Entenda por que a inflação chegou a 10,25% no acumulado em 12 meses
A alta dos preços foi puxada por três principais fatores, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles
atualizado
Compartilhar notícia
A inflação oficial do país, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou de 0,87% em agosto para 1,16% em setembro, segundo divulgou o IBGE nesta sexta-feira (8/10). No acumulado de 12 meses, os números ficaram ainda piores e chegaram a 10,25%, o que não ocorria há mais de cinco anos.
De acordo com economistas ouvidos pelo Metrópoles, a alta dos preços foi puxada por três principais fatores: crise hídrica, disparada do dólar e incontinência verbal dos atores democráticos, como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em setembro, com destaque para habitação, que passou de 0,68% em agosto para 2,56%. A inflação desse grupo foi influenciada pelo aumento na conta de energia elétrica. No mês passado, entrou em vigor a bandeira da Escassez Hídrica, que aumentou R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos.
“A falta de chuvas tem prejudicado os reservatórios das usinas hidrelétricas, que são a principal fonte de energia elétrica no país. Com isso, foi necessário acionar as termelétricas, que têm um custo maior de geração de energia. Assim, a energia elétrica teve de longe o maior impacto individual no índice do mês, com 0,31 ponto percentual, acumulando alta de 28,82% em 12 meses”, afirmou o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.
Apesar de o país enfrentar a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, analistas acreditam que a situação poderia estar mais confortável se o governo tivesse investido em campanhas de conscientização em outubro do ano passado, quando já se sabia das condições meteorológicas do país.
Na tentativa de evitar ruídos sobre um possível apagão ou racionamento de energia, o Executivo abafou o assunto. O mesmo não foi feito em relação aos efeitos da pandemia da Covid-19 e à aprovação das reformas, o que afugentou investidores e promoveu a desvalorização cambial, de acordo com especialistas.
“Boa parte do processo inflacionário veio da desvalorização cambial, e isso veio agudo no Brasil, não só pelo Bolsonaro, mas pela falta de capacidade de fazermos a lição de casa correta: 1) reduzir ruído politico. 2) realizar as reformas. Se criou uma áurea negativa em relação ao Brasil. No fim do dia, isso afasta o investidor”, afirma o responsável pela área de investimentos da Indosuez, Fábio Passos.
A disparada da inflação no país e no mundo impactou o mercado financeiro nesta semana. O dólar superou os R$ 5,50 e a bolsa de valores despencou. Diante do cenário, investidores vendem suas ações e buscam ativos mais seguros.
Agora, uma nova polêmica perturba o governo. Foi revelado que o ministro da Economia, Paulo Guedes, mantém uma empresa offshore num paraíso fiscal, nas Ilhas Virgens Britânicas. A Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco) já declarou que isso “denota conflito de interesse, fere a moralidade pública e torna escandalosa a permanência do ministro no governo”.
O plenário da Câmara aprovou por 310 votos a 142 um pedido para que Guedes preste esclarecimentos aos deputados. A repercussão deve impactar ainda mais os ativos econômicos.
Veja os principais itens que fizeram inflação chegar a 10,25% em 12 meses: