Economistas que apoiaram Lula pedem responsabilidade ao presidente
Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan, economistas do Plano Real e apoiadores de Lula, rebatem falas recentes do petista sobre o teto
atualizado
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Os economistas Armínio Fraga (foto), Edmar Bacha e Pedro Malan escreveram uma carta ao futuro presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, rebatendo falas recentes do petista sobre a responsabilidade fiscal. Os especialistas, que fizeram parte da equipe do Plano Real, declararam apoio a Lula durante a campanha presidencial.
Na carta, divulgada nesta quinta-feira (17/11) pelo jornal Folha de S.Paulo, Fraga, Bacha e Malan contestam a versão de Lula de que não é possível reduzir a desigualdade e a fome no país e, ao mesmo tempo, atender aos limites do teto de gastos ou de outras regras fiscais.
“Compartilhamos de suas preocupações sociais e civilizatórias, a sua razão de viver. Não dá para conviver com tanta pobreza, desigualdade e fome aqui no Brasil. […] O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área social”, escreveram os economistas.
Em menção ao discurso do futuro presidente durante a COP27, no Egito, os “arquitetos” do Real alertam para a possibilidade de a postura de Lula criar problemas que dificultem no enfrentamento dos problemas sociais.
“Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres”, defenderam, na carta.
Inflação, dólar e mercado
O texto traz para o mundo real as ligações não tão óbvias entre a importância de se construir um governo responsável e o bom andamento da economia. Fraga, Macha e Malan lembram que a queda da bolsa e a disparada do dólar não são fruto de uma atitude vingativa do mercado, ou de uma sanha especuladora dos investidores, e sim um sinal de alerta quanto às perspectivas para o país.
“A alta do dólar e a queda da Bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados. A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social, para já ou o quanto antes. […] É preciso que se entenda que os juros, o dólar e a Bolsa são o produto das ações de todos na economia, dentro e fora do Brasil, sobretudo do próprio governo”, explicaram os economistas.
A carta recupera o fato de que o Brasil é um dos países com os juros mais elevados do mundo, seja porque ainda é percebido com desconfiança por credores (e o discurso de Lula só piora essa percepção), seja porque frequentemente a economia local é afetada pela inflação elevada.
Tudo isso, dizem os membros do Plano Real, afeta o custo do crédito e leva a uma depreciação da moeda local, o que, em última instância, alimenta a inflação e enxuga os salários.
“É preciso que não nos esqueçamos que dólar alto significa certo arrocho salarial, causado pela inflação que vem a reboque. Sabemos disso há décadas. Os sindicatos sabem”, alertaram, no texto publicado hoje.
Por fim, os economistas fazem uma crítica à falta do senso de prioridade do governo. Eles lembram que a regra do teto de gastos foi constituída para obrigar o governo a estabelecer áreas prioritárias, ao construir o orçamento dos anos seguintes. O “furo” no teto é sinal de que esse exercício não foi feito pelos governos anteriores e deveria ser praticado pela administração de 2023.
“Por que falta dinheiro para áreas de crucial impacto social? Porque, implícita ou explicitamente, não se dá prioridade a elas. Essa é a realidade, que precisa ser encarada com transparência e coragem. O crédito público no Brasil está evaporando. Hora de tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça”, finalizaram os economistas.