Interesse por produtos orgânicos cresce. Setor estima lucro de R$ 5 bilhões
Com a suspensão das feiras devido à pandemia de Covid-19, veio a necessidade de reinvenção. Para produtores, a sociedade está mais atenta
atualizado
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Com muitos restaurantes fechados por conta da pandemia do coronavírus, as pessoas estão cada vez mais se arriscando na cozinha, o que demanda uma atenção extra para o que é preparado e consumido. A partir das questões de saúde pública e ambiental, boa parte da sociedade vem procurando pelo natural, como produtos orgânicos.
De acordo com a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis),– entidade sem fins lucrativos que trabalha para divulgar conceitos e práticas orgânicas, durante a quarentena o interesse pelo assunto teve um crescimento de 55%: “No mês de junho, tivemos 23,7 mil visitas”, afirma o diretor Clauber Cobi.
Mas as mudanças não ocorreram apenas no que diz respeito à curiosidade sobre o tema. As vendas no setor também registraram alta: “O faturamento entre os dias 15 de março e 15 de abril foi de R$ 500 milhões e, para este ano, a instituição acredita que 0 lucro será de R$ 5 bilhões. Em 2019, foi de R$ 4,5 bilhões”, aponta a Organis.
Delivery
Ainda de acordo com a Organis, já são mais de 21 mil produtores registrados. Myllena Camargo é uma produtora que trabalha com agroecologia há 6 anos em Terrauna (GO). Ela explica que, com a suspensão das feiras, veio a dificuldade nas vendas e a busca por uma forma de manter os ganhos.
“O delivery surgiu como uma opção, intermediada por amigos que já faziam esse tipo de entrega e também por pessoas que enxergaram nisso uma oportunidade em decorrência do isolamento social”, afirma.
Myllena concorda que a procura dos orgânicos aumentou: “As pessoas estão procurando alimentos nutritivos, que fortaleçam o sistema imunológico para enfrentamento da Covid-19, mostrando que realmente há um senso de que são alimentos mais saudáveis, principalmente para a população que pode pagar pelo alimento orgânico e que antes da pandemia não o consumia”.
Para Myllena, no entanto, o pós-pandemia é incerto: “Não podemos ainda afirmar que é um mercado duradouro, que após a pandemia continuará, mas, no momento, existem pessoas abertas ao consumo de alimentos mais saudáveis”.
Pequeno produtor
No estado de São Paulo, Noemi Shima é produtora de orgânico desde fevereiro de 2014, quando precisou sair da capital e se mudar para o interior, com o objetivo de ajudar os pais que estavam com problemas de saúde. Noemi conta que a sua família produz os alimentos há mais de 20 anos. “Na época, me mudei para o sítio, mas indo uma vez por semana para São Paulo para ver minhas filhas, a casa e trabalhar na escola onde desde 1988 dou aula de japonês”, relata.
“No começo, era só para cuidar da minha mãe, que já tinha sofrido de AVC por 2 vezes e estava ficando esquecida. Mas como o salário de professora não é muita coisa, ajudava no que precisava aqui no sítio. Nessa época, meu pai tocava sozinho a cultura de chuchu e estava desanimado, já pensando em parar”, diz Noemi.
Ela ressalta conta que se tornou produtora orgânica, mas ainda não conseguiu se desligar da escola. “Tudo era difícil. Comprei roçadeira, pois a do meu pai vivia quebrando. Aprendi do zero, estudando pela internet e com meu pai. Não produzo tanto quanto gostaria, mas dá para o sustento”, afirma.
A professora diz que as vendas também cresceram durante este momento de pandemia. Mesmo sendo uma pequena produtora, ela alcançou um aumento de 8% no seu lucro. Mas também observa que o descarte ainda é alto, trazendo a atenção do comprador. “Tenho um descarte ainda grande, pois os consumidores orgânicos querem muito uma aparência bonita”, coloca.
Outro ponto é a estação: “O chuchu não suporta frio e nessa época aproveito para arrumar os arames e os bambus que sustentam a produção. Aproveitei também para doar 90 quilos do alimento para a escola”.
A produtora diz que também conta com a ajuda da Raízs, uma plataforma on-line pioneira em conectar os interessados em alimentos orgânicos ao pequeno produtor de todo o Brasil. A rede conta com 900 pequenos produtores. “Temos um projeto bem legal de incentivo, que é um Fundo ao Pequeno Produtor. A Raízs disponibiliza parte dos lucros da empresa, além de convidar os clientes a doarem até R$ 30 para esse fundo”, afirma a plataforma, em nota.
Vantagens do orgânico
De acordo com a nutricionista Natalia Caetano, os benefícios dos produtos orgânicos são inúmeros: “Ao escolher esse tipo de alimento, privaremos o nosso corpo de receber substâncias químicas que estão relacionadas com o aparecimento de alergias, problemas neurológicos, câncer, infertilidade e doenças respiratórias”.
Outro ponto positivo é que “os alimentos orgânicos podem apresentar mais nutrientes e mais sabor que os inorgânicos”.
“Na hora de escolher seu alimento, opte por aqueles que contenham o selo de produto orgânico e dê preferência para aqueles alimentos que não possuem forma ou tamanho padronizados. Alimentos uniformes em tamanho, formato e cor, tendem a ser os cultivados com uso de agrotóxicos”, ensina a nutricionista.
No momento da compra, é necessário ter muita atenção. Natalia explica que para um alimento ser considerado orgânico não basta a inutilização de agrotóxicos em seu cultivo. Ele precisa ser produzido por um sistema agropecuário sustentável e, além disso, não devem ser utilizados hormônios, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos. “Essa regra se aplica tanto para os alimentos in natura quanto para os industrializados, de origem vegetal ou animal”, afirma.
Além de ser um produto positivo para saúde, o orgânico também contribui para a diminuição de contaminação do solo, das águas e a exposição dos lavradores às substâncias químicas nocivas. “Portanto, são vários os benefícios do consumo de alimentos orgânicos, tanto para a saúde de quem os consomem, quanto para a preservação do meio ambiente”, conclui a nutricionista.