Frango, filé mignon e picanha sobem mais que inflação em 12 meses
Presidente Jair Bolsonaro (PL) reconheceu que preço do quilo das carnes está mais caro, mas defendeu que essa alta é global
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) reconheceu, na quarta-feira (11/5), que os recorrentes aumentos no preço médio do quilo da picanha têm pesado na conta do brasileiro, mas defendeu que a alta acontece no mundo inteiro.
Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), vinculado à Fundação Getulio Vargas (FGV), a pedido do Metrópoles, aponta que o valor do corte bovino teve crescimento acima da inflação nos últimos 12 meses.
Segundo a instituição, o quilo da picanha subiu 15,4% no acumulado de maio de 2021 até abril deste ano. No mesmo período, a inflação teve alta de 12,13%, de acordo com o Índice de Preços no Consumidor Amplo (IPCA).
Os números consideram os índices de Preço ao Consumidor 10 (IPC-10) e de Disponibilidade Interna (IPC-DI).
A picanha, no entanto, está longe de ser o corte com maior crescimento médio de preço. No acumulado dos últimos 12 meses, é o filé mignon quem puxa a fila de aumentos, registrando alta de 26,54%. Na sequência, está o quilo do frango, que teve valorização de 21,32%.
O encarecimento das carnes também fez o valor desembolsado pelos brasileiros para promover o famoso churrasco ficar mais salgado. De acordo com o balanço da FGV, o “kit churrasco”, que considera os cortes normalmente usados na refeição, está 11% mais caro.
Principais culpados
Ao Metrópoles o economista da FGV Matheus Peçanha elencou três fatores como os principais “culpados” pela carne mais cara: clima, câmbio e demanda externa. “A gente teve uma onda de sucessivos choques de custo, e principalmente a cadeia do setor produtivo acabou sentindo por mais tempo. Em 2020, por exemplo, tivemos uma seca muito forte, que impactou a produção de milho e soja. Isso reverbera no preço até hoje”, explica.
“Outro aspecto desfavorável aliado às proteínas foi a demanda externa, especialmente a chinesa, e o fator cambial. Desde 2020, temos uma desaceleração cambial contínua, que só parou agora que os juros começaram a subir. Precisamos lembrar que esse câmbio, de 2019, saiu da casa de R$ 4 para quase R$ 6 durante a pandemia e depois teve impacto importante na exportação”, prossegue.
Peçanha destaca que, com o câmbio em alta, o país perdeu disponibilidade interna dos produtos. “E a demanda chinesa teve um papel superimportante nisso. Em outubro do ano passado, a China levantou embargo na carne brasileira e estancou a inflação da carne vermelha. Tivemos dois meses de zero inflação na carne vermelha. Ao fim do ano, com a queda do embargo, a inflação disparou na ordem de dois dígitos, o que temos visto até hoje.”
O especialista também aponta influências indiretas das sanções econômicas impostas à Rússia, em razão do conflito travado pelo país com a Ucrânia. “A guerra tem impacto, sim. Por exemplo, há um custo maior para gerar forragem, usada para o pasto do gado e para a produção da ração, pesando no preço final. Outra questão é o efeito da guerra no diesel: tudo é frete e isso acaba tendo um impacto mais indireto”, completa.
Imposto zero
Poucas horas após a fala de Bolsonaro, o Ministério da Economia anunciou a redução a zero da tarifa de importação de produtos alimentícios da cesta básica e da construção civil.
Ao todo, 11 produtos entraram na lista, incluindo a carne de boi e de frango. A diminuição da alíquota do Imposto de Importação constitui uma tentativa de conter a inflação.
Na avaliação do pesquisador da FGV, a medida adotada pelo Executivo “pode dar uma aliviada” na onda de altas de preços. “Isso pode ajudar a baixar um pouco a inflação no preço da carne. A principal parcela do nosso consumo considera que a produção interna está com os custos pressionados. Mas deve ter uma parcela de impacto bem pequena, que deve acabar se diluindo com o passar do tempo. Não vejo como medida de longo prazo e, no próprio curto prazo, ela deve ser engolida”, defende.
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