Inflação dos alimentos acende alerta para insegurança alimentar
Com disparada dos preços, especialistas estão preocupados com aumento da desnutrição e falta de opções em conta de alimentos mais saudáveis
atualizado
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O setor de alimentos e bebidas registrou em março alta de 2,42%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial. Oito alimentos subiram mais de 50% no acumulado de 12 meses e ajudaram a puxar o percentual para cima. Especialistas alertam para os riscos que a inflação pode trazer aos hábitos alimentares da população.
O índice divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 8 dos 10 itens que tiveram maior alta acumulada em 12 meses no mês são alimentos. A cenoura e o tomate lideraram a disparada de preços, com alta de 31,47% e 27,22%, respectivamente.
O economista da Universidade Estadual da Universidade de Campinas (Unicamp) Felipe Queiroz afirma que o impacto da inflação é sentido principalmente pelas famílias de menor renda. Segundo ele, essa parcela da população é obrigada a mudar o hábito de consumo.
“Isso traz várias consequências negativas, como o subconsumo, desnutrição, situação de precariedade. O que nós vimos no ano passado, com pessoas procurando ossos no lixo, é a expressão real desse processo avassalador da inflação no Brasil“, pontua Queiroz.
Industrializados mais baratos
De acordo com o nutricionista Bruno Redondo, o encarecimento dos alimentos faz com que as pessoas passem a comprar e consumir mais produtos industrializados.
“Os alimentos industrializados são muito mais baratos. Um pacote de biscoito, por exemplo, sai pelo valor de R$ 3, enquanto um maço de alface custa entre R$ 6 e R$ 7. As pessoas estão mais preocupadas em saciar a fome delas do que comer bem. Infelizmente, essa é uma realidade muito presente no nosso país”, destaca.
Redondo acrescenta que os impactos negativos que o consumo excessivo de produtos industrializados pode trazer à saúde da população brasileira. “Esses alimentos são péssimos na questão nutricional por terem carboidratos e gordura em quantidades desproporcionais ao nosso dia a dia. Os principais prejuízos são doenças crônicas como hipertensão e diabetes”, afirma o nutricionista.
Alimentos que mais aumentaram
De acordo com o IBGE, estes foram os itens que tiveram maiores altas de preços do IPCA nos 12 últimos meses:
- Cenoura: 166,17%
- Tomate: 94,55%
- Pimentão: 80,44%
- Melão: 68,95%
- Melancia: 66,42%
- Repolho: 64,79%
- Café moído: 64,66%
- Mamão: 54,95%
- Óleo diesel: 46,47%
- Gás veicular: 45,54%
Gerente do IPCA, Pedro Kislanov atribui a inflação dos alimentos ao custo elevado da gasolina, que encarece o transporte da comida pelo país.
“Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram pressão inflacionária. Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, afirma.
(*) Bernardo Lima é estagiário do Programa Mentor e está sob supervisão da editora Maria Eugênia