica que alguns esperavam.

A verdade é que o fator Haddad já havia sido colocado na conta pelo mercado. Desde que Lula foi eleito, no fim de outubro, a Bolsa caiu 6% e o dólar avançou 2%. Boa parte do pessimismo em ter um ministro de perfil político (e não técnico) na Fazenda já havia sido “precificada”, como o mercado costuma dizer.

Porém, o “dar de ombros” dos investidores no dia em que Lula cravou Haddad na Fazenda tem outra razão, segundo analistas ouvidos pelo Metrópoles. Uma vez que está líquido e certo que o próximo presidente optou por escolher um chefe de ministério político, o fio de esperança do mercado é que Haddad escolha um corpo técnico para acompanhá-lo.

“É claro que o mercado não vai reagir bem à confirmação de um nome político na Fazenda, mas o que era para ser precificado já foi. Agora, se houver a nomeação de nomes mais técnicos para o segundo escalão da Fazenda, podemos ter uma reação positiva”, diz Edmar de Oliveira, da corretora One Investimentos.

Expectativa pelo segundo escalão

A dinâmica foi definida por outro analista, que preferiu falar em anonimato, da seguinte forma: “Os técnicos fazem as contas para entender o que cabe no orçamento e o que é possível fazer. Aí entra o político em cena, para negociar com o Congresso e com Lula. Foi assim com Palocci, por exemplo”.

Embora tenha um perfil diferente do de Antônio Palocci, espera-se que Haddad siga os passos do ministro da Fazenda do primeiro governo Lula na escolha da sua equipe – um aspecto ainda mais fundamental do que a definição do próprio chefe do ministério.

Durante o primeiro mandato de Lula, passaram pelo chamado “segundo escalão” da Fazenda e do Planejamento nomes como Marcos Lisboa, respeitado economista e crítico de primeira ordem do descontrole de gastos sob os governos petistas. Lisboa foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005.

Outro exemplo é Henrique Meirelles, um dos poucos nomes que transitou bem entre o espectro técnico e o mundo político, uma vez que, antes de chefiar o Banco Central por oito anos, ele havia sido eleito deputado em Goiás.

Se Haddad conseguirá angariar nomes bem vistos pelo mercado, ainda não é possível saber, mas o próximo ministro da Fazenda prometeu anunciar parte da sua equipe na terça-feira (13/12).

“O mercado pode se estressar no curto prazo, esperando por essa definição, mas sabemos que as coisas vão se acalmar no longo prazo, porque não há o que fazer. Tudo que Lula indicou e defendeu durante a campanha já mostrava que dificilmente teríamos um ministro técnico que assumiria o cargo e mudaria radicalmente tudo que o governo prometeu fazer”, pondera Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inv.

Ele diz que os nomes da equipe são relevantes, mas, uma vez que a situação de Haddad foi definida, o mercado vai buscar reduzir a dose de especulação nas projeções e fundamentar a visão em fatos.

“O que importa daqui para frente são os fatos. A PEC de Transição, o novo arcabouço fiscal, ou alguma outra demonstração pública de mais compromisso fiscal”, explica Natali.

Para Bruno Mori, economista e sócio-fundador da Sarfin, o prognóstico não é bom. Ele lembra que a visão do mercado em relação a Haddad é que ele será um grande seguidor da cartilha do PT e, principalmente, de Lula. “Isso é ruim, porque quem comanda a economia tem que ter postura de dizer sim ou não”, critica Mori.

O fio de esperança dos investidores é que um eventual segundo escalão técnico crie um sistema de pesos e contrapesos, e que isso seja suficiente para colocar o Brasil no caminho de disciplina fiscal.

Ele lembra que Lula tem a seu favor a sua história. Durante o seu governo, por exemplo, o Brasil ganhou grau de investimento (uma espécie de selo, concedido por instituições de crédito, que atesta que o país é fiel no pagamento de suas dívidas e é um destino confiável de investimentos).

“Lula foi muito bem em criar uma situação fiscal consolidada, mas tudo foi perdido no governo Dilma”, lamenta o sócio da Sarfin.

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