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São Paulo – O bitcoin superou, em 17 de fevereiro, pela primeira vez na história a marca dos US$ 50 mil, ligando o alerta no mercado. Desde o início de outubro do ano passado, quando a criptomoeda estava em US$ 10,6 mil e começou a subir, a alta acumulada superou os 400%.
Na segunda-feira (22/2), entretanto, a moeda digital registrou a maior queda da história, quando seu preço passou de US$ 58 mil para cerca de US$ 47,7 mil. Nunca o bitcoin havia caído US$ 10 mil em um único dia.
Apesar do recuo, histórico, o bitcoin repetiu a boa performance de janeiro e foi a mais rentável aplicação em fevereiro. No mês passado, a moeda digital teve uma valorização de 40%, acumulando, no ano, uma alta de 70,33%. Em segundo lugar ficou o dólar, com ganho de 2,45% no mês.
O avanço da moeda digital ocorre em meio a um cenário de taxas de juros muito baixas ou mesmo negativas em todo o mundo, levando investidores a buscar ativos de alto rendimento e alternativas ao dólar que vem se perdendo força globalmente. “Com uma tendência da desvalorização do dólar perante as outras moedas, as pessoas estão olhando mais para o bitcon”, comenta Estevão Alexandre, professor da Fipecafi.
A entrada de investidores institucionais foi o grande impulso para o recente rali da criptomoeda. Boa parte da valorização veio após a Tesla informar no começo de fevereiro ter investido US$ 1,5 bilhão em bitcoins. A montadora de carros elétricos, fundada pelo bilionário e grande incentivador de criptomoedas Elon Musk, sinalizou ainda que, num futuro próximo, vai aceitar a moeda como forma de pagamento.
Após o anúncio da Tesla, o Twitter disse que avalia pagar seus funcionários com bitcoin. E ainda Mastercard e o BNY Mellon, duas gigantes do mercado financeiro tradional, anunciaram projetos envolvendo criptomoedas. Há marcas também tentando se associar ao bitcoin para se mostrarem mais digitais e inovadoras.
“Quando você tem o mercado financeiro tradicional e empresas tradicionais recepcionando o bitcoin no seu discurso, aumenta a credibilidade desse mercado. E como a fé o combustível do mercado, as pessoas se animam”, afirma Isac Costa, professor do Ibmec.
Costa diz ainda que a moeda digital vem ganhando força por ser uma inovação relevante, com um valor intrínseco na tecnologia, que terá várias possibilidades de aplicação no futuro.
“Eu também atribuiria a alta ao efeito manada, a uma euforia. O mercado, na minha opinião, ganha com isso no sentido que as pessoas estão vendo a moeda subir e, muito provavelmente, estão com medo de ficar de fora. Aí, elas acabam dando mais combustível para o movimento”, acrescenta.
Moeda deve subir mais?
Há apostas no mercado de que o bitcoin pode superar os US$ 100 mil neste ano. Para analistas do JPMorgan, no entanto, a escalada da moeda não é sustentável a menos que as oscilações de preço reduzam rapidamente. A volatilidade percebida nos últimos três meses do bitcoin é de 87% ante 16% do ouro, segundo o banco de investimento.
Alexandre, da Fipecafi, lembra que o bitcoin tem seu preço basicamente definido pela lei básica de oferta e demanda, sem interferência de bancos centrais e nenhuma outra autoridade. “Hoje tem uma procura maior que a oferta, então, o ativo sobe, mas se essa lógica se inverter a queda pode ser proporcuonal. Quem tem mais especula mais”, afirma.
Costa, do Ibmec, acrecenta que não há como calcular o preço do bitcoin pelos métodos econômicos tradicionais. Portanto, fica difícil prever qual deveria ser o preço correto bitcoin. “O preço flutua de acordo com as forças de oferta e demanda. Uma hora, o mercado vai ficar em dúvida se vai continuar entrando dinheiro nessa quantidade e velocidade. E é normal também que após uma certa alta que o investidor queira diminuir a exposição ao risco e realizar algum lucro, vai ter algum tipo de correção. Se essa correção vai ser dramática a ponto de cair muito é dificil de dizer, mas é uma possibilidade. Isso já aconteceu antes”, explica.
É recomendado para o pequeno investidor?
“É um ativo extremamente volátil, perigoso e está muito caro”, diz o professor da Fipecafi. “Eu recomendo cautela para fazer qualquer operação com criptoativo. Pesquisaria muito, entenderia bastante para se ver se realmente é o perfil da pessoa”, acrescenta.
Alexandre afirma que há vários pontos de interrogação e talvez o pequeno investidor não queira bancar com esse risco. “O mercado financeiro brasileiro, por exemplo, tem horário para começar e terminar. A criptomoeda gira 24 horas. Não tem horário. Tem que tomar muito cuidado. Cautela e estudo são as palavras chaves para quem quiser investir”, afirma.
Para quem quer investir em criptomoeda, uma das recomendações de Costa, do Ibmec, é seguir as melhores práticas na composição de uma carteira de investimento, alocando apenas uma pequena parcela dos recursos em ativos de alto risco. “Como é um investimento de alto risco, com muita volatilidade, o ideal, se você considera realmente uma oportunidade, é pelo menos por ora não investir no longo prazo, mas uma como oportunidade de especulação. E nessa lógica, você tem que se proteger e não colocar uma parcela grande do seu capital”, acrescenta.
O professor orienta ainda o investidor a nunca comprar criptomoedas diretamente de uma pessoa por mais que ela esteja vendendo por um preço melhor. Segundo Costa, o ideal é buscar exchanges, de preferência com sede no Brasil. “Se você negocia em um exchange fora do Brasil e acontece algum problema, vai ser muito difícil, fazer valer os seus diiretos. Você não vai ter nenhum tipo de proteção. No Brasil, não é garantido, mas pelo menos você vai ter a chnace de ter algum tipo de proteção do Judiciário”, afirma.
É preciso ter cuidado ainda para garantir a propriedade da moeda digital. O acesso às criptomoedas é possível com uma chave privada e uma chave pública, compartilhada com quem fará uma transferência a você. “Se você não tem as chaves privadas, não tem o bitcoin. Se a exchange sofrer um ataque cibernético, o que é muito comum, e essas moedas são roubadas, você jamais vai conseguir o valor de novo. Procure exchange que pelo menos tenham controle para tentar mitigar esses riscos”, completa.
Costa alerta ainda que algumas moedas alternativas, que são as chamadas altcoins, estão apenas pegando carona no movimento do bitcoin. Por isso, preciso ter cuidado quando alguém oferece criptomoedas com desempenho superior ao bitcoin. “Muitas vezes, o bitcoin subiu 10% e altcoin, 50%. Pelo menos o bitcoin tem um certo respaldo, tem fatos que justificam em alguma medida a sua alta. Outras altcoins estã subindo puramente por inércia”, justifica.