FMI corta estimativa de PIB do Brasil e vê expansão de só 0,2% em 2017
Para 2018, a estimativa é um pouco melhor. O Fundo manteve a previsão de crescimento do PIB em 1,5%
atualizado
Compartilhar notícia
O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a rebaixar a projeção de crescimento para o Brasil e agora espera expansão de apenas 0,2% este ano, de acordo com relatório divulgado nesta segunda-feira (16/1). Na previsão anterior, feita em outubro, a expectativa era que o Produto Interno Bruto (PIB) do país fosse avançar 0,5% em 2017.
Para 2018, o Fundo manteve a previsão de crescimento do PIB em 1,5%. Em 2017, a expansão do Brasil será a menor entre os principais países do mundo, e ainda vai ficar bem abaixo da média de crescimento da economia mundial (3,4%), dos emergentes (4,5%) e da América Latina (1,2%). Em 2018, o Brasil deve seguir com desempenho abaixo da média destes três grupos.
Rebaixamento
O Fundo vinha constantemente rebaixando as projeções para o PIB do Brasil a cada período desde 2012. No ano passado, com a chegada do presidente Michel Temer no Planalto, o Fundo chegou a melhorar o cenário para o Brasil, prevendo a volta do crescimento. Este movimento, porém, de acordo com o relatório, tem sido mais lento que o esperado e com isso as estimativas voltaram a ter cortes agora.
Por causa do desempenho fraco da economia brasileira esperado para este ano, o FMI também reduziu a previsão de crescimento para a América Latina. A região deve ser afetada ainda pelas políticas do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A estimativa do Fundo é que a América Latina cresça 1,2% este ano e 2,1% em 2018. Nos dois casos, houve corte em relação às projeções divulgadas em outubro, de 1,6% e 2,2%, respectivamente
“Na América Latina, o corte da projeção de crescimento reflete, em grande medida, expectativas mais sutis da recuperação de curto prazo na Argentina e no Brasil, depois de resultados de crescimento mais fracos do que o esperado no segundo semestre de 2016”, ressalta o documento, que destaca ainda a maior incerteza em relação ao México, por causa das políticas de Trump, e a contínua deterioração na Venezuela.
A previsão de crescimento para o México foi cortada para este ano, para 1,7%. Em outubro, a expectativa do FMI era de avanço de 2,3%. Em 2018, o corte foi de 2,6% para 2%.
O documento ressalta ainda que o Brasil, junto com a Rússia e a Índia, conseguiu cortar juros nos últimos meses, enquanto outros emergentes foram forçados a elevar as taxas, principalmente o México e a Turquia.
PIB mundial
O FMI manteve a previsão de crescimento da economia mundial em 3,4% este ano e 3,6% em 2018, ambos uma aceleração em relação aos 3,1% esperados para 2016, a pior taxa desde a crise financeira mundial. Mas o Fundo ressalta em relatório divulgado nesta segunda que ainda há muitas incertezas sobre como serão as políticas do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e em outros locais, como as várias eleições na Europa. Por isso, há um variado quadro de possíveis cenários para a atividade econômica do planeta.
O Fundo acredita que pode ter uma visão mais clara do cenário para a economia mundial em abril, quando faz sua reunião de primavera em Washington. A expectativa é que naquele mês Trump já tenha detalhado o que planeja fazer. A expectativa de adoção de estímulos fiscais, como corte de impostos e aumento de gastos públicos, é um dos fatores que contribuiu para o FMI elevar a previsão de crescimento dos países avançados. Este grupo de países deve crescer 1,9% este ano e 2% no próximo. Em outubro, o FMI previa expansão de 1,8% nos dois períodos.
O FMI revisou para cima projeções de crescimento para 2017 dos EUA, Alemanha, Japão, Espanha e Reino Unido. Ao mesmo tempo, cortou a da Itália, em meio às preocupações causadas pelos problemas dos bancos do país.
Crescimento
Os emergentes devem crescer 4,5% este ano, pouco abaixo dos 4,6% previstos em outubro. Em 2018, a previsão do FMI é de avanço de 4,8%, mesmo patamar estimado anteriormente. Neste grupo de países, o Fundo destaca que o cenário é mais heterogêneo. A recuperação do Brasil está sendo mais lenta que o esperado, as incertezas para o México são elevadas e a China pode crescer mais que o esperado por conta da política de estímulos de Pequim
O FMI elevou a previsão de crescimento da China e agora espera expansão de 6,5% este ano, acima dos 6,2% previstos em outubro. Já para 2018, a estimativa foi mantida em alta de 6%. A Índia deve continuar com uma das maiores taxas de crescimento do planeta, de 7,2% em 2017 e 7,7% no ano que vem. O número para este ano, porém, foi cortado em relação ao relatório de outubro, que previa avanço de 7,6%.
Os riscos para a economia mundial continuam pendendo para o lado negativo, ou seja, o PIB pode crescer menos que o esperado, destaca o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld. “Vemos uma dispersão mais ampla de riscos para estas projeções de curto prazo. A incerteza se elevou”. Mas o relatório alerta que também há chance de a atividade surpreender, dependendo dos estímulos adotados por Trump e pela China. “A atividade mundial pode se acelerar de forma mais forte se os estímulos na política econômica se tornarem maiores do que o atualmente projetado nos EUA e na China”, afirma o relatório.
Entre os riscos para o cenário, o FMI cita a possibilidade de aumento do protecionismo, as várias eleições este ano na Europa, além de questões geopolíticas, alto endividamento de empresas, sobretudo nos emergentes, e possibilidade de os juros subirem mais que o esperado.
EUA
O FMI elevou a projeção de crescimento para os Estados Unidos este ano e em 2018 em meio às expectativas de que o novo presidente do país, Donald Trump, adote um conjunto de estímulos fiscais e outras medidas pró-crescimento. Ao mesmo tempo, o processo de alta de juros no país pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode ser mais acelerado do que se esperava anteriormente.
Os EUA devem crescer 2,3% este ano e 2,5% em 2018, ambos acima dos 1,6% estimados para 2016. Em outubro, a previsão do FMI era que a maior economia do mundo fosse crescer 2,2% em 2017 e 2,1% no ano que vem. O relatório ressalta que, depois de um fraco primeiro semestre de 2016, a economia dos EUA ganhou força na segunda metade do ano passado e o país está próximo do nível de pleno emprego.
“Os mercados notaram que a Casa Branca e o Congresso estão nas mãos do mesmo partido pela primeira vez em seis anos, e essa mudança aponta para menor imposto e possivelmente maior gasto com infraestrutura e defesa”, afirma Maurice Obstfeld. “Mas neste estágio inicial, contudo, as especificidades da futura legislação fiscal permanecem sem clareza, assim como o grau de aumento do gasto governamental.”
Sem maiores detalhes da política de Trump, o FMI alerta que as projeções para o PIB dos EUA estão sujeitas a mais incertezas do que em outros momentos. Por isso, há uma variedade de cenários possíveis, dos quais Obstfeld destaca dois. O primeiro seria o aumento sustentado do crescimento sem gerar inflação, marcado pelo aumento da força de trabalho, da infraestrutura e do mercado de capitais.
Neste caso, o Fed poderia subir os juros de forma mais moderada. No segundo cenário, em que a política fiscal gera inflação maior, o Fed aceleraria ainda mais a alta de juros, o dólar teria valorização adicional e a expansão real do PIB seria menor.