Maternidade impulsiona mães a empreender
A mudança geralmente vem acompanhada da busca por um trabalho mais flexível, satisfatório ou com melhor retorno financeiro
atualizado
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De uma ideia, necessidade ou vontade, nasce uma mãe empreendedora. A mudança geralmente vem acompanhada da busca por um trabalho mais flexível, satisfatório ou com melhor retorno financeiro. Os resultados são diversos: desde uma marca de sucos naturais para crianças até uma livraria especializada em autores negros.
A reviravolta da arquiteta Letícia Santos, de 36 anos, por exemplo, ocorreu em 2016, quando sua filha, Helena, tinha acabado de completar 1 ano e começava a perambular pela casa – e a causar preocupação. “Fui comprando os móveis dela, fazendo testes, mas não gostava de nada, acabava mandando para o marceneiro”, conta.
Assim surgiu a Cactus Remonta. A empresa produz kits de peças em madeira que podem se transformar em 10 móveis diferentes. “Um berço, um cadeirão, dura muito pouco, apenas alguns meses”, aponta.
Já a Criando Gente nasceu no mesmo dia que Bruno, de 11 anos, primogênito de sua fundadora Flávia Mesquita, de 47. “Cheguei da maternidade e não tinha roupa para usar. O meu corpo não era o de antes, nem como o da gestação”, recorda ela, formada em Moda
Poucos dias depois, Flávia já desenhava os primeiros quatro modelos de blusas da marca. “Não achava nada de diferente por aqui, além da camisola de botão. Inventei tudo da minha cabeça, com base em estudos sobre necessidades da mulher puérpera (que acabou de ter filho).”
Mãe também de Tomás, de 7 anos, a empresária trabalha em casa, onde instalou o ateliê e o estúdio fotográfico da marca. “Não tem nada de fácil, quantas vezes digitei com o Bruno no meu colo”, diz. Por isso, acredita em um lema: “a gente é maior do que imagina”.
Também com dois filhos, Roseli Sato, de 41 anos, deixou um emprego na área corporativa para ficar mais próxima da recém-nascida Carolina, hoje com 9 anos. Paralelamente, abriu um salão de beleza. “Deu mais dor de cabeça do que lucro” e foi vendido em poucos meses.
Uma nova ideia veio tempos depois, quando preparava a festa de 2 anos da filha. “Fazendo as coisas, veio essa motivação a qual nunca tinha sentido”, recorda. Decidiu então esperar seu caçula (Pedro, hoje com 7 anos) crescer um pouquinho e abriu, em 2012, a Pra Gente Miúda, empresa de organização de festas infantis. “Sempre foi um sonho trabalhar em algo que me desse prazer.”
Ano sabático
A mudança de Isabela Gerardi, de 39 anos, por sua vez, veio por não ter conseguido voltar ao mercado de trabalho após um ano sabático dedicado a Manuela, hoje com 2 anos. “Nas entrevistas, perguntavam coisas da minha filha, se estudava em tempo integral, sobre quem cuidaria se ficasse doente. Queriam saber mais dela do que da minha experiência”, conta a ex-contadora financeira.
Por ter tido um parto domiciliar, Isabela já dava dicas sobre maternidade para amigas. Por isso, ouviu a sugestão do marido de que poderia se tornar doula. “Sou apaixonada pela minha atividade. O lado negativo é que não tem fim de semana, feriado (por causa dos partos), mas me dá outra flexibilidade, consigo estar mais próxima da minha filha.”
No caso da cientista social Luciana Bento, de 33 anos, a primeira mudança veio já com o desejo de ter um filho. Após um aborto espontâneo, descobriu um problema de saúde que implicaria em possíveis gestações de risco e, se desejasse engravidar, o recomendado seria não esperar demais. “Queria muito ser mãe. Então mudei os meus planos de fazer mestrado, pensar em carreira acadêmica.”
Por isso, decidiu ir atrás de um trabalho que lhe desse o suporte necessário. Em 2009, dois anos após concluir a faculdade, passou em um concurso público e se mudou para São Paulo, onde teve Aisha, de 5 anos, e Naíma, de 4. E veio a segunda mudança: Luciana tinha dificuldade para encontrar livros de autores ou com personagens negros para suas filhas. A solução? Criar a InaLivros, livraria virtual, aberta em 2014 com o marido, Léo Bento. “Faltava essa referência para as meninas, e hoje todo mundo participa. Elas vão às feiras com a gente, contam histórias, ajudam a embrulhar”, diz.
Ser mãe também foi um grande sonho de Daniela Foltran, de 35 anos, mas daqueles difíceis de serem realizados. Por ter perdido um ovário na adolescência, optou por uma profissão que colaborasse na gestação de outras mães, tornando-se embriologista.
Depois de anos trabalhando com fertilização in vitro, Daniela decidiu também se submeter ao método. O resultado foi Catarina, de 6 anos. Logo depois, veio a surpresa: engravidou de forma natural de Emília e Gabriela, de 4 anos. Com as três ainda bebês, desenvolveu síndrome burnout, resultado do esgotamento físico e mental, licenciando-se do trabalho.
Daniela encontrou refúgio na costura, aprendida na infância com a avó, modelista. “Foi uma terapia, uma maneira de focar no presente”, conta. No início, fez peças para as filhas, mas, certa de que não queria voltar para o laboratório, criou a Aurora, Senhora!, marca de babadores de manga longa e aventais. “É uma forma de disseminar um pouco do que acredito, da infância com autonomia, de permitir à criança se alimentar, tocar, sentir a textura.”