Envelhecida, cobrança de impostos derruba arrecadação
Por mais que se eleve a alíquota, muitas atividades não vão mais gerar o mesmo volume de recursos
atualizado
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Um estudo sobre a carga tributária brasileira trouxe um dado novo – e surpreendente. Não é apenas a recessão, um fator circunstancial, que está derrubando a arrecadação. Há também uma anomalia estrutural. O sistema de cobrança de impostos e contribuições, que já era pesado, burocrático e confuso, agora também “envelheceu”. Perde eficiência. Por mais que se eleve a alíquota, muitas atividades não vão mais gerar o mesmo volume de recursos.
Uma análise mais longa da série histórica da carga tributária mostra que a capacidade de arrecadar já vinha caindo desde 2006, quando a economia brasileira vivia um bom momento. “Mesmo que o País não estivesse em recessão, haveria queda na arrecadação”, diz o economista José Roberto Affonso, professor de mestrado do Instituto de Direito Público (IDP).
Entre 2011 e 2016, a arrecadação total caiu 0,81%. Na indústria, o setor em crise mesmo antes de a economia entrar em recessão, a retração foi ainda maior: queda de 1,45%. No agronegócio, segmento mais produtivo, porém tradicional, a arrecadação permaneceu igual. No setor de serviços, apesar de registrar retração nos negócios, registrou uma alta de 0,65% na arrecadação.
Segundo Affonso, o fenômeno seria reflexo da evolução natural do mundo dos negócios: mudanças na forma de contratar profissionais, o uso de novas tecnologias, a robotização das linhas de produção e até novos hábitos de consumo.
Na telefonia, por exemplo, 12 das 27 unidades da federação têm hoje alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) iguais ou superiores a 30% para serviços de comunicação, contra cinco em 2015. A arrecadação, porém não para de cair. A razão é simples: as pessoas telefonam menos e usam o WhatsApp. Pesquisa do site MobilTime indica que 48% dos usuários de smartphones fazem chamadas pelo aplicativo e não pela operadora.
Automotivo
O setor automotivo é um bom exemplo dessa transformação. Em 1986, 24 fábricas instaladas no País empregavam, 129 mil pessoas. Na média, era como se cada funcionário produzisse oito carros por ano. No ano passado, o número de fábricas havia dobrado – eram 48 -, mas o número de funcionário caído para 104,4 mil: na média, eram 21 carros por funcionário.
“O aumento do nível de automação melhora a produtividade e com menos trabalhadores se produz muito mais”, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale. Afonso lembra que um número menor de trabalhadores também significam redução na arrecadação sobre a folha de pagamento.