Empresas temem coronavírus. Bancos, por ora, veem poucos efeitos
Especialistas analisam que só a indústria financeira sofrerá menos impacto do Covid-19. Outras áreas apenas sobreviverão
atualizado
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Com a pandemia do coronavírus, empresários temem ter de encerrar seus negócios nos próximos meses do ano. Para tentar blindar a economia, o governo federal estuda medidas emergenciais para serem implementadas.
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam que a crise deve ser ampla e atingir todos os setores. Alguns, entretanto, tendem a sentir menos efeitos. Entre esses, o mercado financeiro.
Para André Fernandes Lima, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, todas as empresas serão impactadas negativamente com a pandemia. Mas lembra que o efeito será em graus diferentes: como é o caso dos bancos, das empresas de delivery, de farmácias e de transportes — que serão os menos afetados pela crise.
“Os bancos são os mais estáveis, mesmo com os recursos exigidos pelo governo para aliviar prazos e reduzir taxas. O Banco Central administra bem esse setor, então, a atividade bancária, como um todo, será menos impactada. Mas é claro que se o banco não for bem administrado, e houver muita inadimplência, ele pode quebrar”, justifica Lima.
Até o momento, porém, esse impacto não ocorreu.
Apesar de muitos restaurantes e bares estarem fechados, algumas localidades permitem o delivery. As empresas de entrega, para o professor, acabam sendo bem demandadas, além do setor de transportes, em função do e-commerce.
“O comércio eletrônico também tem sido muito utilizado. Não posso ir ao mercado, então, compro on-line. Pode até ter acréscimo de vendas, mas não necessariamente ganhará mais”, explica.
Desemprego
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, relata que, na ponta do lápis, o delivery tem faturado, nos dias bons, entre 10% e 15% da folha normal. “O delivery só gera lucro quando funciona para complementar o salão. No fim de semana, quando é melhor, é 20% [do total]”, lamenta.
Segundo Solmucci, a previsão é de alta no desemprego, desde que seja implementada a suspensão do contrato de trabalho, proposta pelo governo federal nesta semana.
Ele ressalta, contudo, a importância de pagar ao trabalhador um valor do auxílio-desemprego. No texto inicialmente pensado pela equipe econômica, o empregador não tinha o dever de pagar remuneração ao colaborador.
Para o analista político Creomar de Souza, fundador da Consultoria Dharma, em um primeiro olhar, a indústria da saúde tende a ser mais demandada, pelo momento de combate ao vírus. No entanto, as cadeias produtivas precisam de insumos, que estão em escassez.
Coronavoucher
“Existe a necessidade de um reforço dos governo para reativar a economia, porque como um todo, os setores tendem a se desgastar e perder dinheiro neste processo”, justifica.
De acordo com Souza, apesar da demora em implementar medidas, o “coronavoucher” e o pacote econômico divulgado na sexa-feira pelo governo junto com o Banco Central, dão previsibilidade ao empregador e ao empregado.
“O governo começou a se mexer. A questão é que não há consenso acerca de quanto tempo a população ficará isolada, esse é o principal componente de risco e crise”, completa.
“Há outra variável, que é o impacto do Covid-19 na vida do brasileiro. O número de vítimas e a capacidade dos governos de prover instrumentos da crise do ponto de vista da saúde e da economia”.
Mauro Rochlin, economista e professor de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que o vírus é novo e os exemplos que o Brasil têm de reação ao Convid-19 são recentes. Por isso, há uma incerteza de como será o futuro das empresas no país. “Especialistas podem opinar. Mas só quem está muito errado pode ter tantas convicções neste momento”.