“Lockdown é necessário”, diz Marcelo Pimentel, CEO das Lojas Marisa
Demora em controlar pandemia faz varejistas estimarem novos prejuízos e grupo cobra ações do governo
atualizado
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A pandemia da Covid-19 provocou mudanças significativas no varejo de vestuário. Entre elas, o aumento das vendas on-line. As adaptações, entretanto, não foram suficientes para conter o prejuízo. A crise econômica atingiu em cheio gigantes do setor como Riachuelo, Lojas Marisa e C&A, que registraram quedas significativas de receita no último ano.
Ao todo, o varejo de moda fechou 42.091 postos de trabalho em 2020, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Para especialistas, os números tendem a piorar devido à demora do país na imunização contra a Covid-19, única medida que pode ajudar na retomada da atividade econômica.
A última pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na semana passada, captou o desalento. Os empresários se disseram cada vez menos otimistas com o aquecimento da economia.
“As dificuldades do governo em acelerar a vacinação em massa e a saturação do sistema de saúde trouxeram de volta as medidas de isolamento social. Como consequência, a retomada da economia, que já dava sinais de arrefecimento no início do ano, será substituída por uma nova queda da atividade nos meses de março e abril”, resumiu a entidade.
Não é exagero. A Guararapes Confecções, dona da Riachuelo, registrou em 2020 prejuízo de R$ 27,154 milhões, revertendo o lucro de R$ 592,6 milhões de 2019. A pandemia também afetou a C&A. A empresa encerrou o ano passado com prejuízo de R$ 166,3 milhões, contra um lucro de R$ 9,72 milhões em 2019. Os resultados não foram melhores para a Lojas Marisa. No quarto trimestre do ano passado, o prejuízo foi de R$ 28,9 milhões, revertendo um lucro de R$ 34,2 milhões um ano antes.
O CEO da Marisa, Marcelo Pimentel, disse ao Metrópoles que a empresa vem investindo em novas ferramentas para o canal de vendas digital como forma de driblar a crise econômica do país. “Focamos em reforçar nossa operação on-line. Em 2020, com um consistente trabalho da companhia, o digital cresceu 63,9%, representando 9,2% das vendas de varejo”, afirmou o executivo.
“Também consolidamos o Ship From Store (logística que envia os produtos a partir de cada loja sem passar pelo Centro de Distribuição), que tem dado uma nova tração ao e-commerce da empresa. A operação tem participação de 16% da venda total digital em 2020”, complementou.
A Marisa também lançou uma nova versão do seu aplicativo e, com isso, conseguiu aumentar em 109% o número de downloads. “Hoje, o app já conta com mais de 4 milhões de downloads e representa mais de 40% do share das vendas digitais”, revelou o executivo.
Pimentel afirmou não enxergar a política de lockdown, adotada por várias cidades do país para tentar controlar a pandemia, como uma vilã, mas sim algo “necessário para o combate ao novo coronavírus” e afirma que as medidas impostas pelas instituições ligadas à saúde, governos e municípios são seguidas à risca pela empresa.
Sobre a possibilidade de comprar imunizantes para vacinar seus funcionários, o CEO comentou que está observando as próximas determinações do governo. “Essa é uma questão ainda em discussão na esfera pública, que vamos acompanhar de perto. Temos um compromisso com nossos colaboradores e as nossas clientes e, com mais clareza, faremos uma avaliação e seguiremos com o que for melhor para a sociedade”, afirmou.
Na última semana, a Justiça Federal do DF derrubou uma lei que obrigava as empresas privadas a doarem ao Sistema Único de Saúde (SUS) 100% das doses adquiridas enquanto todos os grupos prioritários não fossem vacinados. A medida ainda pode ser revertida, mas enquanto perdurar abre caminho para o acesso as empresas comprarem imunizantes.
O Metrópoles procurou os CEOs da Riachuelo e C&A, mas não houve retorno.
O consumo digital
Uma pesquisa feita pela IEMI Inteligência de Mercado sobre o comportamento consumidor pós-pandêmico apontou que 40% dos entrevistados afirmaram que preferem realizar compras pela internet. O e-commerce para o setor de vestuários já vinha crescendo antes mesmo do isolamento social. Em 2019, o segmento faturou R$ 4 bilhões de reais, mas ainda perdia consideravelmente para o varejo físico, que faturou R$ 227,3 bilhões, segundo o estudo.
Para o consultor de varejo, Alexandre Machado, o setor não estava preparado para o universo virtual. “O segmento de vestuário ficou sempre entre os últimos. Agora em 2020, perdeu apenas para turismo, bares e restaurantes em prejuízo. Isso aconteceu porque o varejo não estava preparado para o formato on-line com tanta força”, disse. “As medidas para conter o avanço da pandemia também fizeram as lojas proibirem o uso de provadores. Como comprar uma roupa sem experimentá-la? Isso comprometeu muito”, complementou.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, acrescentou que com o fim do auxílio emergencial, cerca de 22 mil estabelecimentos de vestuários e calçados foram fechados. “O on-line ainda não é predominante no nosso setor e representa apenas 5% dele”, disse ao Metrópoles.
Segundo ele, a demora do governo em retomar medidas para ajudar na crise econômica provocada pela pandemia impacta todo o segmento. “Precisamos do retorno do auxílio emergencial, que deu uma injeção de recursos para as pessoas poderem comprar roupas e calçados, mas também de uma retomada de outros programas, como o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEM)”, afirmou.
No começo do mês, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou o retorno do BEM, mas a forma como o programa será financiado acabou gerando discussões e empacou a medida. “Conseguimos não só não perder nenhum emprego, como gerar 140 mil novos empregos. Vamos renovar esse programa”, disse Guedes. De acordo com o ministro, o programa foi um dos mais bem-sucedidos do enfrentamento à pandemia de Covid-19 e evitou a demissão de milhões de trabalhadores.