Em Miami, Bolsonaro ignora caos econômico e prega “confiança”
Em sua fala, de aproximadamente 10 minutos em seminário com a comunidade econômica, o presidente mencionou a necessidade de mais reformas
atualizado
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Enviado especial a Miami – No dia em que a bolsa de valores interrompeu os negócios pela primeira vez desde outubro de 2017, em um evento conhecido como “circuit break”, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) optou por não mencionar o caos econômico que o país enfrenta nesta segunda-feira (09/03) em evento junto à comunidade econômica na Flórida.
Em um discurso de aproximadamente 10 minutos, o presidente pregou reformas, criticou a esquerda e disse que é importante lutar pelo fim do regime ditatorial de Nicolás Maduro, na Venezuela. Sobre a bolsa, o dólar e o petróleo, nenhuma palavra.
A interrupção da bolsa – que caiu mais de 10% no início do dia, a alta do dólar, que bateu R$ 4,79 nesta segunda, a queda na projeção de avanço do PIB para abaixo de 2% – registrado pelo próprio Banco Central – e a queda brusca no preço do petróleo sequer foram citados.
“Temos um inimigo interno forte: a esquerda. Não podemos dar trégua ou oportunidade para eles, senão eles voltam como voltaram num pais importante ao sul da America do Sul”, disse, fazendo referência velada à Argentina, para onde o grupo político da ex-presidente, e atual vice, Cristina Kirchner, voltou ao poder.
A última vez que a Bolsa interrompeu as suas negociações foi no dia 18 de maio de 2017, quando veio à tona uma gravação do ex-presidente Michel Temer supostamente orientando o empresário Joesley Batista a comprar o silêncio de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara que, naquele momento, já estava preso.
Ao avaliar o seu próprio governo, Bolsonaro disse que trouxe de volta a “confiança” ao país. “A palavra chave em qualquer relacionamento é confiança. Ao longo das ultimas décadas, houve desconfiança por parte dos governos brasileiros de esquerda com países como os Estados Unidos”, disse.
“País [agora] respeita a família, que deve lealdade ao povo, que valoriza as suas forças armadas, e um governo que acredita em Deus”, prosseguiu, fazendo uma breve descrição do seu governo.
Na sequência, ele fez afagos no segundo principal parceiro econômico do Brasil, atrás apenas da China. “Trago um Brasil diferente, que vocês podem confiar no presidente e nos seus ministros. Queremos uma América grande e o Brasil grande”, concluiu.
Bolsa e Petróleo
A falta de acordo entre Arábia Saudita e Rússia sobre uma redução na extração e produção de petróleo teve como consequência direta uma queda profunda nos preços barris neste início de semana. A queda chegou a 30% do valor total.
O que pode parecer uma notícia distante, ganhou ares brasileiros com o amanhecer desta segunda-feira. A Bolsa de Valores brasileira foi paralisada – com o acionamento do chamado circuit breaker, que interrompe negociações após uma queda superior a 10% – após abrir o dia com uma queda acentuada.
Somado a isso, o Relatório de Mercado Focus, pela primeira vez em 2020, trabalha com a ideia de o PIB avançar menos de 2%, conforme divulgado pelo Banco Central (BC). Este é o quarto corte consecutivo, agora abaixo das expectativas do ministro da Economia Paulo Guedes.