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Macri queima reservas para conter dólar

Apesar de anunciar que as reservas chegam a US$ 57 bilhões, o governo não dispõe de todo esse volume

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1 de 1 EF_Mauricio_Macri_Argentina_Entrevista_04122015_007 - Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil

No dia seguinte ao anúncio de adiamento dos pagamentos da dívida de curto prazo, o governo da Argentina conseguiu conter a disparada da moeda americana, que fechou em queda de 0,17%, cotada a 57,88 pesos. Para isso, porém, foi preciso leiloar US$ 223 milhões das reservas internacionais. Se mantiver esse ritmo, o governo de Mauricio Macri chegará às eleições, em 27 de outubro, sem nenhum dólar de reserva.

Apesar de anunciar que as reservas chegam a US$ 57 bilhões, o governo não dispõe de todo esse volume. Estimativas do mercado apontam que apenas US$ 13 bilhões são reservas líquidas. Isso porque os argentinos podem abrir contas bancárias em dólares no país. Nesse caso, seus recursos não são emprestados e ficam depositados no Banco Central, como um compulsório. Outra parte das reservas é proveniente de um acordo feito com a China e corresponde a yuans que só podem ser usados para fins comerciais.

Por isso, na quarta-feira, com as reservas minguando, Macri teve de optar entre usá-las para pagar dívida de curto prazo ou para manter a cotação do peso. Optou por segurar a cotação do dólar, já que, em um país onde aqueles que podem poupam em dólar, uma maior desvalorização da moeda traria ainda mais risco político.

A situação da liquidez argentina de curto prazo vem se agravando desde o início do segundo trimestre, quando o mercado, preocupado com a possibilidade de a chapa kirchnerista vencer as eleições, começou a cobrar juros mais elevados (o patamar subiu de uma média de 3% para 7% em dólar) do governo para manter os títulos.

Para não pagar esse juro, o governo passou a focar na venda de títulos que venceriam antes das eleições, para os quais o mercado aceitava taxa de remuneração menor. A aposta era que, se reeleito, ele conseguiria renovar esses títulos posteriormente pagando juros menores.

Em 12 de agosto – após a chapa da oposição, composta por Alberto Fernández e Cristina Kirchner (candidata a vice), derrotar por 15 pontos de diferença Macri nas eleições primárias -, a maior parte do mercado não quis renovar os papéis vendidos pelo governo argentino. Tida como mais intervencionista, a chapa kirchnerista é mal vista pelos investidores financeiros.

Antes das primárias, o governo conseguia rolar 88% da dívida de curto prazo – a maior parte desses papéis com vencimento anterior as eleições. Na terça-feira, esse número caiu para 5%. “O governo não previa uma derrota tão grande nas primárias e não imaginou que essa bomba estouraria no seu colo”, diz uma fonte do mercado financeiro brasileiro que acredita ser grande a possibilidade de as reservas financeiras secarem. A preocupação é que, com o anúncio de um “calote seletivo” na quarta-feira, parte da população corra para sacar seus dólares.

Uma fonte argentina, porém, afirmou que Macri poderá negociar com a China a liberação dos US$ 18 bilhões em yuans que fazem parte das reservas. Há ainda a possibilidade de o Fundo Monetário Internacional liberar US$ 5 bilhões em setembro, o que está em análise pelo órgão.

Nesta quinta-feira (29/8/2019), antes da abertura do mercado, Macri afirmou que faltavam 59 dias para as eleições e que não depende apenas dele o que pode ocorrer até lá. A fala repercutiu mal. Seu oponente, Fernández, rebateu dizendo que parecia que Macri estava contando os dias para o fim do mandato.

No fim do dia, a agência classificadora de risco S&P rebaixou a nota da dívida da Argentina para SD (default seletivo), ou seja, considera que o país está dando um calote seletivo.

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