Greve de caminhoneiros deixa rastro de prejuízos bilionários no país
Além disso, o governo teme que a paralisação dos motoristas abra caminho para outras manifestações de forte impacto nacional
atualizado
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Apesar de alguns pontos de manifestação ainda espalhados pelo Brasil, a paralisação dos caminhoneiros dá claros sinais de que chegou ao fim. Em todos os estados, a vida começa a voltar ao ritmo normal e o quadro de desabastecimento inicia sua reversão: o combustível chega aos postos e os alimentos voltam aos supermercados. Os reflexos da crise provocada pelos protestos, porém, ainda devem perdurar por bastante tempo.
Nem todos os setores têm levantamento das perdas. Quem já fez essas contas mostra que o prejuízo será contabilizado na casa dos bilhões. O número dos setores consultados pela reportagem já chega a, pelo menos, R$ 75 bilhões em perdas.A Polícia Federal Rodoviária (PRF) informou nesta quinta-feira (31/5) que há redução dos pontos de concentração nas rodovias federais. Nas estradas que cortam o Distrito Federal, todos os pontos de concentração de motoristas foram desmobilizados, segundo a corporação. Após dias de protestos intensos, a PRF confirmou que 11 estados, além do DF, não têm mais manifestações. Foram registrados pontos de manifestação nas BRs 040, 050, 060, 070 e 020 na Região do Entorno.
Mas o impacto na economia será bem maior. Economistas consideram os efeitos da greve nas revisões, para baixo, que vêm fazendo para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). O número, próximo de 3% no início do ano, agora é de 2%. E há outros efeitos. O governo federal teme que a paralisação dos motoristas abra caminho para outras greves de forte impacto no país. Os petroleiros já seguiram esse caminho.
Perdas
As projeções preliminares de diversos segmentos da economia após dez dias de greve dos caminhoneiros apontam para perdas de mais de R$ 75 bilhões. Em alguns casos, os prejuízos ainda podem aumentar mesmo após o fim do movimento, pois, dependendo do tipo de atividade, a retomada poderá levar de uma semana a 20 dias.
Também há preocupação sobre como ocorrerá a volta das atividades. “Não sabemos ainda, por exemplo, como será precificado o aumento do frete”, afirma José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). “Dá arrepios só de pensar.”
O setor calcula que deixou de gerar, até agora, R$ 3,8 bilhões, e precisará de duas a três semanas para retomar totalmente as atividades.
A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) estima que as áreas de comércio e serviços deixaram de faturar cerca de R$ 27 bilhões entre os dias 21 e 28.
“São nítidos os transtornos causados pelo desabastecimento generalizado, que pode provocar danos ainda maiores ao país, como aumento do desemprego, falta de gêneros alimentícios, estoques, baixo fluxo de vendas e prejuízo ao desenvolvimento econômico”, diz o presidente da Fecomércio de Minas Gerais, Lúcio Emílio de Faria Júnior.
Os supermercados contabilizam R$ 2,7 bilhões em prejuízos. Para os distribuidores de combustível, as perdas já atingem R$ 11,5 bilhões.
Volta lenta
Com menos bloqueios nas estradas e a volta, lentamente, do abastecimento de combustíveis, algumas empresas estão retomando operações. Das 167 unidades produtoras de aves, ovos e suínos que estavam paradas em todo o país, 46 reiniciaram atividades nesta quarta (30), informa a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). As empresas do setor acumulam prejuízos de R$ 3 bilhões e perderam 70 milhões de aves, mortas por falta de ração. Com parte do abastecimento retomado, a mortandade deve acabar.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a cadeia produtiva da pecuária de corte deixou de movimentar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões.
Já os produtores de leite perderam R$ 1 bilhão, parte disso com o descarte de mais de 300 milhões de litros de leite. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) calcula que produtores em geral devem levar de seis meses a um ano para se reestruturarem.
Enquanto isso, o setor têxtil estima perdas de R$ 1,8 bilhão e, até esta quarta, ainda tinha cerca de 70% das empresas paradas ou prestes a parar. A previsão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) é de que serão necessários pelo menos 20 dias para que a situação seja normalizada.
Carros
Na indústria automobilística quase todas as fábricas estão paradas desde sexta-feira. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, diz que “a maioria retomará a produção, de maneira gradual, a partir de segunda-feira (4/6)”. As unidades da Fiat em Minas Gerais e da Jeep em Pernambuco voltam a operar nesta quinta.
A Anfavea não divulgou prejuízos, mas, com base na produção média de veículos em abril, cerca de 51 mil veículos deixaram de ser fabricados. O resultado deste mês poderá interromper uma sequência de 18 meses de alta na comparação interanual.
Até terça-feira as vendas do setor tinham caído 11% em relação a abril (para 192,8 mil unidades), mas ainda devem superar o volume de maio de 2017, de 195,6 mil unidades.
A indústria química soma R$ 2,5 bilhões em perda de faturamento e calcula em dez dias o período para retomada de atividades.