Em 2015, preço de imóvel subiu menos que a inflação
Na capital do país, por exemplo, houve uma queda de 1,4% no ano passado. A restrição do crédito para compra da casa própria é uma das explicações para o recuo da procura por imóveis
atualizado
Compartilhar notícia
O recuo do crédito e o aumento do desemprego ajudaram a esfriar o ritmo de alta do preço dos imóveis em 2015. O valor do metro quadrado anunciado em 20 cidades brasileiras subiu 1,32% no ano passado, de acordo com o Índice FipeZap Ampliado. É a menor alta já registrada na série histórica do indicador de 2008
O dado ainda representa uma queda real (descontada a inflação) de 8,5%, na comparação com a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano passado. Nesta sexta-feira (8/1), serão conhecidos os números oficiais do IPCA de 2015.
Das 20 localidades que compõem o indicador, todas registraram variação menor do que a inflação. Já nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília e Niterói houve queda nominal dos preços durante o ano passado. Na capital do país, por exemplo, houve uma queda de 1,4% em 2015. “Com o cenário de crise não dava para imaginar que seria diferente”, afirma Eduardo Zylberstajn, pesquisador e coordenador da pesquisa.
E, diante da expectativa de prolongamento do cenário recessivo da economia, o indicador pode fechar 2016 em queda pela primeira vez. “Todos os fatores determinantes para recuo dos preços estão presentes: desemprego alto, salários em queda, taxa de juros elevada e crédito escasso”, diz Zylberstajn.
Nas estimativas do pesquisador, o índice FipeZap pode recuar até 6% neste ano. Ele faz a ressalva, contudo, de que pode existir uma boa margem de erro na projeção porque a metodologia para estimar o indicador nunca foi testada em cenários de recuo do valor do metro quadrado, um fato inédito na história recente do Brasil.
A perda de fôlego do setor é evidenciada no comportamento dos preços dos imóveis em São Paulo e no Rio de Janeiro, que representam juntos quase 50% do indicador.
Na capital fluminense, o pico de alta no preço dos imóveis ocorreu em 2010, quando a valorização do metro quadrado chegou a 39,63%. No ano passado, contudo, houve um recuo de 1,36% pelo Índice FipeZap. Já em São Paulo, o auge do boom marcou uma valorização 26,96% no metro quadrado, em 2011, e desacelerou para um avanço de 2,51% em 2015.
Crise
A restrição do crédito para compra da casa própria é uma das explicações para o recuo da procura por imóveis e o seu reflexo sobre os preços. Além de a crise econômica ter freado a disposição dos consumidores em assumir uma dívida de longo prazo, os bancos também se tornaram mais restritivos na concessão de financiamento.
Isso porque a caderneta de poupança, usada como uma das principais fontes de recursos para o setor, registrou saques de mais de R$ 58 bilhões nos primeiros onze meses de 2015.
No mesmo intervalo, foram destinados R$ 70,8 bilhões para aquisição e construção de imóveis, de acordo com a Abecip, entidade que reúne os bancos que captam recursos da poupança para financiar a habitação. O volume representa uma queda de 30,7% em relação ao verificado no mesmo intervalo de 2014.
Desconto
Apesar do cenário adverso para os negócios no segmento, Zylberstajn destaca a “rigidez” de preços que é característica do mercado imobiliário.
Parece que, para alguns vendedores, é mais fácil subir os preços do que baixar. Quando as condições se deterioram, há aqueles que esperam mais para vender no lugar de baixar os preços
Eduardo Zylberstajn
Esse comportamento, ressalta o pesquisador, pode resultar em perdas financeiras para vendedores com a atual conjuntura da economia. “Se o dono do imóvel ‘carregá-lo’ de um ano para o outro já deixa de ganhar a rentabilidade que poderia ter com aplicações atreladas ao CDI (balizador da rentabilidade da renda fixa), ainda mais no cenário de juros e inflação elevados. O melhor seria baixar o preço porque, de um jeito ou de outro, o vendedor vai perder”, diz o pesquisador.